Papa Francisco recebe mulheres indígenas da Amazônia. Foto: Vatican News
O Papa Francisco teve diversos encontros significativos com povos indígenas durante o seu pontificado, demonstrando um compromisso com continuo com causas e culturas menos favorecidas.
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Nos últimos anos em vida, o Papa demonstrou preocupação com a Amazônia. Além de ter escrito diversos documentos que falam sobre o bioma e a sua importância para a preservação do planeta, ele também convocou um sínodo para debater a evangelização na região.
Em audiência histórica para a Igreja na Amazônia, a maior autoridade religiosa se encontrou com três mulheres indígenas, reconhecidas no Peru, pela sua liderança eclesial e sociocultural.
Patricia Gualinga e Ir. Laura Vicuña, vice-presidentas da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) e Yesica Patiachi, vice-presidenta da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) foram recebidas em audiência pelo Papa Francisco em 1º de junho de 2023.
As três indígenas amazônicas enviaram uma carta, entregue pessoalmente ao “vovô Francisco” pelo cardeal Pedro Barreto, presidente da CEAMA. Nela pediam um diálogo presencial entre as três representantes indígenas e o Papa, para fortalecer os caminhos de comunhão e unidade.
Três dias depois, a Prefeitura da Casa Pontifícia enviou à Ir. Laura, Patricia e Yesica confirmando que seriam recebidas pelo Papa Francisco.
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Yesica Patiachi
Escritora, pesquisadora, pintora e educadora do povo Harakbut, Yesica Patiachi Tayori nasceu na comunidade indígena de San José del Karene, no Departamento de Madre de Dios, no Peru.
Formada em Educação pelo Instituto Superior Pedagógico Público de Puerto Maldonado. Em 2015 o Ministério da Educação publicou seu livro “Relatos Orales Harakbut” e em 2019 “El gallinazo y el jaguar”. Ambos são textos bilíngues, em harakbut e espanhol, sendo as primeiras publicações escritas nesta língua por uma mulher indígena do mesmo povo, e traduzidas para o espanhol por ela mesma.
Participou da elaboração de livros de trabalho em Harakbut para o Ministério da Educação para estudantes que falam esta língua. Esteve como especialista em Educação Intercultural Bilíngue (EIB) na Diretoria Regional de Educação do Departamento de Madre de Dios, e Coordenadora Regional de Qualidade da Gestão Escolar do Ministério da Educação.
Em janeiro de 2018, durante a visita do Papa Francisco à cidade de Puerto Maldonado, realizou o discurso, em nome dos povos indígenas, falando da dura realidade socioambiental que enfrenta a Amazônia e seus povos. Em outubro de 2019 participou ativamente do Sínodo Amazônico como auditora.
Atualmente trabalha como professora do ensino médio, em Puerto Maldonado, e é uma das vice-presidentas da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM).
Ir. Laura Vicuña
Laura Vicuña Pereira Manso, indígena do povo Kariri, nasceu em Porto Velho, Rodônia. É filha de pais migrantes e vem de um significativo processo de autoafirmação de sua identidade indígena. Religiosa da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, é formada em antropologia, especialista em psicologia social e mestre em linguística indígena.

Atuou pastoralmente junto a diversas comunidades da Amazônia brasileira e peruana. Atualmente atua no Conselho Indigenista Missionário (CIMI), na defesa da Amazônia, dos seus povos e da casa comum, especialmente com o povo Karipuna. Participou do Sínodo da Amazônia em 2019 e é vice-presidenta da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA).
Esteve em diversos espaços da ONU em Nova York e Genebra, Fórum Permanente dos Povos Indígenas, para incidir diretamente e denunciar a violação dos direitos indígenas e da Amazônia.
Contribuiu com relatórios antropológicos para a identificação étnica e demarcação territorial dos povos Guarasugwe e Cassupá. Realizou estudo linguístico junto a sábios e avós indígenas das línguas Sabanê, Kwazá e Guarasugwe e publicou vários artigos sobre a Amazônia e o Serviço da Mulher na Amazônia.
Patricia Gualinga
Patricia Gualinga Montalvo, do povo Kichwa de Sarayaku, na Amazônia equatoriana, é uma renomada defensora dos direitos humanos e da casa comum.
Ao longo de sua vida, Patricia se dedicou, seguindo o exemplo de seus pais e sábios, a proteger sua comunidade das violações de direitos humanos causadas principalmente pela exploração de petróleo e pela militarização.
Em 2012, foi testemunha perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos em um caso histórico apresentado em 2002 sobre os impactos da exploração de petróleo em sua comunidade, que terminou com a decisão do tribunal em favor do povo de Sarayaku.
Participante de vários espaços nacionais e internacionais de incidência, recebeu importantes reconhecimentos internacionais, incluindo em 2019, o Prêmio Brote Activismo Medioambiental, na Espanha; em outubro de 2021, o prêmio de coragem e liderança ALNOBA, nos EUA; em dezembro de 2021, o Prêmio Al Moumin de Direitos Humanos; e, recentemente, em 2022, o Prêmio Olof Palme de Direitos Humanos, por sua liderança na luta pela melhoria das condições de vida dos povos indígenas.
Atualmente, apoia e lidera o coletivo “Mulheres Amazônicas”, dedicado à proteção do meio ambiente, dos povos indígenas, das mulheres e direito à terra. Participou ativamente do Sínodo da Amazônia, em 2019, e é uma das vice-presidentas da CEAMA – Conferência Eclesial da Amazônia.
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Este encontro, para elas e quem representam, foi um passo significativo, incluindo mulheres e leigos rumo aos novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral nas comunidades eclesiais amazônicas.

“Sem dúvida, nós mulheres estamos presentes em inúmeras comunidades, estimulando e motivando as pessoas para que não percam a fé e o sentido da vida. Mas o serviço que prestamos à Igreja não é reconhecido, gerando tensões que poderiam ser superadas com o reconhecimento de novos ministérios para as mulheres de acordo com a urgência da realidade sociopastoral da Igreja na Amazônia”.
De um belo processo de escuta pessoal e coletiva, as mulheres levaram consigo uma carta de partilha e clamores que os povos indígenas e a Igreja amazônica vivenciaram nos últimos anos ao semear a semente por uma Igreja sinodal e ministerial, e na defesa da vida dos povos e seus territórios.
Como CEAMA e REPAM celebramos este encontro, que continuará fortalecendo as raízes semeadas pelo Sínodo da Amazônia, por uma Igreja em saída, samaritana e servidora, como o Papa pediu.
*Com informações do Vatican News
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