O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), por meio do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes ou Negligenciados, em parceria com diversas instituições, realizou a caracterização genômica e epidemiológica do surto do vírus Oropouche (OROV) que vem acontecendo desde 2022. O OROV é endêmico da Região Amazônica e tem registrado surtos no Brasil desde a década de 70.
A infecção pelo OROV causa sintomas semelhantes aos da dengue, podendo também causar encefalite. De acordo com o virologista e pesquisador da Fiocruz, Felipe Naveca, coordenador do Núcleo, foram analisadas 75 amostras coletadas entre dezembro de 2022 e janeiro de 2024, para as quais foi realizado o sequenciamento completo do genoma do vírus.
“O LACEN (Laboratório Central) de Roraima deu o primeiro alerta para esse surto de Oropouche, em seguida foram detectados casos confirmados pelo exame de RT-PCR no Amazonas, Rondônia e Acre. No início de 2023, tivemos um pico de casos nesses estados, e, no final novembro, um forte aumento no Amazonas e no Acre. Por isso, desenvolvemos o protocolo para o sequenciamento viral e, até o momento, sequenciamos 75 amostras de 18 cidades desses quatro estados. Com a análise genômica, mostramos que esse vírus é descendente de um OROV que circulou em 2015 em Tefé e surgiu depois de eventos sucessivos de rearranjo viral. Também é uma satisfação ver que o protocolo de diagnóstico molecular que desenvolvemos anos atrás, com financiamento do Programa de Infraestrutura para Jovens Pesquisadores – Programa Primeiros Projetos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazona (PPP FAPEAM), foi usado em todos os casos agudos confirmados até agora”, salienta Naveca.
Em artigo publicado pela Virological.org, intitulado ‘O surgimento de um novo vírus Oropouche recombinante impulsiona surtos persistentes na região amazônica brasileira de 2022 a 2024’, Felipe Naveca e colaboradores apontam que o vírus Oropouche (OROV) é um patógeno transmitido no ciclo urbano principalmente por insetos conhecidos como maruim.
No entanto, estudos apontam que mosquitos do gênero Culex também podem transmitir o vírus. No ciclo silvestre, mosquitos como o Aedes serratus e Coquillettidia venezuelensis podem atuar como vetores, tendo mamíferos como preguiças e primatas não humanos como reservatórios principais. Nos últimos 70 anos, pelo menos 30 surtos humanos de OROV foram relatados em países latino-americanos (Brasil, Peru, Colômbia, Guiana Francesa e Panamá). Devido ao ressurgimento recorrente de OROV nas populações humanas da região amazônica e ao aumento notável na incidência e distribuição geográfica das infecções relatadas por OROV nos últimos anos, é considerado um dos arbovírus emergentes de maior risco para a população.
Até a emergência dos vírus Chikungunya (CHIKV) e do Zika (ZIKV) no Brasil, entre 2014-2015, o OROV era o arbovírus com maior incidência no Brasil, superado apenas pelo vírus da dengue (DENV). O maior surto documentado de OROV no país foi relatado no final da década de 1970, onde as estimativas apontam para mais de 100.000 casos humano, mas o verdadeiro fardo da doença induzida pelo OROV permanece desconhecido por falta de uma vigilância sistemática. Entre janeiro de 2022 e janeiro de 2024, o OROV foi o segundo arbovírus mais frequentemente detectado na Amazônia, superado apenas pelo DENV.
São instituições parceiras desse projeto: Fundação de Vigilância em Saúde Dra. Rosemary Costa Pinto, Laboratórios Centrais de Saúde Pública do Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima, Núcleo de Doenças de Transmissão Vetorial do Acre, Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Instituto Carlos Chagas (ICC-Fiocruz), Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), Fiocruz Rondônia e Universidade Federal do Espírito Santo, Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas, Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, Instituto Evandro Chagas, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA/MS) e Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública do Ministério da Saúde.
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