A relação conflituosa entre natureza e urbanização na capital amazonense estimulou a produção do livro de fotografias de Raphael Alves, que é um documento vivo de uma cidade marcada pela violência e pela crise climática (Foto: Raphael Alves).
Manaus (AM) – Foi com um misto de estranhamento e familiaridade que o fotojornalista Raphael Alves decidiu retratar Manaus. Habituado a fotografar a capital amazonense e arredores, ele logo descobriu uma complexa relação entre as pessoas e a natureza ao ver o conjunto de imagens. E não parou mais. O resultado é o fotolivro Riversick, premiado no 4º Festival Photo Things deste ano, e que será lançado no dia 22 de novembro, às 18 horas, na Biblioteca do Icbeu, no centro da cidade.
As imagens feitas por Alves mostram figuras humanas que se movimentam em conflito com a natureza, em uma cidade marcada pelo avanço da violência e da crise climática. O livro é composto por uma série de fotografias de rua e do cotidiano de Manaus, em preto e branco.
Raphael Alves, premiado fotógrafo amazonense, batizou o projeto de Riversick como um trocadilho das palavras em inglês homesick (saudades de casa), seasick (enjoado por deslocamento sobre o mar) e river (rio). Manaus fica à beira de dois dos maiores rios do mundo, Solimões e Negro.
“O trabalho surgiu do hábito de fotografar a cidade e arredores, passar por locais que não são minha rota diária e ver o que há. O livro é sobre Manaus e sua pretensa região metropolitana, sem ser exatamente sobre isso. É sobre como esse lugar tão familiar a mim pode ser tão estranho a mim. É sobre como um lugar pode ser tantos dentro de cada um de nós, nesse caso de mim mesmo”, disse o autor em entrevista à Amazônia Real.
Manaus, embora esteja situada no “coração” da Amazônia, é a segunda cidade menos arborizada do Brasil – apenas 25,1% da área urbana é arborizada, segundo o IBGE (2010), porcentagem considerada insuficiente para manter a qualidade de vida da população. A poluição dos cursos d’água é outro retrato de uma cidade que parece ter dado as costas para a natureza. Raphael Alves está atento a essas duas questões centrais em Riversick.
“É uma relação conflituosa. Um leito de tantas águas sem tratamento adequado, uma urbe em meio a floresta, mas com péssima arborização. É uma sensação de desperdício. Parece que, por termos tanto, nos autorizamos a desperdiçar”, explica Raphael. A relação de Manaus, os rios e a coexistência entre o urbano e a natureza influencia não apenas a abordagem fotográfica, mas a vida de Raphael. Os rios são índices do imaginário, ainda que estejam secos como nos últimos anos.
O fotógrafo espera que as fotografias sejam um convite e um “gatilho” para o público, como forma de questionar as contradições socioambientais em Manaus, além de dialogar com questões como a luta por justiça climática.
Outra investigação de Raphael Alves é o conceito de saudade e desconexão em Riversick, que se traduzem em imagens relacionadas ao atordoamento pela velocidade, e pela quantidade de coisas que acontecem no espaço urbano de Manaus. “É como o navio do conto de Erasmo Linhares, que surge e some como o nada, causa alvoroço e muito em breve sequer é notado”, observou.
O fotolivro ganhou materialidade a partir de uma ação colaborativa, com design de Alyssa Ohno e impressão pela Ipsis Gráfica e Editora. Organizado pela Porto de Cultura e com curadoria de Marly Porto e Léu Britto, o Festival Photo Things, que estimula a produção fotográfica nacional. Esta edição reconheceu o trabalho do fotógrafo manauara como um dos destaques.
Durante o evento de lançamento no Icbeu, o público poderá adquirir exemplares da obra, além de participar de um bate-papo com o autor e convidados, como o fotógrafo e curador Alberto César Araújo, editor de fotografia da Amazônia Real, e o professor e escritor Victor Leandro Silva, autor de “Degredo” e “Catedral dos Mortos”.
Sobre o autor
Nascido e criado em Manaus, Raphael Alves estudou Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Fotografia na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Artes Visuais no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Obteve também o título de Master of Arts em Fotojornalismo e Fotografia Documental na London College of Communication/ University of the Arts, em Londres, na Inglaterra.
Colabora com agências e veículos nacionais e internacionais, entre elas, a Amazônia Real, e é membro do projeto Everyday Brasil. Já ganhou centenas de prêmios, entre eles, o primeiro lugar na categoria “La pandemia en Ibero America” no Pictures of the Year Latin America (POY Latam), 2021, pela sua cobertura da Covid-19. “A pandemia e o descaso cobraram um preço altíssimo: vidas. Milhares delas, agora, enterradas no isolado território amazonense”.
Ainda em 2021, ele recebeu menção honrosa no Siena Photo Awards, venceu o XXVII Concurso Latinoamericano de Fotografía Documental e foi contemplado com a bolsa editorial da Getty Images. Em 2022, seu trabalho foi premiado no POY International. No mesmo ano, recebeu o terceiro lugar no Prêmio Fundação Conrado Wessel (FCW) de Fotografia. Em 2023, foi um dos premiados no BarTur Photo Award.
“Riversick”. De Raphael Alves. Lançamento dia 22, às 18 horas, na Biblioteca do Icbeu Manaus (Av. Joaquim Nabuco, 1286 – Centro).
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