Foto: Marina Calderón/ACNUR
Aos 79 anos, a brasileira Rosita Milesi recebeu um dos maiores reconhecimentos internacionais de sua trajetória, principalmente pelo trabalho desenvolvido com migrantes, inclusive em Roraima. A religiosa e ativista foi laureada com o Prêmio Nansen do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados, destacando-se pelo trabalho de acolhimento e defesa dos direitos de migrantes, apátridas e refugiados. Ela é a segunda brasileira a ser premiada, seguindo os passos do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, homenageado em 1995.
Leia também: Migração na Amazônia: conheça os principais fluxos de pessoas na região
Nascida em uma pequena comunidade no Rio Grande do Sul, filha de agricultores de origem italiana, Rosita cresceu em um ambiente de fé e solidariedade. Seus pais, mesmo com poucos recursos, ofereciam comida, abrigo e apoio a quem estivesse de passagem pela região. Esse exemplo marcou profundamente a jovem, que aos 9 anos deixou a casa da família para estudar em um colégio administrado pelas Irmãs Missionárias Scalabrinianas.
A congregação, fundada no final do século 19 para apoiar migrantes italianos, viria a moldar a vocação de Rosita. Em 1964, aos 19 anos, ela ingressou na congregação, dedicando-se inicialmente ao ensino e ao trabalho administrativo. Mas sua determinação em ir além a levou a buscar uma formação jurídica, mesmo enfrentando questionamentos internos.
“Quando me perguntavam porque é que eu estava a tirar esse curso, eu dizia: ‘Vou ser advogada dos pobres’, porque essa era a nossa missão naquela época: ajudar pessoas necessitadas”, afirmou em entrevista à ACNUR.
O ponto de virada na trajetória de Irmã Rosita ocorreu na década de 1980, quando as Irmãs Scalabrinianas retomaram o compromisso com migrantes e refugiados. Ela fundou, em Brasília, o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), que se tornaria uma referência no apoio a essas populações vulneráveis e que ganhou uma sede em Roraima.
Por meio do IMDH, ela passou a oferecer assistência básica (abrigo, comida e atendimento médico), mas também apoio jurídico, cursos de idiomas e iniciativas para a integração ao mercado de trabalho. Seu trabalho abrange não apenas refugiados da Venezuela, mas também migrantes de outras partes do mundo que chegam ao Brasil em busca de segurança e dignidade.
Além da atuação direta, Irmã Rosita desempenhou um papel crucial na formulação de políticas públicas no Brasil. Foi uma das principais vozes na ampliação da definição de refugiados na Lei de Refúgio de 1997, que incorporou os princípios da Declaração de Cartagena. Mais recentemente, ela também influenciou a aprovação da Lei de Migração de 2017, garantindo maior proteção aos direitos de migrantes e refugiados no país.
“Eu sabia que qualquer lei é difícil de ser alterada depois de aprovada. Por isso, mobilizamos todas as forças possíveis para garantir que fosse a melhor lei possível”, explica. Inclusive, ela chegou a escrever para o Vaticano pedindo apoio, que se manifestou ao governo brasileiro em favor de uma definição mais ampla de refugiados.

Por sua dedicação inabalável ao longo de 36 anos, Irmã Rosita foi reconhecida como Laureada Global do Prêmio Nansen de 2024. O prêmio simboliza sua contribuição não apenas para a acolhida, mas também para a integração e dignidade de pessoas que precisaram deixar suas casas e recomeçar em um novo país.
“Sou inspirada pela crescente necessidade de ajudar, acolher e integrar refugiados. Não tenho medo de agir, mesmo que não alcancemos tudo o que queremos. Se assumo algo, vou virar o mundo de cabeça para baixo para fazer acontecer”, disse Rosita, com a serenidade de quem vive para servir.
*Com informações da ACNUR
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Portal Amazônia e são de total responsabilidade do autor.
Ver post do Autor