Foto: Reprodução/Acervo Iphan
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), comunicou no dia 22 de janeiro que está em trâmite o processo administrativo referente à proposta de registro do Kene Kuĩ, grafismos do povo Huni Kuĩ, como Patrimônio Cultural do Brasil. O objetivo do comunicado é permitir que a sociedade apresente, no prazo de 30 dias, manifestações sobre o bem cultural.
A sociedade pode se manifestar sobre o pedido de registro até o dia 21 de fevereiro de 2025. As manifestações devem ser encaminhadas para o endereço eletrônico dpi@iphan.gov.br ou enviadas como correspondência para o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural – Presidente – SEPS 702/902, Centro Empresarial Brasília 50, Bloco B, Torre Iphan, 5º Andar – Brasília – Distrito Federal – CEP: 70390-135.
Finalizado o prazo para manifestação, o processo será encaminhado para análise do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado de decisão máxima do Iphan para os processos de reconhecimento do Patrimônio Cultural do Brasil.
O povo Huni Kuĩ é originário da Amazônia Ocidental, na fronteira entre o Brasil e o Peru. Atualmente, habitam o estado do Acre e sul do Amazonas. O Kene Kuĩ é um conjunto de conhecimentos técnicos e rituais, materiais e imateriais, que envolvem a produção de padrões gráficos realizados pelo povo Huni Kuĩ.
Suas produções envolvem tecelagem, cestaria, pintura corporal, cerâmica, produção de redes e miçangas, entre outros objetos, representando a conexão entre os Huni Kuĩ e seus conhecimentos ancestrais. Mais do que uma manifestação artística, o Kene é considerado uma linguagem visual que incorpora saberes sobre o universo cosmológico, as relações sociais, as práticas rituais e os modos de vida do povo Huni Kuï.
Os grafismos dos Kene possuem uma unidade estilística inconfundível, marcada por uma estética que equilibra simetria e assimetria, figura e fundo, e utiliza padrões geométricos elaborados que narram histórias e refletem uma cosmologia rica e complexa. Tradicionalmente, a produção do Kene é realizada majoritariamente por mulheres, que desempenham o papel de “aïbu keneya” (mestras do desenho), transmitindo os saberes por meio de práticas orais, cânticos e rituais. O aprendizado dos Kene inclui também a observação e a relação com os “yuxibu” (seres da floresta), que inspiram e guiam a criação gráfica.
O pedido de registro do Kene foi feito ao Iphan no ano de 2006, por meio do documento assinado por 127 representantes de comunidades e organizações indígenas do povo Huni Kuĩ (Kaxinawá), como a Associação dos Produtores Kaxinawá da Aldeia Paroá (APROKAP), a Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira (OPIRE); a Associação dos Seringueiros, Agricultores e Artesãos Kaxinawá de Nova Olinda (ASPAKNO); a Organização do Povo Huni Kuĩ do Alto Purus (OPIHARP) e a Federação do Povo Huni Kuĩ do Acre (FEPHAC).
Antes mesmo do pedido de registro junto ao Iphan, os Huni Kuĩ já haviam realizado pesquisas sobre o Kene Kuĩ com o apoio de organizações indigenistas, produzindo uma vasta documentação financiada por meio de editais de fomento à cultura ao longo dos anos. Ainda assim, havia a demanda pelo reconhecimento e salvaguarda deste patrimônio, que se encontrava em desuso entre os jovens indígenas de algumas aldeias, ao mesmo tempo em que os usos considerados indevidos se expandiram.
Foi nesse contexto que o pedido de registro do Kene foi discutido e solicitado pelo povo Huni Kuĩ. Foi destacado, no pedido de registro, que o Kene Kuĩ é uma das principais referências identitárias para o povo Huni Kuĩ, havendo a necessidade de se garantir o reconhecimento deste bem cultural enquanto conhecimento tradicional.
*Com informações do Iphan
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Portal Amazônia e são de total responsabilidade do autor.
Ver post do Autor