Lúcio Flávio Pinto começou janeiro de 2012 apresentando esta proposta aos seus leitores. Passados 12 anos, a ideia não se realizou. Passados 13 anos, ainda valeria a pena criá-la para a COP 30, ao menos abrindo uma fresta da maciça presença do “outro Brasil” nesta malograda região?
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Prezado amigo.
A Amazônia tem vida inteligente?
Lá “embaixo”, no outro Brasil, o mais rico, tem muita gente apostando que não. Não só apostando: valendo-se dessa crença. Em muitos, ela é firme, ainda que falsa. Nas mãos de outros, vira ferramenta, às vezes gazua.
Por isso, ignoram a vontade dos que vivem na Amazônia, dos que realmente fizeram sua opção pela região, tenham ou não nascido nela.
Com o livro que estou organizando, pretendo mostrar que a Amazônia tem inteligência. Que essa inteligência criou história. Que o acervo dessa história nos credencia a reivindicar o direito de decidir sobre o nosso destino. E a reagir contra o que não nos satisfaz.
Não quero fazer um panfleto ou um libelo. A partir da nossa indignação, quero montar um documento sólido, capaz de mostrar que sabemos sobre a Amazônia tanto ou mais do que qualquer outro Estado, outra instituição, outro grupamento populacional. Por isso, não podemos ser ignorados.
Vamos criticar, com fatos e raciocínios, o que tem sido proposto e o que tem sido feito na Amazônia. Cada um vai encarar o problema da sua ótica, utilizando seus conhecimentos específicos e sua experiência, remontando no tempo conforme sua demonstração exigir.
Mas vamos também apresentar a nossa proposta para desenvolver a Amazônia de uma forma diferente, que resulte mais e melhor para o país, e para nós também.
Nosso esforço é livrarmo-nos do laço colonialista armado sobre o nosso pescoço, do crescimento que nem rabo de cavalo: para baixo.
Temos que desmascarar as falsas soluções tecnológicas, as concepções equivocadas, os maus resultados em contraposição às generosas promessas.
Tudo isso sem retórica. Um texto conciso, direto, claro. Sem raciocínio cheio de floreados, de muitos “considerandos” e escassos “finalmentes”.
Escolhi você para participar dessa empreitada. Porque você tem dentro de si uma história muito rica, um conhecimento excepcional. Você representa uma parte da história da Amazônia. E, por consequência, uma engrenagem dessa inteligência que tem sido ignorada nas decisões tomadas sobre a região.
Tenho certeza de que, refletindo sobre essa proposta e procurando dentro de si os elementos para atender a essa conclamação, você saberá resumir num texto que, por enquanto, não pretendo bitolar num tamanho-padrão, fará os donos do poder estancar um pouco sua volúpia de mando.
Quando nada, instauraremos um debate. Emitiremos nosso contracanto. Teremos que ser ouvidos. Em síntese: o que tem sido para você a ocupação da Amazônia até agora e como você acha que o processo deveria seguir.
Não há um prazo definido para que você envie seu texto. Pode ser até que este projeto não se realize, que fique apenas numa tentativa de ensaio ou numa mera sondagem. Mas quero tentar organizar uma resposta amazônica para o mundo que se interessa pela Amazônia. Pode mandar seu texto ou apenas observações para [email protected], e um currículo atualizado. Se esta ideia inicial evoluir para uma antologia de textos, voltarei a fazer contato. Talvez possamos chegar juntos a uma categórica resposta positiva: sim, há inteligência na Amazônia.
Lúcio Flávio Pinto
A imagem que abre este artigo mostra urnas funerárias do século V, encontradas no Marajó e durante uma exposição no Museu Arqueológico do Forte do Castelo. (Foto: Rodolpho Oliveira /Arquivo Agência Pará).
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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