Em carta aos amigos, o padre Ricardo Rezende relatou o êxito da campanha da qual participou, depois de anos de atuação na conflituosa região do Araguaia. A Volkswagen foi condenada a pagar a maior multa sobre trabalho escravo no Brasil. Mas ainda pode recorrer.
Foram quase 5 décadas de espera para o desfecho do caso de trabalho escravo em fazenda da Volkswagen. Finalmente houve uma sentença condenando a empresa pelo trabalho escravo. O juiz deu maior penalidade até agora por este crime no Brasil: 165 milhões de reais.
Lembrando rapidamente a história: estando na Diocese de Conceição do Araguaia desde 1977, recebíamos na CPT denúncias de crimes de escravidão na fazenda Vale do Rio Cristalino, no Pará, que pertencia à VW, ocorridos alguns anos antes. Não tínhamos provas suficientes e não havia como realizar um flagrante. A conjuntura política e social era adversa. A VW contava com o apoio da ditadura e a cumplicidade das autoridades locais.
A denúncia foi realizada em 1983, na CNBB, por sugestão do então Secretário Geral e amigo Dom Luciano Mendes.
Cinco jovens haviam escapado, três com 17 anos, e retornado para o norte do Mato Grosso. Moravam na Prelazia de São Felix do Araguaia e outros centenas de trabalhadores estavam ainda retidos na propriedade. Não lhes permitiam sair.
Fui avisado pela CPT local e estive com eles no MT e um dos rapazes, o mais velho, Zeca, de 24 anos, me acompanhou a Belém, onde tínhamos marcado uma audiência com o governador Jader Barbalho. A viagem foi frustrada. O governador tinha viajado para Brasília. Avisamos a assessoria do governador e fomos a Brasília e ele já não estava no Rio de Janeiro.
Diante disso, Dom Luciano sugeriu a coletiva.
Uma comitiva composta por três parlamentares, sindicalistas e imprensa esteve na fazenda com membros da direção brasileira da empresa, constatou os fatos denunciados e outros e se comprometeu a demitir os empreiteiros denunciados.
Aparentemente a denúncia não teve efeito. A empresa não demitiu nenhum dos empreiteiros e continuou a incidir no crime da escravidão por dívida de milhares de trabalhadores até o final de 1986, quando vendeu a fazenda Vale do Rio Cristalino.
Agora, finalmente, foi julgada e condenada pelo Juiz do Trabalho de Redenção em uma Ação Civil movida pelo Ministério Público do Trabalho.
A penalidade: – pagamento de 165 milhões de reais;
– Pedido de desculpas ao país e às vítimas público na imprensa nacional
– Um compromisso de não incidir novamente no crime da escravidão nem direta nem indiretamente através de seus fornecedores.
Lamentavelmente ela vai recorrer. Localizamos alguns dos que prestaram depoimentos naquela época e muitos dos que foram vítimas já não estão vivos e outros poderão morrer nesse interim.
E a VW, no decorrer da II Grande Guerra, já havia utilizado na Alemanha mão de obra de prisioneiros de campos de concentração. Na Alemanha, na década de 1980, reconhecia o crime e reparava as vítimas ou seus parentes, enquanto no Brasil realizava o mesmo crime do passado.
Houve inutilmente quatro tentativas de negociação entre o MPT e a VW. Agora a condenação judicial.
Tem havido muita repercussão externa. A grande mídia brasileira mantém um silêncio sintomático.
A imagem de 1983 que abre este artigo mostra um trabalhador que conseguiu escapar, da Fazenda da Volkswagen, mas foi capturado pelo “gato”, capanga conhecido por Abilão, e mantido preso na camionete. A foto foi registrada durante a comitiva parlamentar (Foto: Arquivo pessoal/Expedito Soares).
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