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ToggleNão fica só nas 63 árvores cortadas. Os impactos da realização da prova da Stock Car no entorno do estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, também podem afetar pesquisas em andamento no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dizem professoras da instituição ouvidas por ((o))eco. O circuito da corrida passará em frente à universidade, com os carros emitindo ruídos de até 110 decibéis a poucos metros do Hospital Veterinário e do Biotério Central da universidade, onde são criados animais usados em testes de laboratório para pesquisas comportamentais, medicamentos e vacinas. Ratos de laboratório, muito sensíveis a ruídos, correm risco de morte, o que atrasaria pesquisas importantes.
A corrida, prevista em contrato para os próximos 5 anos, foi classificada pela prefeitura como um evento, não um empreendimento – o que exigiria licenças ambientais e estudos de impacto. Nessa modalidade mais permissiva, regida pela lei municipal 9.063/05, a autorização passa apenas pela Secretaria Municipal da Coordenação de Gestão Regional (da Pampulha, de acordo com a localização deste evento). Além disso, para o corte das árvores, foi necessária autorização do Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMAM), após recomendação de técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente que elaboraram pareceres com argumentos contrários aos pedidos de supressão feitos pela prefeitura e pela Minas Arena, concessionária do estádio Mineirão. O COMAM, vale lembrar, deliberou apenas sobre o corte das árvores, e não sobre a realização do evento em si.
Segundo o texto da lei, um evento é considerado um “acontecimento institucional ou promocional, comunitário ou não, previamente planejado com a finalidade de criar conceito e de estabelecer a imagem de organizações, produtos, serviços, idéias e pessoas cuja realização tenha caráter temporário e local determinado”.
O regramento para a autorização de empreendimentos de impacto, por sua vez, é diferente. O decreto municipal 17.266/20 disciplina o processo de licenciamento nas situações especificadas pelo Plano Diretor da cidade – que citam a necessidade de licenciamento ambiental pelo COMAM de “autódromos, hipódromos e estádios esportivos”, segundo trecho do artigo 344, e que causem “intervenções viárias significativas”, pelo artigo 345. Além do corte das árvores, a realização da Stock Car demandará outras intervenções permanentes, como o recapeamento do asfalto e a retirada de canteiros centrais, postes, pontos de ônibus, quebra-molas e passagens elevadas de pedestres nas avenidas por onde passará o circuito.
Pela lei que rege os eventos na cidade, a Comissão Permanente de Eventos de Belo Horizonte (COPE-BH) poderá autorizar a emissão de ruídos acima dos níveis máximos permitidos por lei na cidade – 70 decibéis pela manhã e 60 decibéis à tarde, períodos em que costumam acontecer, respectivamente, os treinos e a corrida principal da Stock Car. Um carro utilizado na modalidade pode emitir ruídos de até 110 decibéis – tão altos quanto o de uma turbina de avião – o que causou, em 2019, a emissão de uma multa pela prefeitura de Curitiba, culminando na saída da competição da capital paranaense.
O problema é que ruídos tão altos podem ter graves efeitos sobre pesquisas realizadas a poucos metros dali, no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Segundo a professora Grace Schenatto, que realiza pesquisas sobre memória com uso de ratos de laboratório, esses animais são extremamente sensíveis ao barulho, e sons de cerca de 80 decibéis já podem desencadear neles crises convulsivas. “Isso pode levá-los até mesmo à morte”, frisou a professora. “Pode ser que tenhamos que substituir colônias inteiras”, alertou, estimando que esse cenário poderia causar um atraso de até 2 anos nas pesquisas em andamento.
Além disso, os altos ruídos poderiam também inviabilizar pesquisas mesmo em caso de sobrevida dos animais, segundo Schenatto. As alterações fisiológicas causadas pelo estresse a que eles estariam sujeitos podem torná-los incompatíveis com os parâmetros de um grupo de controle, por exemplo, enviesando os resultados e prejudicando pesquisas sobre alzheimer, medicamentos antidepressivos e outros estudos relacionados ao cérebro. Os roedores utilizados nas pesquisas, sejam ratos ou camundongos, têm hábitos noturnos, dormindo durante o dia. A corrida, portanto, pode deixá-los em privação de sono.
A professora citou ainda os impactos sobre os pós-graduandos, maiores responsáveis pela produção científica da universidade. “Um mestrado dura 2 anos, um doutorado dura 4 anos. Um atraso pode fazer com que não defendam suas pesquisas a tempo”, advertiu. Isso causaria a “perda da bolsa ou a entrega de um trabalho ‘mais ou menos’”, disse.
Com os animais fornecidos pelo Biotério Central, que abastece toda a UFMG, são realizadas ainda, atualmente, pesquisas com vacinas contra a covid-19 e a dengue, por exemplo. Mas a situação atual já não é ideal para os pesquisadores, diz Schenatto. Segundo ela, a solicitação de um animal para pesquisas chega a levar 3 meses para ser atendida, o que faz com que a universidade perca competitividade – situação que pode se agravar com os impactos causados pela corrida.
“O ruído intenso e a vibração gerados pelos carros da Stock Car podem alterar os parâmetros fisiológicos, reprodutivos e comportamentais dos animais de laboratório, como já demonstrado por vários trabalhos na literatura, causando estresse e consequentemente comprometendo a confiabilidade dos resultados das pesquisas”, corrobora Débora D’Ávila, também professora do ICB. “Isso pode levar a conclusões equivocadas e impactar negativamente o avanço e a qualidade das pesquisas desenvolvidas”, afirmou.
Os impactos de altos ruídos sobre os roedores, como disseram as professoras, já foram objeto de diversos estudos. De acordo com uma dissertação de mestrado defendida em 2012 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por exemplo, a exposição de ratas wistar (variedade utilizada em laboratório) a ruídos entre 84 e 110 decibéis – exatamente o emitido por carros da Stock Car – durante a gestação causam problemas variados, como o maior surgimento de filhotes natimortos, ninhadas menores e dificuldades na amamentação, o que causa baixo peso nos filhotes.
De acordo com o Guia Brasileiro de Produção, Manutenção ou Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou Pesquisa Científica, publicado pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), “humanos, ratos e camundongos podem tolerar [ruídos de] até 85 db”. “No entanto, cobaias são mais sensíveis aos ruídos e 60 db é o máximo que podem tolerar, quando estes são constantes”, diz o documento. “Embora um ruído de fundo de no máximo de 85 db seja aceitável, foram relatadas alterações importantes em ratos expostos a um ruído intermitente de 83 db. A exposição a padrões uniformes pode levar a uma perda auditiva mais rápida, enquanto que a exposição a padrões irregulares está mais propensa a causar transtornos, devido a uma ativação repetida do sistema neuroendócrino”, alerta o guia.
A poluição sonora não afetará apenas os animais utilizados nas pesquisas da UFMG, mas também toda a fauna do entorno. A extensão dos impactos, porém, são desconhecidos, já que a modalidade à qual a corrida foi enquadrada, de “evento”, não prevê os estudos que poderiam medir com precisão as implicações à natureza. “Não teve estudo de impacto ambiental, então a gente não pode afirmar nada em relação a áreas verdes”, avalia Maria Auxiliadora Drumond, também professora do ICB.
“Se tivesse tido estudo de impacto ambiental, se tivesse tido licenciamento, relatórios de impacto, a gente poderia afirmar melhor isso”, afirmou, lembrando ainda que também não está previsto o monitoramento dos impactos por parte dos órgãos ambientais da cidade. “Só sabemos que essa poluição sonora fatalmente, empiricamente, afetará várias espécies da fauna silvestre em seu período reprodutivo, em atividades migratórias, em estresse por causa da poluição sonora”, disse Drumond. “A gente pode, e vai, tentar monitorar, caso o evento aconteça. Mas atualmente a gente não tem esses estudos, infelizmente”, completou.
A professora afirmou ainda que o corte das árvores no entorno do estádio também tem seus impactos, mas que a falta de estudos também não permite mensurá-los. “Certamente essa arborização urbana tem um grande valor como ‘trampolim’. A gente chama de ‘stepping stones‘, aqueles locais que a fauna usa para alcançar outras áreas. Então são áreas que são usadas pela fauna – nesse caso especialmente aves ou até mesmo pequenos mamíferos, como os micos – para alcançarem outras áreas verdes. Mas a gente não tem esses estudos, então vai fragmentando cada vez mais a região de Belo Horizonte. É isso, é uma tristeza”, lamentou.
Universidade já começou a ser diretamente afetada
Após a derrubada da liminar que chegou a proibir o corte de árvores para a realização da Stock Car no entorno do Mineirão e da UFMG, a administração de Fuad Noman (PSD) agiu rápido. Já às 4h da manhã, homens a serviço da prefeitura interditavam ruas e empunhavam suas motosserras contra as árvores. Foram ao chão as 46 árvores restantes, das 63 com corte autorizado pelo Conselho de Meio Ambiente de Belo Horizonte.
Para os servidores e estudantes da universidade, já foi um prenúncio de como podem ser os dias de Stock Car na região. Entre treinos e a corrida principal, o evento está previsto para acontecer neste ano entre os dias 15 e 18 de agosto – de quinta-feira a domingo. A interdição das avenidas do entorno causou um nó no trânsito que dificultou, e até mesmo impediu, a chegada das pessoas ao campus Pampulha da UFMG. “Ficou inviável chegar na universidade”, resumiu a professora Grace Schenatto, falando sobre as interdições. “Tive que dar meia-volta”, disse.
Naquele mesmo dia, a universidade divulgou nota criticando “o impedimento do livre direito de circulação de nossa comunidade”, e que isso “dá uma dimensão dos efeitos que a realização da corrida provocará nas nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão e na vida das pessoas que moram e se deslocam na região da Pampulha”. O corte das árvores “dá continuidade a um processo de degradação ambiental e urbanística da Pampulha, cartão-postal de Belo Horizonte, patrimônio cultural da Unesco e orgulho dos mineiros”, criticou a nota, alertando que “a UFMG tomará todas as providências cabíveis e que estiverem ao seu alcance para garantir os direitos e o bem-estar da comunidade universitária e da região”.
Sandra Goulart Almeida e Maurício Campomori, respectivamente reitora e diretor da Escola de Arquitetura da UFMG, publicaram artigo no site da universidade expressando sua “grande preocupação” com a realização da etapa da Stock Car na região. Reforçando que “a Universidade nunca se colocou em posição contrária à realização de corridas da Stock Car em Belo Horizonte nem mesmo questiona sua importância para a cidade ou para o estado”, Almeida e Campomori alertam que o local escolhido é “inadequado para a prova automobilística, considerados os enormes danos ambientais e os constrangimentos ao funcionamento de vastos setores da Universidade nos dias de preparação, treino e realização do evento, ao longo dos próximos cinco anos”.
“Sabemos que os impactos do evento na UFMG serão enormes, afetando não apenas as unidades mais sensíveis, como a área hospitalar na qual se localiza o Hospital Veterinário, os biotérios de criação de animais, a Estação Ecológica e o Centro Esportivo Universitário, bem como todas as atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade”, diz o texto.
“No caso específico do Hospital da Escola de Veterinária da UFMG, sua presença em área contígua à pista projetada é mencionada com preocupação em relatório ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Belo Horizonte, pois trata-se de uma instalação hospitalar que conta com ambulatórios, salas de cirurgia, setor de diagnóstico, necropsia, canil e estábulo para atendimento e internação de animais silvestres e domésticos de grande e pequeno porte. Nele são realizados cerca de 35 mil atendimentos por ano, e sua única via de entrada terá seu uso inviabilizado em todos os dias de realização de atividades relacionadas aos eventos”, frisam os autores.
No último dia 5, a universidade anunciou ter entrado com representação junto aos Ministérios Públicos estadual e federal contra a organização da corrida. A reitora Sandra Goulart Almeida afirmou, em ofícios ao procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior, e ao procurador da República Carlos Bruno Ferreira da Silva, que a universidade “não foi notificada formalmente sobre as datas da realização do evento e da programação de providências para bloqueio do seu entorno”, segundo nota da assessoria de imprensa da UFMG.
“A Universidade tomou conhecimento dos acordos pactuados para a realização do evento por meio da mídia”, comentou a reitora, que pediu para que os procuradores “tomem as medidas necessárias para apurar e combater os problemas relatados, que poderão implicar sérios prejuízos ao meio ambiente, às pessoas e aos animais da região e à própria instituição”, diz a nota.
Presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Municipal defende a corrida
Em entrevista ao programa Central 98, da emissora de rádio local Rede 98, no último dia 6, o vereador Ciro Pereira (PRD), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, minimizou os impactos ambientais causados pela Stock Car. O vereador, que tem assento e voto no Conselho de Meio Ambiente da cidade, preferiu frisar os benefícios econômicos trazidos pela corrida, mesmo que esse não seja o foco da comissão que preside.
“A Stock Car vai trazer mais de 2 mil empregos diretos na cidade de Belo Horizonte”, citou Pereira. “Aí vamos pensar: os hotéis vão estar cheios, os taxistas vão poder se beneficiar desse evento, motoristas de aplicativo, restaurantes, bares, ambulantes… então é um evento onde ajuda a economia da cidade. É um evento onde vai trazer dinheiro para dentro de Belo Horizonte”, reforçou. “Então a gente não pode perder essa oportunidade. Um evento que está sendo feito, sim, com total responsabilidade, e respaldado judicialmente”, defendeu o vereador.
Pereira agradeceu nominalmente o empresário Sérgio Sette Câmara, CEO da Speed Seven Participações Ltda, uma das organizadoras do evento na capital mineira. Como mostramos no início do mês, Sette Câmara chegou até mesmo a se reunir pessoalmente, no dia 21 de fevereiro, com o presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), José Arthur de Carvalho Pereira Filho, para convidá-lo a comparecer à corrida. Na semana seguinte à reunião, Pereira Filho cassou a liminar que proibia o corte de árvores para adequação das vias à realização da corrida.
“O Sergio Sette Câmara é alguém que tem arduamente trabalhado para que [a Stock Car] aconteça aqui em Belo Horizonte”, exaltou Ciro Pereira. “E sou muito grato a ele, porque um evento como esse só expõe Belo Horizonte para o mundo e nos coloca na rota econômica, porque Belo Horizonte vai girar entre R$ 250 a 300 milhões em 3 dias de evento [na verdade, serão 4 dias]. Como a gente perde isso?”, questionou o vereador.
“A gente acompanhou de perto, fizemos audiência pública na Câmara, escutamos os dois lados. Entendemos o lado das pessoas que são contra o evento. Eu acho que a democracia é isso”, narrou Pereira. O vereador, porém, passou a insinuar que aqueles que se opõem à realização da corrida estariam num lado contrário ao da população da cidade. “Mas eu estou a favor da população. Eu estou a favor daqueles que precisam de emprego, daqueles que precisam de renda, daqueles que precisam de oportunidade”, disparou. “Belo Horizonte sai na frente com a Stock Car”, completou.
Pereira prometeu “ficar em cima” para fiscalizar o cumprimento das medidas compensatórias determinadas pelo COMAM à prefeitura, inclusive em relação ao monitoramento das árvores plantadas pelos próximos 5 anos. “Belo Horizonte não vai ficar descoberta nesse sentido. Nós vamos ficar em cima da prefeitura, em cima dos organizadores, para que além do replantio dessas árvores e da compensação, de fato a gente tenha esse acompanhamento. Porque quem vai ganhar com isso é Belo Horizonte, eu não vejo perda para a cidade”, defendeu.
Sobre o risco de derramamento de óleo na pista e escoamento para a Lagoa da Pampulha, localizada próxima ao circuito, como apontado em relatório da Secretaria de Meio Ambiente da cidade, Pereira preferiu lembrar que a lagoa já se encontra poluída atualmente. “Foi só eu que vi a quantidade de peixe que amanheceu morto essa semana na Lagoa da Pampulha? A quantidade de peixe que levantou lá, aquelas fotos, vídeos, aquela coisa horrorosa? Então agora a gente vai colocar a culpa na Stock Car? Mas então tá bom, vamos lá, já está podre a lagoa e nós precisamos revitalizar, isso aí é um senso comum. Agora, existe uma equipe que vai fazer toda a limpeza da pista após o evento”, minimizou.
Pereira optou também por ironizar as reclamações sobre a poluição sonora. “Vejo uma reclamação seletiva. ‘Eu não gosto da Stock Car, então agora eu vou colocar várias barreiras para que isso não aconteça’. ‘Eu gosto de carnaval, então tudo bem, aí os bichos vão gostar da música de carnaval’”, disparou. Os blocos realizados mais próximos ao campus neste ano, porém, não passavam pela avenida Presidente Carlos Luz, em frente ao Hospital Veterinário, mas sim pela avenida Antônio Abraão Caram, do outro lado do Mineirão, segundo mapa divulgado pela prefeitura de Belo Horizonte.
O Bloco do Grifo, realizado pela primeira – e até hoje única – vez em 2023 por estudantes da UFMG, passou pela avenida Coronel Oscar Paschoal, que liga a Antônio Abraão Caram à Presidente Carlos Luz, terminando seu trajeto frente à Escola de Veterinária. Tratava-se, porém, de um bloco de pequeno porte, não chegando perto dos impactos potenciais de 4 dias seguidos de Stock Car, com carros emitindo ruídos de até 110 decibéis.
“Os organizadores falaram que eles vão colocar barreiras, que inclusive vão diminuir os decibéis que estão agora, nos ônibus que passam, nos carros, dia de jogo, dia de show, dia de evento. Ou seja, é um ganho para a UFMG que vai perdurar. Eles já falaram que podem deixar essas barreiras lá dentro para diminuir esses decibéis. Ou seja, mais uma vez os organizadores do evento pensando em toda a população e em como mitigar”, apontou Pereira.
A medida também tem seus problemas, seja uma barreira acústica metálica ou feita de árvores plantadas juntas. O primeiro tipo foi criticado diretamente pelo artigo assinado por Sandra Goulart Almeida e Maurício Campomori, respectivamente reitora e diretor da Escola de Arquitetura da UFMG.
“Argumenta-se de forma simplista que barreiras acústicas poderiam ser instaladas como uma solução definitiva ou até mesmo como um legado para a UFMG, considerando-se os eventos cotidianos que também produzem barulho no estádio Mineirão”, narram os autores. “Excluído o fato de que não foram apresentados estudos concretos sobre a viabilidade de instalação e a efetividade da implantação de tais barreiras, é espantoso que nada se diga sobre o passivo ambiental dessas ‘muralhas’. Também não se argumenta que, para serem eficientes, essas barreiras acústicas passarão a constituir a imagem de um tipo de universidade separada da comunidade por altos muros, algo que se coloca na contramão do esforço que as instituições públicas de ensino superior têm feito ao eliminar a maioria dos muros que as separavam da população em seu entorno”, argumenta o texto. “Se quiserem imagem mais dramática, oferecemos a da universidade sitiada, simbólica e materialmente apartada da cidade e de seus cidadãos, a antítese mais escarnada daquilo que é a nossa UFMG para Belo Horizonte”, reforçam os autores.
Já a barreira feita por árvores, citada como possibilidade em relatório da Secretaria de Meio Ambiente de Belo Horizonte, é alvo de contestações por sua baixa eficácia. Sua presença, como explicou à reportagem a professora Grace Schenatto, faria pouca diferença na diminuição dos ruídos. “Árvores e arbustos são barreiras acústicas muito ruins. O som pode geralmente se propagar diretamente através de um arbusto ou linha de árvores com atenuação negligenciável. Porém, se a folhagem for densa o suficiente para bloquear completamente a linha de visão, alguma pequena atenuação pode ocorrer”, diz artigo publicado na revista científica Environmental Noise Pollution, citado por Schenatto.
A entrevista do vereador Ciro Pereira foi marcada ainda por um ataque direto aos ambientalistas, dessa vez por parte de Paulo Leite, apresentador do programa Central 98.
“É bom lembrar que o COMAM, por 10 a 2, decidiu pela realização da Stock Car em Belo Horizonte”, narrou o jornalista, embora o COMAM não tenha votado o mérito da realização da corrida – devido ao enquadramento da Stock Car na Lei de Eventos –, deliberando apenas sobre o corte das árvores. “Eu respeito muito os ambientalistas, todos aqueles que estão por aí esperneando”, ironizou Leite. “Alguns não, alguns eu sei que fazem isso porque é ano de eleição. Ano de eleição todo mundo quer assanhar um pouquinho, a gente sabe como é que é. Mas a vida é assim mesmo”, disparou o apresentador.
Após o corte das 63 árvores no entorno do Mineirão, outras 808 deverão ser plantadas na cidade como medida de compensação, com 688 sob responsabilidade da prefeitura e outras 120 por parte da Minas Arena, concessionária do estádio. Todos os plantios deverão ser financiados pelas organizadoras do evento, as empresas Speed Seven Participações Ltda e DM Corporate Ltda, que também devem fazer a manutenção das árvores plantadas. Segundo a prefeitura, as primeiras 63 árvores já foram plantadas, mesmo número das que foram derrubadas.
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site O Eco e são de total responsabilidade do autor.
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