“Quem têm ouvidos para ouvir, ouça!” (Marcos, 4:9)
Silenciados ou não gritos por Socorro são incessantes. Avançam por séculos… Vêm das ancestralidades em sintonias com o Ventre da Mãe Terra; vêm de periferias urbanas e rurais; vêm de presídios, de sistemas hospitalares, de espaços domésticos, empresariais, institucionais; vêm de canis, currais, aviários…
Na contramão do caos e do falseamento ideológico sobre o sete de setembro destacado como “Independência do Brasil”, a 2a Semana Social Brasileira e da Campanha da Fraternidade junto a movimentos Populares, em 1994, decidiram “gritar” em defesa de todas as formas de vida sob processos de opressão, de exclusão que nos agridem há mais de 1500 anos da EC*.
O primeiro “grito” – “A vida em primeiro lugar” denunciava os desfiles cívicos, a exclusão social, o desemprego, a fome e a negação de direitos no Brasil. Era visível. Os modelos administrativos (representativo, participativo) alinhados ao perfil piramidal desenharam a atual conjuntura que pouco ou nada mudou. Em princípio, os “gritos” lançados há 31 anos são estratégias militantes contra violências estruturais/estruturantes: ecos de resistência em defesa de uma legítima democracia.
Em realidade, a maioria de vidas que habita o Planeta encontra-se em situação de exclusão. A ética de mercado é a base mundial de dominação; logo, tudo vira mercadoria independentemente da espécie. A contaminação é generalizada. Um dos canais de maior vulnerabilidade é o sistema de ensino, rotulado de educação: reproduz padrões colonizantes e mercantiliza massas humanas condenadas à submissão e exclusão. Há 203 anos, as fantasias do sete de setembro brasileiro vêm manipulando consciências e submetem as novas gerações ao padrão cívico patriotesco: “Direita, volver!”. Poucos escapam ao jogo democracista comandado por “Heróis sem nenhum caráter”, segundo o Escritor Mário de Andrade, na Obra Macunaíma, publicada em 1928.
Sob tal lógica, a grande maioria oprimida (classe trabalhadora, servidores públicos e privados, até mesmo representatividades políticas…) não se apercebe, não se reconhece em tal condição e, qual burros de carga, sustenta nas costas o poder opressor.
Registros históricos oficializados, conforme os comandos da época, em 1822, às margens do Rio Ipiranga (SP) Pedro I proclamara a “independência ou a morte” do Brasil e respectivo povo. A questão: independência de que e de quem? A quem e a que estão submetidas as categorias em situação de cativeiro? E qual o destino de ativistas em luta perene por uma legítima e efetiva independência política, social, popular e econômica?
Já se vão 203 anos e o cenário de dominação sobre desvalidxs permanece (Fotos: Floriano Lins e Fátima Guedes).
Neste 2025, os “gritos” por “Por um Brasil Justo, Soberano, Combatente a Todas as Formas de Exclusão” insistem retumbar no céu da Mátria:
É a classe trabalhadora esperançando por concursos públicos, submetida a “pregos” de gestores; é a base explorada por poderes ditos administrativos reagindo ao cabresto dos seletivos manipulatórios da politicagem; são resistências populares combativas a um congresso nacional traidor de direitos democráticos; são vidas selvagens reagindo aos PLs de Devastações, às Privatizações dos territórios mascaradas de ESTATIZAÇÕES; são os seres dos campos, das florestas e das águas condenados à contaminação e extinção; são os milhares de animais abandonados, violentados nas ruas sem cuidados digno à sobrevivência; são as populações adoecidas, marginalizadas, mendigando atenção básica e plena; são Populações em Situação de Rua sem quaisquer atenções de quem de DEVER e do DIREITO; são mulheres exploradas, analfabetizadas sob às rédeas do machismo político social; são passageiros de embarcações fluviais da Amazônia submetidos a precárias e insalubres condições de viagens; são pássaros traficados via transportes fluviais gemendo em gaiolas escondidas entre mercadorias…
Há também gritos estridentes em forma de relâmpagos, raios, trovões, ventanias, tornados, chuvas torrenciais, aquecimento térmico, terremotos, cheias de rios e vazantes descontroladas… É a voz da Mãe Terra trazendo seus acordes de reeducação e reconexão à Teia da Vida*.
Impossível calar! Socoooooorro!
A imagem que abre este artigo foi feita durante o 31º Grito dos Excluídos das Excluídas, na periferia de Manaus, com o tema “Vida em Primeiro Lugar” e o lema “Cuidar da casa comum e da democracia é luta de todo dia”, ecoando os gritos pela vida, pela floresta e pela democracia, realizado no último dia 5 de setembro, data de duas celebrações importantes para o povo do Amazonas (Dia da Elevação à categoria de Província e Dia da Amazônia) e mostra Dom Leonardo Ulrich Steiner no carro de som (Crédito: Assessoria de imprensa da Arquidiocese de Manaus).
Falares de Casa
EC – Era Comum, para o que conhecemos d.C. (depois de Cristo) intuito de utilizar uma expressão neutra em termos de referências religiosas. Anelize De Carlie Silva Zonatto. (In Sonhário – 2024)
Teia da Vida – É a TEIA de relações pelas quais tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e em todas as circunstâncias. É o funcionamento articulado de sistemas e subsistemas que tudo e a todos englobam.(Leonardo Boff. In Entre Mulheres, Cachimbos e Xamãs. 2016.
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