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O blecaute recorde da Albrás: 10 anos

O blecaute recorde da Albrás: 10 anos


Reproduzo este texto, publicado na 2ª quinzena de março de 2001, pela sua atualidade pedagógica.
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Parecia um capricho da : o presidente do CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) do Pará, Messias Filho, estava passando o microfone para o presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes, iniciar sua palestra sobre a nova grande obra hidrelétrica do , a usina de Belo Monte, no Xingu (quase do tamanho de Itaipu, com 11 mil megawatts), na quarta-feira da semana passada, em Belém. Nesse exato momento a luz faltou.

O blecaute durou uma hora. Esse tempo no escuro completo, dentro do auditório do CREA, em Belém, parecia ter um objetivo: lembrar o apagão de exatamente 10 anos antes. O mais traumático da história recente do Pará.

A 8 de março de 1991, a energia elétrica foi interrompida ao meio-dia, em plena sexta-feira. Só voltou à meia-noite. A causa oficial foi atribuída a um raio, que teria atingido uma das mais de 700 torres metálicas (cada uma com 30 metros de altura) da linha de transmissão – de 330 quilômetros – entre a hidrelétrica de Tucuruí e a subestação de Vila do Conde, no distrito industrial da região metropolitana.

Um dos ramais dessa linha serve Belém. O outro, à Albrás, a maior fábrica de alumínio do continente, na qual a Companhia Vale do Rio Doce e um consórcio japonês são sócios [a Vale, já privatizada, se retirou da sociedade, vendendo a sua parte, majoritária, à multinacional norueguesa Hydro]. Sozinha, a Albrás (Alumínio do Brasil S/A) representa 1,5% de todo o consumo de energia do Brasil e uma vez e meia a demanda da capital paraense, com seus 1,2 milhão de habitantes. Sua conta de energia é equivalente a 7 milhões de dólares ao mês.

Por causa da interrupção de 12 horas no fornecimento, a Albrás foi vítima do maior acidente causado pela falta de energia que uma indústria de alumínio já sofreu no mundo em toda história. Nos Estados Unidos ocorreu um desligamento maior, na Alumax (em Monte Holly, na costa Oeste), provocada pela aproximação de um furacão. No entanto, a fábrica foi desligada com programação, em condições bastante diferentes de um desligamento intempestivo.

O problema surgiu um mês depois que a Albrás alcançou sua plena capacidade de produção (de 340 mil toneladas de lingote de alumínio), desde o início das suas operações comerciais, em julho de 1985, após investimento de US$ 1,4 bilhão. Os 854 fornos da fábrica já começavam a entrar na fase de perda total quando a energia foi restabelecida.

O prejuízo foi calculado oficialmente em US$ 42 milhões, dos quais US$ 26 milhões foram indenizados pelo seguro. Mas a empresa levou seis meses para restabelecer a plena produção. Houve uma perda de 38 mil toneladas de metal. Outras 43 mil toneladas foram produzidas fora das especificações, sendo comercializadas a preço inferior.

O prejuízo teria sido muito menor se a Albrás (que no ano passado faturou um bilhão de reais e teve lucro de R$ 111 milhões) não dependesse, até hoje, depois de 15 anos de funcionamento, de uma linha singela para receber energia da usina de Tucuruí, a maior inteiramente nacional de todos os tempos. Só agora essa linha vai começar a ser duplicada, com previsão de 14 meses para a conclusão da obra e investimento de R$ 155 milhões.

Foi a primeira grande linha de transmissão de energia licitada para a iniciativa privada na Amazônia, no mês passado. Mas a Albrás, que durante muitos anos manteve em suspenso um projeto para fazer ela própria a duplicação, com financiamento do Eximbank japonês, acabou ficando de fora. A Alumar, outra grande fábrica de alumínio, que se implantou simultaneamente em São Luís do Maranhão, produto da sociedade entre a Alcoa e a Billiton, conta com linha dupla de energia há quase 10 anos.

Na última quarta-feira, o blecaute – que deixou três milhões de pessoas sem energia – foi atribuído novamente a raios. Desta vez, eles não caíram sobre a torre. A linha é que foi desligada automaticamente para prevenir exatamente ser atingida por raios, devido às descargas elétricas que acompanham as chuvas pesadas que caem na região durante o atual período. Mas a Aneel, a agência estatal que controla o setor, prometeu cobrar com rigor uma explicação da Eletronorte.

Embora a causa oficial do acidente de 10 anos atrás também tenha sido atribuída a raios, na verdade, o desligamento da energia se deveu ao rompimento de uma haste de sustentação de um dos cabos em uma das torres, de qualidade inferior ao que as especificações técnicas exigiam. Em vez de ser de ferro fundido, a peça, por ser de ferro forjado, entrou em colapso de fadiga antes do tempo previsível, pegando de surpresa a Eletronorte e a Albrás. Apenas este jornalista, na época, contestou os termos da nota oficial da empresa, revelando a causa verdadeira do acidente.

A paralisação de quarta-feira passada foi de apenas uma hora, mas esquemas de emergência foram logo acionados, como efeito da síndrome de 1991. Numa avaliação exigente, porém, ela parece não ter sido suficiente para fazer o governo dar ao problema a gravidade que ele sempre teve. Todos os que dependem de Tucuruí para dispor energia, num bico de luz ou num super-forno de fundição, ainda vão ter que esperar até meados de 2002 para não ficar dependendo de uma linha isolada.


A imagem que abre este artigo mostra a planta da refinaria de alumínio da Albrás, em Barcarena (Foto: João Ramid/Norsk Hydro/ASA).


As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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