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As crenças são parte integrante das sociedades, definem a moralidade, a forma com que se enxerga o mundo e a própria cultura de um povo. Com a globalização, crenças se perderam, mesclaram ou passaram por transformações culturais profundas. Na Amazônia, os povos originários tinham uma cosmologia (conjunto de crenças que explica a criação do universo) muito única e rica, diferenciando-se a depender da etnia.
O estudo ‘Águas ancestrais: cultura material, noção de transformação e xamanismo nas estearias, Amazônia oriental’, sintetiza a importância da cultura xamânica para populações originárias – que viveram em palafitas localizadas nos Lagos da Baixada Maranhense, entre os séculos XI e X – a partir de achados arqueológicos, em especial de artefatos de cerâmica.
Mas o que é o xamanismo? Qual a influência na cultura deste povo? Por que eles viviam em palafitas e não em terra firme?
Cultura Xamânica
O xamanismo é entendido como um conjunto de práticas religiosas que têm ocorrência em diversos povos no decorrer da história. Caracteriza-se pela interação entre o ser humano, o cosmos e a natureza. Nesta tipologia religiosa a figura do Xamã age como um mediador entre o mundo físico e o espiritual (cosmológico).
Outra característica preponderante do xamanismo é a metamorfose zoomórfica, ou seja, a mescla do ser humano com animais. E é em decorrência desta característica que o estudo traz o conceito de ‘Mestre dos Animais’, um ser que comanda todos os animais e está em contato com os xamãs, sendo extremamente difundido nas culturas dos povos originários amazônidas. Aparecendo também na figura do Curupira ou de um orientador das normas vigentes.
Influência do Xamanismo
O processo das transformações xamânicas orientavam todo o modo de vida dos povos tradicionais: a confluência com a natureza, com os animais e com o próprio processo de metamorfose era essencial para o desenvolvimento destas sociedades. Os animais encontrados na cerâmica eram, especulativamente, conectados com os ritos destas etnias, eles eram considerados sacros.
A figura do ‘Mestre dos Animais’ surge como um verdadeiro guia, dando um caráter sagrado à geografia da região, à paisagem. Assim, as figuras de cerâmica encontradas representariam a mudança corporal, a mescla do ser humano com o animal, a forma como estes povos enxergavam o mundo.
Vivendo do rio e com o rio
A Bacia Amazônica sempre foi uma importante fonte de subsistência para as populações nativas da região. Até os dias de hoje, os rios provêm alimentos para ribeirinhos e, até mesmo, para grandes metrópoles que consomem os peixes dos pescadores. Ainda assim, há de se pensar na maior dificuldade na construção de palafitas em relação às malocas construídas em terra firme. Então, qual o motivo desta escolha?
O estudo especula que, tal qual a etnia Tukano, que acredita que seus ancestrais habitavam os lagos e montanhas, estes povos antigos acreditavam que os rios poderiam servir como uma forma efetiva de proteção, já que as criaturas aquáticas ancestrais poderiam proteger seus habitantes.
Os estudos arqueológicos recentes tentam cada vez mais abranger culturas que não eram, ou são, completamente voltadas à figura central do ser humano (antropocentrismo), mas que tem na natureza seu ponto focal, como demonstrado por esta pesquisa.
Fonte:
O conteúdo foi embasado no artigo ‘Águas ancestrais: cultura material, noção de transformação e xamanismo nas estearias, Amazônia oriental’, de Alexandre Guida e João Costa, publicado na Tessituras Revista de Antropologia e Arqueologia. O artigo está disponível aqui.
*Estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Portal Amazônia e são de total responsabilidade do autor.
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