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Coleta de sementes: uma prática que une povos indígenas, ciência e conservação na Amazônia

As Mulheres Xavante Coletoras de Sementes da TI Marãiwatsédé são um grupo de cerca de 90 mulheres indígenas que se dedicam a coletar e catalogar sementes de diversas espécies nativas da floresta amazônica. Elas fazem parte da Rede de Sementes do Xingu, que reúne mais de 600 coletoras que vivem nas regiões das bacias hidrográficas do Xingu e Araguaia. As sementes coletadas pelas mulheres Xavante têm dois destinos principais: o reflorestamento de sua própria terra indígena, que foi devastada por invasores durante décadas, e a comercialização para outros projetos de recuperação ambiental na região.

As mulheres Xavante iniciaram a atividade de coleta de sementes em 2011, após uma visita da Associação Rede de Sementes do Xingu (ARSX) que apresentou o trabalho que vinha sendo desenvolvido por outros povos e comunidades da região. Desde então, elas vêm se organizando em grupos que acampam na mata durante o período de coleta, que vai de junho a dezembro. Elas usam garrafas plásticas para armazenar as sementes, que são identificadas com etiquetas com o nome da coletora, da aldeia e da espécie. As sementes são pesadas e estocadas na Casa de Sementes, onde recebem um tratamento adequado para garantir sua qualidade e viabilidade.

Em 2020, as mulheres Xavante superaram as adversidades impostas pela pandemia de Covid-19 e coletaram mais de uma tonelada de sementes, um recorde histórico. Foram catalogadas 34 espécies diferentes, entre elas o buriti, jatobá, caju, copaíba e pequi. Do total, 294 kg foram destinados para o reflorestamento da Terra Indígena Marãiwatsédé, que tem 165 mil hectares e abriga cerca de 1.100 indígenas. A terra foi retomada pelos Xavante em 2013, após uma longa luta judicial que culminou na desintrusão dos invasores. O restante das sementes foi comercializado com o auxílio da ARSX e da Operação Amazônia Nativa (OPAN), gerando uma renda de R$ 30 mil para as coletoras.

A líder do grupo das Mulheres Xavante Coletoras de Sementes é a cacica Carolina Rewaptu, formada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado de Mato Grosso. Ela conta que a coleta de sementes é uma forma de fortalecer a tradição e a cultura Xavante, além de contribuir para a recuperação da floresta e a geração de renda. Ela também diz que se inspira na memória da anciã Mônica Renhinhãi’õ, que faleceu de Covid-19 em 2020, aos 99 anos. Mônica era uma das coletoras mais experientes e respeitadas do grupo, e ensinou o ofício para as mais jovens. “Sabíamos que seria desafiador. Redobramos a atenção e intensificamos os esforços. Uma sempre ajudando a outra”, afirmou Carolina.

As mulheres Xavante também se preocupam em transmitir seus conhecimentos para as futuras gerações. Segundo Carolina, já há meninas de 8 anos que acompanham as expedições na mata e aprendem sobre as sementes e as plantas. “A gente quer que elas cresçam sabendo valorizar a nossa cultura e a nossa natureza”, disse ela.

A coleta de sementes pelas mulheres Xavante é um exemplo de como os povos indígenas podem contribuir para a conservação da biodiversidade e o enfrentamento das mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que fortalecem sua identidade e autonomia. O trabalho das coletoras também é reconhecido e valorizado por outros atores da sociedade, como organizações não governamentais, universidades e órgãos públicos. Em 2019, as mulheres Xavante participaram de oficinas de etnomatemática na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), onde puderam trocar experiências e saberes com estudantes e professores . Em 2020, elas receberam uma homenagem da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT) pelo seu papel na preservação ambiental.

As Mulheres Xavante Coletoras de Sementes da TI Marãiwatsédé seguem coletando e plantando sonhos na floresta. Elas esperam que as sementes que espalham pelo território germinem e cresçam, formando novas árvores que abriguem a vida e a diversidade. Elas também esperam que suas vozes sejam ouvidas e respeitadas, e que seus direitos sejam garantidos. Elas são as guardiãs da floresta e da cultura Xavante.

Existem outras experiências de coleta de sementes por povos indígenas na Amazônia, que também visam a conservação da biodiversidade e o fortalecimento da cultura e da autonomia desses povos. Aqui estão alguns exemplos:

– A Embrapa desenvolve ações com várias etnias indígenas na Amazônia, por meio de projetos que variam da produção de alimentos à colheita de sementes florestais, em que a tônica é o intercâmbio de conhecimento capaz de beneficiar tanto as aldeias quanto a Ciência. Um dos projetos é o Frutiindo, que foca no manejo sustentável de frutíferas, especialmente a palmeira do açaí, nas terras indígenas de Oiapoque, no Amapá. Outro projeto é o banco de germoplasma, que armazena o material genético de espécies vegetais tradicionais dos povos indígenas, e que pode devolver as sementes quando elas se perdem nas aldeias por motivos diversos.

– A Rede de Sementes do Xingu é uma iniciativa que reúne mais de 600 coletoras e coletores que vivem nas regiões das bacias hidrográficas do Xingu e Araguaia. Elas e eles coletam sementes de espécies nativas da floresta e do cerrado, e as vendem para projetos de recuperação ambiental na região. A rede conta com a participação de diversas etnias indígenas, como os Kayapó, os Yudjá, os Ikpeng, os Kawaiwete e os Kisêdjê.

– A Associação dos Povos Indígenas Parakanã (APIPA) é uma organização que representa os Parakanã, um povo indígena que vive no Pará. Entre as atividades da associação está a coleta de sementes florestais, que são usadas para reflorestar áreas degradadas dentro e fora das terras indígenas. A associação também promove a educação ambiental entre os indígenas, e busca valorizar os conhecimentos tradicionais sobre as plantas e seus usos.

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