Medalha de prata do time brasileiro coloca novamente a modalidade em destaque e dá esperanças para a próxima Copa do Mundo, que será disputada no Brasil e com jogos em Manaus (Foto Luiza Moraes/COB).
Manaus (AM) – Após 16 anos sem subir ao pódio olímpico, as jogadoras da Seleção Brasileira de Futebol Feminino retornam para casa com a medalha de prata conquistada nos Jogos Olímpicos de Paris. Com um gol de Mallory Swanson aos 12 minutos do segundo tempo, os Estados Unidos levaram o ouro olímpico, mas o resultado não diminuiu o brilho da campanha brasileira. O resultado sinaliza uma evolução contínua da modalidade, ganhando cada vez mais adeptos e visibilidade em todo o País. E falando em território nacional, a próxima grande competição será a Copa do Mundo de 2027, que ocorrerá no Brasil, com Manaus como uma das cidades-sede.
A torcida pela Seleção Brasileira foi intensa. No município de São Gabriel da Cachoeira, a 852 quilômetros de Manaus, Edneia Teles, fundadora do Campeonato Feminino de Futebol local e do time 100tenárias, acompanhou cada minuto da partida com as amigas da rede Jogue Como Uma Garota, da qual Edneia, indígena do povo Arapaso, é embaixadora.
“Somos amantes do esporte desde a infância. E a gente sempre está com a Seleção Brasileira, independentemente de vitórias ou derrotas. Sofremos junto, né? Somos mulheres guerreiras, sabemos que estar dentro de campo não é fácil, especialmente representando o Brasil no mundo todo. A Seleção Brasileira feminina fez a sua parte”, afirmou Edneia.
Para a indígena do povo Arapaso, todos sonham com a medalha de ouro, mas sair com a prata após 16 anos sem medalhas é reconfortante. “Essa medalha nos deu esperança de que o futebol feminino precisa continuar firme, vivo. O segundo lugar já nos deixa felizes”, pontuou. E, claro, não faltou emoção durante a partida. “Quando estávamos assistindo ao jogo, não faltou gritaria, não faltaram lágrimas (…) e vamos estar sempre juntas com a Seleção.”
Para Edneia, o resultado servirá como um grande aprendizado. “Não só para a Seleção Brasileira, mas para nós também, que estamos no interior do Amazonas, onde muitas meninas sonham em estar na Seleção Brasileira. Isso nos serve como exemplo. Esse sonho não pode ser apagado”, finalizou.
Direto de Paris
Reprodução das redes sociais de Gabi, que acompanhou a final em Paris.
Gabi, artilheira do Instituto 3B, em Manaus, e parte do time desde sua fundação há oito anos, acompanhou a final olímpica diretamente do Parque dos Príncipes, em Paris, estádio do Paris Saint-Germain (PSG). “É uma experiência incrível assistir a uma final de futebol feminino, ainda mais com a Seleção Brasileira. Fiquei muito feliz em ver isso”, comentou para a Amazônia Real.
A atacante também analisou o desempenho na final. “A Seleção começou bem o jogo, com várias oportunidades, mas não conseguiu converter em gol. No segundo tempo, o jogo ficou mais equilibrado, e os Estados Unidos marcaram o gol e mantiveram o placar”, avaliou.
Gabi conhece bem a emoção de defender as cores do Brasil. Ela já disputou três edições do Mundial Universitário, duas vezes na China [em Taipé e Jing Jang] e outra na Itália. Para ela, a medalha conquistada em Paris trará mais motivação para a próxima Copa do Mundo. “Vai ajudar muito, até porque a Seleção foi vice-campeã de uma Olimpíada, então isso dá força ao futebol feminino.”
Rumo à Série A1
Para Iara Catunda, vice-presidente de futebol feminino do Manaus FC, que disputa atualmente o Campeonato Amazonense de Futebol Feminino, conhecido como “Barezão delas”, a Seleção merecia mais. “Acho que merecíamos mais pela dedicação. Porém, voltar ao cenário competitivo é importante. Arthur [Elias, técnico da Seleção] nos devolveu a competitividade. Hoje, pudemos [jogar] com chances reais, não apenas por torcer. A reformulação da Seleção, com atletas jovens e competentes, nos permitiu jogar de igual para igual com um time muito bom tática e tecnicamente”, opinou.
Para muitas meninas, vestir a camisa de um clube ainda é um sonho distante. Para outras, a vida no futebol já é uma realidade sólida. A lateral-direita Giselinha, do Instituto 3B, conquistou este ano o acesso à Série A1 do futebol feminino (primeira divisão da modalidade) e ainda levou o vice-campeonato brasileiro da Série A2.
Para Giselinha, a modalidade está em evolução. “Conseguimos voltar ao pódio (olímpico) depois de 16 anos. Na primeira fase, não fomos tão bem, mas conseguimos eliminar as donas da casa [França] e a Espanha [atual campeã da Copa do Mundo], que é uma potência no futebol feminino. Estamos em constante evolução. As meninas estão de parabéns pela campanha histórica, e acredito que daqui para frente vamos nos preparar ainda mais para a Copa do Mundo, que será no Brasil, dentro de casa”, comentou.
A lateral pede mais apoio ao futebol feminino. “Queremos o apoio da CBF, dos órgãos do futebol, para que eles nos deem mais estrutura, mais visibilidade na mídia e que possamos atrair mais público, porque isso é muito importante para nós que jogamos futebol.”
A Rainha Marta
O jogo deste sábado (10) marcou a despedida da Rainha Marta dos Jogos Olímpicos. Ela disputou seis edições do torneio e participou das três finais disputadas pelo Brasil: Atenas-2004, China-2008 e Paris-2024.
Em entrevista ao Globo Esporte, a maior jogadora de todos os tempos do futebol brasileiro, seis vezes a melhor do mundo, disse que a campanha da Seleção ajudou a resgatar o orgulho pela modalidade. “Agora é dar continuidade a esse trabalho, porque o mais importante, e que é o que eu acredito hoje, é o resgate que fizemos, do orgulho, das pessoas falarem do futebol feminino, de acreditarem mais no futebol feminino”, afirmou.
Para Marta, o foco agora é a Copa do Mundo no Brasil, em 2027. “Temos uma Copa do Mundo para jogar em casa. Precisamos manter essa motivação. Essas meninas têm muito mais a oferecer. Eu não estarei com elas dentro de campo, mas estarei de alguma forma, acompanhando, dando suporte e torcendo como fiz nos jogos passados”, concluiu.
O brilho das mulheres brasileiras
Rebeca Andrade (Foto: Eugênio Sávio) e Beatriz Souza (Foto: Miriam Jeske/COB)
Nos Jogos Olímpicos de Paris, as mulheres brasileiras foram protagonistas. Das 20 medalhas conquistadas pelo Brasil, 12 foram conquistadas por elas. A ginasta Rebeca Andrade foi a grande estrela brasileira, com quatro medalhas na ginástica: ouro no solo, prata no individual geral, prata no solo e bronze por equipes. Com as medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos de Tóquio [prata no individual geral] e ouro no salto, ela se tornou a brasileira com mais medalhas conquistadas em Jogos Olímpicos [seis].
A judoca Beatriz Souza também brilhou em Paris, conquistando a única medalha de ouro do judô brasileiro. A dupla Duda/Ana Patrícia levou medalha de ouro no vôlei de praia. Tivemos ainda a inédita medalha feminina no surfe, com a prata de Tatiana Weston-Webb, e a skatista Rayssa Leal também conquistou medalha no Skate Street.
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