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Horrific horror santa claus old man with spikes coming out and blood, gory and scary

Sobre histeria coletiva

Sobre histeria coletiva

Há alguns dias assisti a um documentário sobre as “Bruxas de Salém”. Os fatos relacionados a esta história se passaram no século XVII, na cidade de Salém, na região da Nova Inglaterra, nordeste dos atuais Estados Unidos da América.
Era uma população conservadora, fundamentada na religião, com todos prós e contras relativos a essa condição.
Em uma ocasião, na pacata cidade, uma adolescente teve, ou simulou ter, um surto psicótico, no qual afirmava que uma das cidadãs locais a estava enfeitiçando. O caso foi ganhando corpo e, em pouco tempo, outras pessoas passaram a se dizer enfeitiçadas, responsabilizando não só a “bruxa” inicial, mas também novas “bruxas”. As delações passaram a ser levadas ao tribunal, onde um juiz linha dura, ex-pastor presbiteriano e, portanto, com profundas crenças religiosas, ansioso por mostrar sua “integridade” aos habitantes, estabeleceu que “evidências espectrais” – resultantes de visões ou sonhos dos acusadores – seriam aceitas como fatos e utilizadas como prova das bruxarias.
Não demorou muito para que, movidos pelos boatos e intrigas decorrentes do caso, os moradores locais fossem tomados por um medo irracional do desconhecido. O horror de se tornar vítima dos feitiços contaminou a população a tal ponto, que criou pânico geral, fazendo com que em toda a região se estabelecesse um clima de “defesa da moral”. Com delações descabidas, mais de duzentas pessoas foram acusadas de lançar pragas sobre seus semelhantes e submetidas a humilhações e desonras.
Sem saber o que combater, cada indivíduo, temeroso e ávido para dar provas de sua moralidade e religiosidade, procurava ser mais radical que os demais nas demonstrações de “santidade e pureza”. Todos buscavam, mais e mais, se alimentar de argumentos que pudessem dar contornos de credibilidade aos supostos enfeitiçamentos e respectivas acusações, rejeitando a sensatez, porque isso poderia parecer defesa da bruxaria.
As manifestações em favor de uma hipotética “reforma moral” de toda a sociedade exacerbavam os espíritos, fomentavam a radicalização de comportamentos e exigiam medidas radicais, já que os que estava em jogo era defesa de todos, potenciais vítimas dos feitiços.
A exibição de comportamentos histéricos e despropositados era aplaudida pela comunidade. As acusações se tornaram mais violentas e os moralistas clamavam por soluções mais contundentes e brutais. De um momento para o outro, tornou-se difícil diferenciar insanidade e bom senso, como se a maioria vivesse dissociada da realidade, num mundo paralelo que se realimentava das invencionices e desvarios dos mais extremados.
No final, a quantidade de mentiras, ilações, delírios e absurdos comportamentais levou à forca dezenove cidadãos obviamente inocentes e matou uma idosa esmagada sob pedras.
Os resquícios daquela convulsão social perduraram por muitas décadas e, até hoje, passados três séculos, ainda é possível perceberem-se sequelas daquele episódio mórbido da história norte-americana.
Similarmente, a Alemanha, motivada pela histeria nazista, causou a morte de cerca de quarenta milhões de seres humanos na Segunda Grande Guerra.
Que lição podemos tirar de casos como estes?
A conclusão a que se chega é que é fácil manipular a mente das pessoas, especialmente quando se consegue mexer com seu instinto de sobrevivência. É desse instinto que decorre o medo, o estado de alerta e a consequente postura defensiva e reativa que faz com que quem se sente ameaçado busque proteção de seus iguais, aliando-se a grupos de defesa compostos pelos que experimentam a mesma sensação de insegurança.
Não importa se a ameaça é real ou não. Os indivíduos que fazem parte desses grupos passam a partilhar um ideal comum, que é combater a causa de seus temores. E, na medida que conseguem imputar essa causa a alguém, a um conjunto de indivíduos ou a uma instituição, estará formado o caldo de cultura para uma convulsão social ou para uma guerra, pois com isso os pretensos ameaçados agora passam a ter um “inimigo real” contra o qual lutar. Desse ponto em diante, qualquer coisa que fizerem para extirpar a “ameaça” será validado pelos grupos que os suportam. Vale tudo: preconceitos, difamações, injúrias, calúnias, agressões, depredações, ataques e, como vimos, até atentar contra a vida. Arrasam-se reputações. Destroem-se famílias, comunidades, instituições, organizações, cidades e nações.
Algumas das maiores atrocidades da humanidade foram cometidas fomentando-se situações assim. Como diz Isaac Asimov em um de seus livros, _O medo é a maior fonte das superstições e uma das principais causas da crueldade._
Portanto, nos dias atuais, onde a massificação da informação pela mídia e pelas redes sociais domina todos os quadrantes da vida, mais do que nunca é preciso exercitar a busca pela verdade, atenda ela ou não aos nossos anseios. Caso contrário, corremos o risco de ter nossas mentes capturadas e de nos tornarmos meras peças manipuláveis de um jogo de poder que sequer somos capazes de compreender.

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