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Afro-indígena: um debate não recente e necessário

Afro-indígena: um debate não recente e necessário
Por Amazônia Real

O tema escolhido para esta coluna, escrita em um feriadão espremido entre o “dia dos povos indígenas”, o feriado de Tiradentes e um fim de semana seguinte, vem justamente de uma reflexão sobre a questão indígena, os usos práticos do passado (Tiradentes) e do tempo que um feriadão proporciona para ler coisas interessantes como o texto do caro historiador Benedito Emílio da Silva, sobre a questão afro-indígena a partir da análise e crítica do discurso de Darcy Ribeiro.

O debate sobre isso não é recente, e em especial aqui na Amazônia onde, além do discurso da “caboclitude/mestiçagem” apropriado para fins políticos e anti-indígena e anti-negro, temos o constante questionamento “índio de verdade”, que por fim se soma à uma histórica negação da presença negra na região.

O interessante é que apesar de contrariar teorias antropológicas estanques que atribuem características étnicas definidas para os diversos grupos ou refutam identidades mistas como a teoria da hipodescêndência (que diz que o produto de miscigenação é sempre alocado do lado menos valorizado socialmente de sua ascendência múltipla, negando portanto o “mestiço social”), temos no caso da relação entre afros e índígenas na Amazônia e, mais recentemente, uma tentativa de “costura” entre essas pertenças.

O fato é que a presença indígena nunca foi contestada na Amazônia; a “caboclitude” sempre foi mais uma tentativa de “aproximação branqueadora” do indígena ao ideal branco que o inverso, enquanto a negritude amazônica vinha sido invisibilizada sistematicamente. No entanto, não apenas na região amazônica, mas em todo território do atual Brasil os grupos não hegemônicos, isto é, não-brancos, de modo geral sempre interagiram em insurgência à dominação branca, prova está nos quilombos e mocambos que abrigavam todos esses marginalizados pela sociedade colonial e imperial.

Para além do fato que tanto afros quanto indígenas eram “negros” para o antigo regime. Aliás, oficialmente ao menos até às alterações pombalinas do XVIII, uma questão histórica, antropológica e sociologicamente as manifestações culturais miscigenadas são registradas desde então, sem necessariamente anular as identidades “originais”.

O comum sentimento de “não lugar” dos indivíduos produzidos por caldeamento passou a dar lugar à uma reivindicação por um complicado “lugar misto independente”. Ou então, a uma percepção de identidades múltiplas, porém unidas, o que é muito mais razoável.

Lembrei e resgatei, por exemplo, a união vivenciada pelos movimentos indígenas e negros no Amazonas por volta de 2005 na época das preparações para a I Conferência Nacional de Igualdade Racial e no seu pós. A imagem que ilustra este artigo possui elementos de matéria em “A Crítica” sobre as comemorações da Consciência Negra em 2006, em que essa união é sintetizada por uma imagem negro-indígena e uma foto da nossa querida cantora Márcia Siqueira, obviamente muito associada com o “caboclo/indígena”, mas que tem uma “identidade negra” muito latente em todos os sentidos, em pose comigo, associado obviamente à negritude.

Ignorar ou negar essa relação entre indígenas e negros, tem produzido problemas práticos como no caso de reconhecimento de remanescentes de quilombos, dado a grande miscigenação e variedade fenotípica e cultural nesses lugares fora do mainstrem da sociedade branca-envolvente. Causa também, dúvidas pessoais de pertencimento, que em primeiro momento parecem complicadas de decidir, mas basta atentar para a prática agora usual do reconhecimento indígena, o conhecimento de sua própria condição ancestral, mas também o viés cultural majoritário da pessoa e principalmente o reconhecimento da nação em que se insere. Fora disso é muito mais fácil ser “negr@”, que historicamente aceita muito menos “homogeneidade étnica-cultural” e fenotípica, tampouco dificulta uma natural e estratégica aliança afro-indígena. #pazentrenosguerraaossenhores


A imagem que abre este artigo é uma composição de dois retratos do Jardel Juruna, liderança da aldeia São Francisco, no Pará. (Fotos: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real).

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