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Polícia Federal investiga denúncias de ameaças de facção criminosa em terra indígena do Acre

Polícia Federal investiga denúncias de ameaças de facção criminosa em terra indígena do Acre

Desde o ano de 2019, lideranças do estado têm relatado invasões dos territórios na Amazônia por narcotraficantes, envolvidos também com pescadores, madeireiros e garimpeiros ilegais e que atuam na rota entre o , Colômbia e Peru. No Amazonas, há inclusive de aliciamento de jovens e ameaças e mortes como no caso dos assassinatos dos  defensores Dom Phillip e Bruno Pereira. Aldeia dos Yawanawa (Foto cedida por Tashka Yawanawa)


 
Por Kátia Brasil e Leanderson Lima, da Amazônia Real

Manaus (AM) – Após denúncias nas redes sociais do cacique Biraci Junior Yawanawa, de que uma facção criminoso invadiu aldeias da Terra Indígena do Rio Gregório, localizada em Tarauacá, município do Acre, que fica na fronteira do Brasil com o Peru, uma operação das Polícias Federal, Civil e Militar foi acionada, ainda na noite desta quarta-feira (27), para apurar o caso. De acordo com o relato do cacique, mulheres, homens e crianças estariam reféns. 

“Estou sabendo que estão abusando das mulheres, as mulheres estão sendo estupradas, crianças sendo espancadas, e os homens não têm armas lá, só tem terçados [facão], estão sendo feitos reféns, estão passando por uma situação muito difícil”, denunciou o cacique Biraci Yawanawa em sua rede social. 

Em nota divulgada na tarde desta quinta-feira (28), a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) do Acre informou que “a denúncia não procedia e que não foi verificado nenhum ataque externo à aldeia”. Mas não comentou sobre as ações criminosas nos territórios indígenas (leia no final do texto)

Veja a íntegra da denúncia.


Outro cacique, Matsini Yawanawa, pediu ajuda a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL/MG), que, de imediato, disse também nas redes sociais que  entrou em contato com o Ministério da Justiça e Segurança Pública: “estamos tomando as medidas cabíveis e pedimos o envio da Força Nacional urgente”, disse a parlamentar, em mensagem que foi compartilhada pela agência Amazônia Real

A Terra Indígena Rio Gregório é homologada com 188.329 hectares. No território, segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), vivem mais de 600 pessoas dos povos Katukina Pano e Yawanawa. O ponto focal do território é a Vila São Vicente, que fica às margens da rodovia BR-364, distante 86 quilômetros de Tarauacá, o quarto maior município do Acre. 

Na manhã desta quinta-feira (28), a Amazônia Real localizou o cacique Biraci Junior Yawanawa, por telefone. Ele disse que estava em deslocamento desde a madrugada para chegar na Terra Indígena Rio Gregório, que fica distante de Rio Branco, a mais de 400 quilômetros em viagem de carro. 

“Quando fiz o pedido de ajuda, estava em Rio Branco, me desloquei a noite inteira, viajei a noite inteira. Cheguei 6h da manhã aqui na Vila São Vicente, no Gregório, encontrei já mais de dez viaturas aqui, da Polícia Federal, Polícia Civil, (Polícia) Militar. Agradeço muito as autoridades de terem ouvido meu alerta, atendido o meu chamado”, disse o cacique, que foi acompanhar de perto as investigações policiais.

Ainda na quarta-feira (27) à noite, o governo do Estado do Acre emitiu uma nota, informando que recebeu a denúncia do cacique Biraci Yawanawa e estava prestando apoio com aeronaves do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) para as investigações.

“Ressalta-se que a coordenação das ações é de competência da Polícia Federal, e que o governo está atuando de forma subsidiária, oferecendo suporte logístico e de pessoal”, disse a nota oficial.

De acordo com a nota do governo, equipes compostas por policiais federais, policiais militares, policiais civis, além de guarnições do Grupo Especial de Fronteira (Gefron) foram deslocadas para Cruzeiro do Sul, de onde partirão para o atendimento da ocorrência na TI Rio Gregório.

Até o momento a Polícia Federal, que foi procurada tanto em Brasília como no Acre, não se pronunciou sobre as denúncias de Biraci Yawanawa.

Em nova nota divulgada na tarde desta quinta-feira, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) do Acre informou que “a denúncia não procedia e que não foi verificado nenhum ataque externo à aldeia”.

Amazônia Real também procurou a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) para comentar o caso. O órgão disse que “está acompanhando o conflito e que conta com uma força-tarefa da Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e Secretaria Estadual de Segurança na região.” 

Narcotráfico nas aldeias

Na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, criminosos não escondem os rostos para cometerem ilícitos (Fotos de redes sociais)


Denúncias de ameaças de narcotraficantes nas terras indígenas da Amazônia tem sido constantes, mas pouco investigadas pelo poder público estadual e federal. O problema se espalha para vários territórios, que estão no entorno de rotas do tráfico de drogas internacional e na fronteira de países produtores como a Colômbia e o Peru. As denúncias dos indígenas são sempre colocadas em questionamentos por parte de autoridades.

No Acre, em 2019, os povos Huni Kuin (chamados também de Kaxinawá) denunciaram à Polícia Civil e à Funai que jovens da etnia, com idades entre 13 e 18 anos, eram  aliciados pelo tráfico de drogas realizado por organizações como Comando Vermelho e Bonde dos 13, uma facção local. As aldeias ficam na Terra Indígena Katukina/Kaxinawá, no município de Feijó, na fronteira do estado do Acre com o sul do Peru. Na época, a agência Amazônia Real procurou a polícia, mas a instituição diz que tem dificuldade de investigar o caso devido ao deslocamento só possível pela via fluvial. Faltam embarcações e combustível.

Em 2021, a Amazônia Real publicou em primeira mão que uma equipe de agentes da Polícia Federal foi recebida a bala no rio Uraricoera, um dia após garimpeiros integrantes do PCC atacarem também a tiros indígenas Yanomami. Informes recebidos pela reportagem  revelaram como está sendo tensa a relação de traficantes ligados à facção criminosa de São Paulo dentro dos garimpos de extração ilegal de ouro na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. A violenta recepção surpreendeu até mesmo os agentes federais.

“A equipe se abrigou e respondeu à injusta agressão [desta terça-feira] sem, contudo, haver registro de atingidos de nenhum dos lados”, informou, em nota, a PF.

Morte de Bruno e Dom 

O jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira foram mortos brutalmente em Atalaia do Norte, no extremo oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru, em 2022, por uma organização criminosa que atua na pesca e madeira ilegais  e no tráfico de drogas na Terra Indígena Vale do Javari. A Polícia Federal mantém quatro réus presos, mas concluiu o inquérito do assassinato sem investigar o envolvimento de políticos com o tráfico e o crime organizado em cidades do Alto Solimões.

É preciso investigar

O quilombola e doutor em Ciências do Desenvolvimento Socioambiental pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Aiala Colares Couto, é uma referência nos estudos sobre as facções criminosas na Amazônia. Ele comentou as denúncias feitas pelo cacique Biraci Junior Yawanawa dizendo que “tem que averiguar o que aconteceu”. 

O pesquisador disse que a região é uma rota do tráfico e os indígenas estão enfrentando ameaças e não permitem o ingresso dos criminosos em suas terras. “E talvez isso possa ser uma represália em função desse enfrentamento. Tem que verificar com calma, porque se for essa situação, mostra a vulnerabilidade [dos povos indígenas]. Essa área é uma área que o tráfico utiliza como rota e passa pelos territórios indígenas e talvez isso possa ser uma represália”, disse.

Aiala Couto destacou a ausência do poder público na proteção dos territórios e destacou que os guardiões indígenas não têm condições de enfrentar facções armadas. “E nesta região há presença de povos isolados. Essa rota é utilizada com intensidade e ela coloca todas essas populações numa condição de vulnerabilidade. A gente já pode deixar claramente explícito que há um conflito que envolve indígenas e facções criminosas que chegou no nível que a gente não queria que chegasse”, finalizou.

Esta reportagem será atualizada às 14h11 desta quinta-feira (28/11/2024).


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