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Projeto Bruno e Dom, da Forbidden Stories, é premiado pela CCNow

Projeto Bruno e Dom, da Forbidden Stories, é premiado pela CCNow

A agência Amazônia Real foi um dos 16 veículos que participaram do consórcio criado pela Forbidden Stories. As dezenas de histórias foram contadas para manter vivo o legado Bruno Pereira e Dom Phillips, assassinados em 2022 no Amazonas, e mostram a força do jornalismo, agora reconhecido pela rede colaborativa Covering Climate Now.


“Este projeto supera tudo”, disse um jurado. “Absolutamente cativante.” Foram com essas palavras que a organização do prêmio 2024 CCNow Journalism Awards denominou o Projeto Bruno e Dom, capitaneado pela Forbidden Stories e que contou com a participação da Amazônia Real. A série de reportagens publicadas a partir de 2 de junho de 2023 venceu na categoria Grandes Projetos & Colaborações, junto a duas outras iniciativas.

Pelo quarto ano, a Covering Climate Now (CCNow) premia as melhores produções jornalísticas de todo o mundo que ela considera como “a vanguarda da narrativa climática”. Neste ano, foram mais de 1.250 inscrições, incluindo a vasta produção realizada pelo consórcio formado pela Forbidden Stories. O Projeto Bruno e Dom envolveu mais de 50 jornalistas de 10 países. O objetivo dessa força coletiva era simples e valoroso: continuar com o trabalho do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinados em 5 de junho de 2022, na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas, fronteira com o Peru.

“As investigações inovadoras — que abrangem vários gêneros e foram publicadas em três línguas — aprofundaram-se em desvendar as forças por trás da pesca, mineração e pecuária ilegais, bem como as potenciais ligações entre essas indústrias e o tráfico de drogas”, anotou a CCNow. Menos de duas semanas após o assassinato de Bruno e Dom, a organização jornalística sem fins lucrativos com sede em Paris já havia reunido um conjunto de veículos dispostos a dar continuidade ao trabalho do jornalista britânico. Faz parte da missão da Forbidden stories garantir que investigações jornalísticas não sejam silenciadas pela violência e pela repressão.

Em junho de 2022, Dom Phillips, que já vivia no , estava na Amazônia, um território que ele conhecia bem e visitava com frequência. Passava pela cabeça dele escrever o livro Como Salvar a Amazônia (How to Save Amazon, do original em inglês), com histórias de habitantes que lutam contra as agressões ao ambiente. A , como se sabe, teve um desfecho trágico, com Bruno e Dom sendo mortos em uma emboscada por pescadores ilegais que atuam na região da tríplice fronteira – a maioria está presa, mas aguarda julgamento.

A Amazônia Real, fundada por Elaíze Farias e Kátia Brasil, que também é integrante da Forbbiden Stories, foi o único veículo da região Norte do Brasil a participar da empreitada. No total, 16 organizações de mídia fizeram parte do consórcio, agora premiado. Além da agência, integram o Projeto Dom e Bruno a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Der Standard (Áustria), Expresso (Portugal), Folha de S.Paulo (Brasil), Le Monde (França), NRC (Holanda), Ojo Público (Peru), Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP) (Estados Unidos), Paper Trail Media (Alemanha), Repórter Brasil (Brasil), Tamedia (Suiça), The Bureau of Investigative Journalism (Reino Unido), The Guardian (Reino Unido) e TV Globo (Brasil).

Visibilidade às populações

Os Kanamari , que se autodenominam “Tükuna”; garimpo no rio Madeira (Fotos: Bruno Kelly) e os Apurinã, que serão afetados pelo asfaltamento da BR-319 (Foto: Alberto César Araújo).

Durante o desenvolvimento do projeto, ficou claro que cada veículo produziria conteúdos segundo a sua expertise. Parcerias foram montadas, criando um saudável processo de sinergia entre as mídias. A Amazônia Real tem uma vocação em produzir jornalismo investigativo e independente que dá visibilidade às populações e questões da Amazônia, como descreve sua missão. Assim, ficou decidido que a agência produziria reportagens de campo.

“A Amazônia é como se fosse um outro País dentro do Brasil. E muitas vezes os próprios brasileiros tratam a região como se não fosse uma parte do Brasil. Aqui vigora o abandono, o crime, a falta de governança. Era importante ir em busca de histórias para que o mundo saiba o que acontece por aqui”, descreve Leanderson Lima, que foi encarregado de escrever a especial Uma BR-319 no meio do caminho. Produzida em parceria com o jornal português Espresso, esta reportagem durou uma semana para ser apurada e, na Amazônia Real, ganhou o gênero de relato de viagem. Ele estava acompanhado do repórter-fotográfico e editor de imagens Alberto César Araújo. Todas as três produções foram traduzidas para o inglês (A BR-319 highway in the middle of the road)

“No início, não tinha dimensão do que era o Projeto Bruno e Dom. Só depois percebi o tamanho e a grandeza de tudo até pelo tamanho da repercussão que teve”, acrescenta Leanderson. “Meu pai percorreu todo o trajeto, na década 1970, quando a estrada ainda era asfaltada e abordo de um Fusca azul. Desde o dia em que comecei a estudar jornalismo, já sonhava fazer uma reportagem assim.”

Elaíze Farias ficou responsável pela especial Os Guerreiros do Médio Javari (The Middle Javari River Warriors), que conta a história dos indígenas que no mesmo Vale do Javari, onde Bruno e Dom foram assassinados, continuam lutando para defender seus territórios. Acompanhada do fotógrafo Bruno Kelly, a editora foi convidada a participar de uma ação de fiscalização dos Kanamari, que se autodenominam “Tükuna”.

Kelly, um experiente profissional da imagem com larga experiência na Amazônia, participou de outra incursão, A fome pelo ouro do rio Madeira (The hunger for gold in the Madeira river). Ele e Francisco Costa, colaborador da Amazônia Real, levaram uma outra equipe do jornal Espresso para conhecer a realidade das Fofocas, as balsas que ficam perfiladas no rio para extrair ouro ilegal.

A jornalista Elaíze Farias afirma que o Projeto Bruno e Dom é o resultado da reunião de jornalistas motivados por um interesse em comum. Segundo ela, foi uma cobertura profunda, intensa, com diferentes visões e de nível global sobre o tema da violação de direitos humanos e territoriais na Amazônia. “A Amazônia Real produziu trabalhos de grande impacto e de repercussão sobre populações amazônicas que precisam ter seus direitos respeitados, como os Apurinã, afetados pela BR-319, e os Kanamari, que têm seu território no Vale do Javari ameaçado. O reconhecimento de mais essa premiação é apenas uma prova de que, apesar das dificuldades e dos desafios, o jornalismo independente, investigativo, quando feito com liberdade e autonomia, é fundamental na nossa democracia ”, diz.

Os outros veículos optaram por investigações minuciosas a partir dos relatos de correspondentes internacionais que atuam no Brasil ou escarafunchando documentos de produtos que são exportados para seus países. Sim, parte da pilhagem na Amazônia vai parar nos mercados norte-americano e europeu, e é importante que o Projeto Bruno e Dom deixasse claro essa denúncia, que nem é tão desconhecida assim.

Um conteúdo de destaque do consórcio foi o produzido pela Globoplay, o documentário Vale dos Isolados, dirigido pela jornalista Sônia Bridi – que no último dia 5 foi premiado no Prêmio Gabo de Jornalismo na categoria imagem. Com apoio da EVU, a equipe de vigilância da Univaja treinada por Bruno Pereira, conseguiu localizar o celular de trabalho do indigenista, que pode contribuir para o desfecho das investigações.

Covering Climate Now

Além do Projeto Bruno e Dom, a CCnow premiou as reportagens Carbon Pirates: Why Offsets Aren’t Working, publicadas pelo Guardian, Die Zeit (Alemanha) e Source Material (Inglaterra), e ‘Shifting Seasons’ Community Story Exhibition: Unpredictable Rains Disrupt Ugandan Pastoralist Communities, da Infonile.

A primeira iniciativa foi uma investigação sobre os créditos de carbono de florestas tropicais aprovados pela certificadora de compensações Verra. Empresas como Disney, Samsung, Netflix e Ben & Jerry’s compraram esses créditos que em vez de proteger a floresta chegaram a causa danos a comunidades indígenas da Amazônia, que se viram forçadas a deixar suas casas. O CEO da Verra renunciou e o mercado de carbono agora se tornou uma grande incógnita.

Já a plataforma de jornalismo colaborativo Infonile, que reúne jornalistas e pesquisadores de toda a região do Nilo, na África, investigou como as mudanças climáticas estão afetando comunidades de Uganda. Além de causar insegurança alimentar, o aquecimento global tem tornado insustentável o estilo pastoril de criação de gado. A iniciativa ainda produziu uma exposição com os conteúdos produzidos para a série de reportagens.

A CCNow convocou um conjunto de 117 jornalistas de sua rede para decidir os três vencedores de cada uma das 16 categorias. A premiação contempla reportagens que apresentam soluções para a justiça climática, o uso de combustíveis fósseis e seus impactos, incluindo eventos climáticos extremos, a política, as políticas públicas e a ação climática, o papel do ativismo e dos movimentos sociais nessa questão, como o setor empresarial e econômico influenciam as negociações globais, como a Conferência das Partes (no caso, a COP28), entre outras categorias.

“Os jurados ficaram impressionados não apenas com o volume de histórias, mas também com sua qualidade consistente”, disse Kyle Pope, cofundador do CCNow e diretor-executivo de iniciativas estratégicas. A CCNow é uma rede colaborativa de centenas de parceiros de redações jornalísticas que compartilham as melhores práticas e desenvolvem projetos de reportagem e oferecem diferentes abordagens para o tema das mudanças climáticas. Desde janeiro deste ano, a Amazônia Real se integrou a essa rede.

Da parte do autor deste texto e como coordenador-geral pela Amazônia Real, ficam patentes os sentimentos de gratidão e orgulho por ter feito parte desse Grande Projeto tão necessário quanto indesejado. O legado de Dom Phillips e Bruno Pereira seguirá vivo, mas até quando a violência e a morte farão parte da realidade da Amazônia?


Para garantir a defesa da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão, a agência de jornalismo independente e investigativa Amazônia Real não recebe recursos públicos, não recebe recursos de pessoas físicas ou jurídicas envolvidas com crime ambiental, trabalho escravo, violação dos direitos humanos e violência contra a mulher. É uma questão de coerência. Por isso, é muito importante as doações das leitoras e dos leitores para produzirmos mais reportagens sobre a realidade da Amazônia. Agradecemos o apoio de todas e todos. Doe aqui.


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