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Ludwig Feuerbach, o precursor filosófico do desenvolvimento sustentável

Ludwig Feuerbach, o precursor filosófico do desenvolvimento sustentável

Ludwig Andreas Feuerbach (1804-1872) foi um filósofo de porte ainda maior do que o seu reconhecimento já tido em vida. Somente recentemente, ele vem sendo resgatado por novas publicações de suas principais obras na Itália, Colômbia, Portugal, Espanha, e Alemanha, bem como por uma Sociedade Acadêmica Internacional dedicada ao seu pensamento filosófico. 

Nele encontramos uma Filosofia da Natureza, elaborada sob influências tão filosóficas (de Filósofos panteístas que concebiam a Natureza como uma divindade) quanto científicas (de Cientistas Naturais que concebiam a Natureza como feita de leis imutáveis). Mas superou ambas ao vislumbrar pioneiramente a possibilidade de nossa reintegração dinâmica com a Natureza, inclusive por transformações recíprocas positivas dela e da Humanidade. Sua proposta era tornar a Terra em morada humana sem excluir outras espécies naturais à medida que a Humanidade se tornasse uma comunidade.

Do Naturalismo à reintegração sinérgica com a Natureza

Uma década antes de Charles Darwin publicar sua teoria da evolução, Feuerbach disse em palestra pública: “Se antes a natureza criou homens e animais através de uma criação original, sem homens nem animais já existentes, por que isso não acontece mais? Eu respondo: porque tudo na natureza tem seu tempo (…); é porque antes havia condições que faltam agora. Mas pode chegar um dia em que a natureza fará o mesmo, em que as antigas espécies de homens e animais desaparecerão e (…) novas gerações, surgirão. Só (…) revoluções que não mais se repetiram, produziram os seres orgânicos, pelo menos como os que se encontram na Terra desde sua última grande era geológica”. 

Desde sua primeira obra (1830), Feuerbach concebeu a condição humana como planetária, ao ponto até de questionar a hipótese de vivermos em outros planetas, pois já era notório que precisaríamos de aparelhos reprodutores de condições ambientais terrestres noutros ambientes planetários. Ser humano, tal qual outras espécies surgidas na Terra, seria algo tão único quanto nosso planeta. Cuja magnitude natural nos é evidente pela própria sensibilidade humana na qual a razão, graças aos nossos sentidos não serem focados em certos objetos (para a alimentação ou quaisquer outras atividades) como são os das plantas ou dos demais animais, mas abrangentes do ambiente, nos torna diretamente relacionados à Natureza em geral, em vez de só a certos nichos naturais.

Nossos sentidos revelam, cotidianamente, que a Natureza engloba tudo, inclusive a nós em qualquer situação – mesmo a mais artificialmente construída – bastando atentar a eles, pois superam até nossas deficiências culturais sobre ela e conforme apontou em 1839: “Enquanto o oriental perde de vista a diferença em face da unidade, o ocidental esquece a unidade em face da diferença”. Natureza é o fundamento geral simplesmente porque também é o ambiente total. Como a Natureza, em si mesma, comprovaria a inexistência do nada – “O nada é justamente nada – (…) e acerca disso não se pode dizer mais nada; o nada refuta-se a si mesmo” – sua realidade continha apenas desdobramentos do que anteriormente existia e, portanto, era mutável. Então, o papel humano nela devia ser o de zelar pelas mudanças naturais, principalmente aquelas naturalmente inexoráveis, integrando nelas a Humanidade, de modo a evoluir conjuntamente com a Natureza e não em oposição a ela: “Na natureza, os graus de desenvolvimento (…) são sem dúvida momentos, mas (…) da totalidade simultânea da natureza, e não de uma (…) particular, (…) por sua vez apenas um momento (…) da totalidade da natureza”.

Por ser direcionada totalmente ao ambiente inteiro, a sensibilidade humana nos mergulha na Natureza, conscientes (mesmo quando isso for negado) de nosso pertencimento nela, mesmo em ambientes artificiais que somente são elementos naturais, agora transmutados. 

Únicas realidades humanamente importantes seriam sempre e só o par formado entre Humanidade e Natureza, como dito em 1842: “Todas as ciências devem se fundar na natureza. Uma doutrina é apenas uma hipótese enquanto não se encontrou a sua base natural. (…) A filosofia deve de novo unir-se à ciência da natureza e a ciência da natureza à filosofia. Esta união, baseada numa necessidade recíproca, (…) será mais duradoura (…) do que a (…) até agora existente entre a filosofia e a teologia”.

Porque ilimitada em suas direções, a sensibilidade humana na qual a razão é produzida por sentidos dirigidos à totalidade ambiental, é tão preenchida pela Natureza que a nossa dependência dela é conscientemente coletiva. Toda religião, cada qual a seu modo, é o sentimento dessa dependência fundamental e por isso Feuerbach as estudou, mesmo às tradições religiosas que proclamassem uma ilusória independência humana da natureza inumana, desde 1841: “Vinho e pão pertencem às mais antigas descobertas. (…) Por isso, em cada mordida do pão, que livra do martírio da fome, e em cada sorvida do vinho, que alegra seu coração, pense no Deus que proporcionou essas dádivas benignas – no Homem! Mas não se esqueça (…) da gratidão à Natureza! Não se esqueça que o vinho é o sangue da planta e o trigo é a carne da planta que é sacrificada para o bem da sua existência!”

Ludwig Feuerbach. Foto: Wikipédia.

Até mesmo sua opção política tão radicalmente republicana quanto democrática (Feuerbach foi ativo participante na revolução pela unificação democrática da Alemanha em 1848) advinha de sua observação da Natureza, a qual considerava funcional como uma República deveria ser e assim a definiu, ainda em 1846, como forma de governo pela colaboração entre diferentes, tal qual todos os ingredientes num ecossistema colaboram com o conjunto, ainda enquanto competem entre si: “Ordem”, “fim”, “lei” são palavras com as quais o homem traduz em sua linguagem as obras da natureza”.

Daí que, em 1850 (antes que soluções baseadas na natureza fossem uma tendência coletiva), a Natureza tenha lhe inspirado duas propostas como soluções coletivas à exclusão social que já se intensificava na segunda metade do século XIX:

1) Propondo domínio público dos elementos essenciais à natureza inumana: “(…) pois a natureza nada sabe sobre a arrogância e as ficções pelas quais o homem restringiu e atrofiou com razão a existência de seu semelhante. O ar por natureza pertence a todos e, portanto, a ninguém, é propriedade comum de todos os viventes; mas o dogmatismo transformou até o ar numa prateleira […]”

2) Propondo posses individuais básicas à natureza humana: “A natureza certamente (…) dá a cada ser o que ele precisa; ela não criou um para passar fome. A necessidade da fome deve sua existência apenas à arbitrariedade do estado […]. Mas a Ciência Natural não conhece diferença entre um ventre nobre e um burguês, apenas conhece uma origem comum a todas as pessoas e a mesma”  

Sem empregar o termo atual da “”, ainda não transferido das atividades pesqueiras para uso geral ou do “desenvolvimento sustentável” proclamado pela Conferência Rio-92, Feuerbach já defendia uma aliança constante, entre as naturezas humana e inumana, dentro de seu ideal humanista crítico da pobreza, do colonialismo e do racismo como aspectos inseparáveis da longa ilusão antropocêntrica de superioridade humana sobre a natureza. Como disse durante palestra em 1849 sobre a melhor relação humana possível com a Natureza: “Seja boa, querida terra, e me dê uma boa colheita, diz o religioso. Queira ou não, ela tem de me dar bons frutos, diz o ateu. A terra me dará quando eu der a ela o que é próprio de sua essência, diz o homem verdadeiro, nem religioso, nem irreligioso; ela nem quer dar, nem deve dar (…), mas só dará os bons frutos se todas as condições forem preenchidas por minha parte (…)”.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site O Eco e são de total responsabilidade do autor.
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