Essa foi a última frase – de acordo com testemunhas oculares – da ativista ambiental e missionária católica Dorothy Stang antes de ser alvejada por seis tiros, em uma embosca, em uma área do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) no assentamento Esperança, em Anapu, no Pará.
Nascida em Dayton, Ohio (EUA), em 7 de junho de 1931, Dorothy Mae Stang chegou ao Brasil em 1966, onde naturalizou-se. Começou sua missão no Maranhão, mas foi na década de 70 que firmou seu trabalho e atuação na Amazônia, na Região do Xingu.
Em Anapu, Dorothy foi a responsável pela implantação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança, modelo de assentamento e gestão que produzia uma fonte segura de renda com a colheita de madeira, sem destruir a floresta. A área era disputada por madeireiros e latifundiários, que encomendaram a morte da ativista.
Com 17 anos, Dorothy Stang decidiu seguir a vida religiosa. Sua congregação era a das Irmãs de Nossa Senhora de Namur, cujo principal missão é desenvolver trabalho voluntário junto à comunidades carentes.
Ainda na década de 50, antes de vir ao Brasil, a missionária passou por 8 anos de estudo e chegou a lecionar nos Estados Unidos. Fez votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência.
Sua atividade pastoral e missionária se iniciou na cidade de Coroatá, no Maranhão. Seu foco estava na buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, junto aos trabalhadores rurais da Transamazônia.
Sua trajetória passa por sete estados brasileiros: Amazonas, Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará e Paraíba, e seu papel junto aos trabalhadores era encerrar conflitos sociais.
Um dos principais objetivos de Dorothy era manter o diálogo com lideranças camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções para os conflitos relacionados à posse e exploração de terras.
Em 1982 Dorothy decidiu ir para o Pará e se fixou na Vila de Sucupira, no município de Anapu. Uma das amigas de Dorothy, a religiosa Rebeca Spires, em uma entrevista, lembrou do pedido que escutou da missionária: “você tem que aprender a Bíblia em português, mas tem que aprender o Estatuto da Terra, porque nós trabalhamos com lavradores e eles têm que saber como defender seus direitos. Os direitos que a lei reconhece, a gente tem que conhecer e ensinar o povo para eles saberem como batalhar por si. A gente não vai ficar a vida inteira batalhando por eles, eles que têm que fazer”.
Dorothy também fez parte da Comissão Pastoral da Terra ainda na sua fundação e liderava os diálogos entre as lideranças locais, políticas e religiosas. Durante esse tempo, a religiosa fundou a primeira escola de formação de professores em Anapu, a Escola Brasil Grande.
Dorothy Stang sempre recebia ameaças de morte, porém nunca se intimidou. Em 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos, foi vítima de uma emboscada e morta a tiros enquanto transitava por uma estrada de terra em Anapu.
Nesta época, ela trabalhava a favor da implantação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança em comunidades extrativistas da região. Isso ia de encontro com os poderosos da região que por diversas vezes a ameaçaram.
Segundo uma testemunha que viu o crime acontecer, ao ser abordada pela dupla de assassinos, a irmã mostrou a bíblia e leu alguns trechos do livro sagrado. As investigações confirmaram a participação de 5 pessoas no homicídio: dois fazendeiros, dois pistoleiros e um capataz.
Um dos mandantes, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, foi condenado no primeiro julgamento, em 2007, a 30 anos de prisão. Na época, a lei dizia que qualquer pessoa condenada a mais de 20 anos tinha direito a um segundo julgamento.
E foi durante esse segundo julgamento, em 2008, que o fazendeiro foi inocentado graças a um depoimento do seu capataz Amair Feijoli Cunha, assumindo a culpa. A promotoria não se conformou com o resultado e pediu a anulação do julgamento.
O corpo da missionária está enterrado no município que ela escolheu para defender “os pobres mais pobres”, como ela mesma se referiu ao pedir autorização do bispo para trabalhar na região.
Dorothy ampliou o debate sobre exploração e posse de terras e sua luta e morte repercutiram internacionalmente. Em 2004 recebeu premiação da Ordem dos Advogados do Brasil (seção Pará) pela sua luta em defesa dos direitos humanos.
Conforme levantamento da Comissão Pastoral da Terra, entre 2005 e 2014, 325 pessoas teriam sido assassinadas no Brasil em razão de conflitos de terra — 219 na Amazônia.
O número de assassinatos de ativistas ligados a causas ambientais bateu um novo recorde em 2020. No ranking global, o Brasil aparece na quarta posição, com 20 assassinatos, atrás apenas de Colômbia, México e Filipinas.
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