O sertão é onde manda quem é forte, já dizia sabiamente Guimarães Rosa. E é com a força de um laranja vibrante, que contrasta com o corpo preto, que uma pequena libélula se destaca na paisagem do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, no norte de Minas Gerais, divisa com a Bahia. O inseto, uma espécie até então desconhecida, recebeu o nome científico Argia sertaneja, uma homenagem, claro, ao sertão onde vive.
A libélula-sertaneja foi registrada por um time de cientistas do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) e descrita em artigo publicado no periódico científico Zootaxa. O inseto foi encontrado no município mineiro de Chapada Gaúcha.
A descoberta fez parte de um grande esforço de pesquisa e coleta que durou 18 meses, entre 2022 e 2023, para documentar a diversidade de vespas e libélulas no parque.
No final do ano passado, outra espécie de libélula (Minagrion veredae) foi descrita para a ciência, fruto da mesma coleta feita pelos pesquisadores na unidade de conservação. O batismo é uma referência a outro elemento importante do parque: as veredas, vegetação que ocorre em áreas úmidas, como charcos, típico do Cerrado. E o nome não é à toa, pois este é o ambiente onde o inseto foi encontrado.
Há apenas cinco espécies conhecidas para este gênero – Minagrion – que é exclusivo do Brasil e cujo nome faz referência, justamente, à Minas Gerais. “A última espécie descrita aconteceu em 1960. É um achado muito importante para a taxonomia de odonatas [grupo dos insetos alados] no país”, comenta o pesquisador Diogo Silva, do IFMG — Campus Inconfidentes, um dos autores do estudo.
Outro autor da descoberta, Diego Vilela, professor visitante do IFMG, reforça a importância deste inventário da fauna das áreas protegidas. “Essas pesquisas em unidades de conservação são importantes para conhecermos a distribuição dessas espécies e definirmos estratégias de conservação delas”, explica.
O Parque Nacional Grande Sertão Veredas foi criado em 2004 e abrange uma área de pouco mais de 230 mil hectares de Cerrado, na divisa dos estados de Minas e Bahia. O nome do parque é uma homenagem ao escritor Guimarães Rosa, autor do romance homônimo.
*com informações do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG)
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