O lobo-cinzento é um dos maiores predadores do reino animal. É aparentado dos cachorros e das raposas, mas muito mais possante. Pode medir 85 cm até o ombro e pesar 80 kg, além de acelerar a 70 km/h. Muito bem equipado para regular os números de presas como veados, cervos, alces e javalis.
Versáteis pela própria natureza, o Canis lupus e suas subespécies ainda vivem livres em regiões da América, Ásia e Europa. Nesta última, foi um dos animais que ganharam mais espaço na carona do controle da caça com armas, mais áreas protegidas e do “rewilding”, nome chique da restauração de ambientes e vida selvagens.
Em parte do chamado “velho continente”, a espécie convivia ainda melhor com pessoas e suas economias em países como Itália, Romênia, Portugal e Espanha.
Tudo indicava que essa convivência seguiria com passos firmes rumo ao futuro, até que um lobo cumpriu sua programação natural e deu cabo de Dolly, um pônei que pertencia à família de Ursula Gertrud von der Leyen, presidente da União Europeia.
O ataque ocorreu há três anos e, desde então, a também ex-ministra da Defesa da Alemanha se tornou uma das principais vozes e articuladoras para enfraquecer normas que resguardavam o animal do tiroteio, gentilmente chamado de “manejo”. Se isso passar pela Comissão Europeia, grupo que dá as cartas políticas do bloco econômico, refletirá nas legislações de cada país.
A situação geral tem seus anabolizantes, claro. Fontes de lá me contaram que os sentimentos “anti-lobo” foram vitaminados pela potente disseminação de notícias sensacionalistas sobre o pet atacado pelo “lobo mau”, e que von der Leyen foi pessoalmente a países que não eram a favor do abate buscando mudar suas posições, como a Polônia.

Contudo, a possibilidade de constranger a conservação do predador não passou em branco e já colheu reações em ao menos em 18 países europeus. A mobilização se estriba em centenas de organizações não-governamentais, cientistas, ativistas e simpatizantes da espécie. Saiba mais aqui.
Tal mobilização não é gratuita e nem baseada em sentimentos irracionais. A campanha lembra que o lobo cinza é um protagonista indispensável para manter a saúde dos ecossistemas naturais, a biodiversidade e reduzir impactos econômicos de outros animais que podem se reproduzir descontroladamente, como o javali. O Brasil sabe bem dos estragos que sua multiplicação pode causar.
Não bastando, a campanha de entidades europeias ressalta que investir mais no abate e menos em coexistência será um desastre para as populações de lobos e não reduzirá os conflitos, pois os tiros desorganizam e espalham as matilhas, forçando sobretudo os animais jovens e inexperientes a buscar presas fáceis, como o pônei da Ursula.
Ainda mais certeiros, os professores de Direito Ambiental e de Conservação da Natureza Floor Fleurke e Arie Trouwborst, da Universidade de Tilburg (Holanda), avaliam num longo artigo no blog European Law que atirar em alguns lobos por ressentimentos pessoais nada resolverá, mas que eles se tornaram irresistíveis “bodes expiatórios e distrações dos problemas reais”.
“É difícil não ver [na proposta que pode ser aprovada na União Europeia para reduzir a proteção geral dos lobos cinzentos] uma escolha consciente e politicamente motivada para sacrificar a ciência, a lógica, a ética e a lei, a fim de apaziguar a população europeia que está, mais uma vez, uivando por sangue de lobo”.
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