No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, nós tivemos pouco a comemorar e muito a refletir. Em um país em que, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, a cada oito minutos uma mulher sofre violência sexual, psicológica, patrimonial e/ou violência de assédio moral, ter que assistir Daniel Alves, um homem conhecido no mundo do futebol, ser liberto, mesmo que em outro país, após cometer um crime de agressão sexual simplesmente porque foi definido que havia um preço e ele tinha dinheiro para bancar sua liberdade, é deprimente.
Por outro lado, podemos ver que há uma pressão da sociedade para que a violência contra mulheres seja combatida cada vez mais. E é importante o fortalecimento de todas nós, em dar as mãos e dizer basta! Não é mais possível que no século em que vivemos, com tantos avanços em inúmeras frentes sociais, continuemos a viver em uma realidade com estatísticas tão alarmantes como essas.
É nesse contexto que a gente vê as mulheres da Amazônia mais profunda se unindo e se fortalecendo. Foi a partir dessa união que, em março de 2023, consolidamos a Rede das Mulheres das Águas e da Floresta (REMAF). A rede tem como principal objetivo dar voz às mulheres e trazê-las para um ambiente onde elas sejam visibilizadas, empoderadas, tenham vez, reivindiquem e, acima de tudo, criem um espaço onde elas possam trazer à tona toda sua insatisfação sobre esses cenários de violência que a gente vivencia, e que precisamos refletir muito sobre, porque, de fato, não é possível e é inaceitável que ela perdure e siga nos vitimando.
Precisamos olhar com muita indignação e com ações combativas, porque, de fato, as mulheres têm contribuído muito para o desenvolvimento de suas comunidades e municípios e Brasil como um todo. Mas por outro lado, a gente se entristece com histórias como a de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018, cuja investigação do caso demorou 6 anos até a descoberta dos mandantes de sua execução. E, no penúltimo domingo de março, mês da mulher, veio à tona toda essa realidade. Esse crime demonstra que, muitas vezes, quando uma mulher ocupa lugar de destaque e de cobrança por injustiças, ela incomoda. E àqueles que deveriam proteger a sociedade, muitas vezes estão alinhados com essa violência e fazendo pouco esforço para que os casos sejam elucidados.
Digo com convicção que nós mulheres seguiremos, de cabeça erguida, porque essa realidade só irá mudar quando todas, não apenas algumas, dizermos chega! E não basta falar, é preciso de atitudes, ocupar espaços, avançando para a linha de frente, e dizendo que: “para nós, mulheres, o tempo é outro”. Chegou o tempo de nos respeitarem, nos tratarem como pessoas que ocupam posições e que fazem diferença nessa sociedade, infelizmente ainda machista e sexista. Todos nós precisamos também, em um esforço coletivo enquanto sociedade, educar nossos filhos sobre a importância do respeito e valorização de todas as mulheres.
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