Foto: Gabriel Penha/GEA
Em meio ao som dos tambores, das caixas de marabaixo e dos cânticos que ecoam tradições centenárias, o Cortejo da Murta emerge como um dos momentos mais emblemáticos e sagrados do Ciclo do Marabaixo, celebrado no Amapá. A cerimônia, que une fé, cultura e ancestralidade, transforma as ruas de Macapá em um verdadeiro espetáculo de devoção e identidade.
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O cortejo gira em torno da murta — uma planta aromática, de origem mediterrânea e africana, que encontrou solo fértil e significado profundo nas terras amapaenses. Com folhas verde-escuras e flores brancas de aroma adocicado, a murta (do gênero Myrtus) é símbolo de paz e renovação.
Segundo a tradição bíblica, foi uma planta entregue por uma pomba a Noé para anunciar o fim do dilúvio, carregando consigo o espírito de esperança e vida nova.
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No Ciclo do Marabaixo, há dois momentos dedicados ao Cortejo da Murta. O primeiro ocorre no bairro do Laguinho, em homenagem ao Divino Espírito Santo. O segundo é promovido pela tradicional família de dona Dica Congó, no Curiaú, celebrando a Santíssima Trindade. Em ambos, a cerimônia segue um rito carregado de emoção: homens e mulheres partem em cortejo para buscar o mastro nas terras da Área de Preservação Ambiental do Curiaú, onde a murta cresce em abundância.
O mastro, uma robusta árvore retirada cuidadosamente da mata, é então revestido com ramos de murta. Essa preparação simboliza a unificação entre o humano, a natureza e o divino. Em frente aos barracões dos grupos de Marabaixo, o mastro enfeitado é erguido em meio a cânticos tradicionais, em honra ao Espírito Santo. O momento é de festa, mas também de respeito e gratidão pelas bênçãos recebidas.
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A tradição estabelece que o mastro permaneça erguido até o ‘Domingo do Senhor’, marcando o encerramento oficial das festividades do Marabaixo. Na data, o mastro é solenemente derrubado, encerrando um ciclo de fé que atravessa gerações.
Mais do que um simples ritual, o Cortejo da Murta é a expressão viva da resistência e da herança afro-brasileira no Amapá. Cada folha, cada cântico, cada passo do cortejo carrega a memória dos antepassados e reafirma o compromisso das novas gerações em manter viva uma história que pulsa no coração do povo.
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