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Sentados sobre petróleo, países se reúnem no Azerbaijão para discutir crise climática

Sentados sobre petróleo, países se reúnem no Azerbaijão para discutir crise climática

Em Baku, capital do Azerbaijão, tudo foi construído com dinheiro do petróleo, produto que há séculos movimenta a economia e o desenvolvimento do país. Nesta pequena nação, situada na fronteira entre a Europa e a Ásia, às margens do Mar Cáspio, a lembrança dos combustíveis fósseis está por toda parte: do museu dedicado exclusivamente à história da exploração a prédios modernos que se assemelham às chamas geradas na queima do combustível. É neste local que representantes de cerca de 200 países se reúnem, a partir desta segunda-feira (11), para discutir como enfrentar a crise que sua maior riqueza ajudou a criar.

Durante a 29ª Conferência do Clima da ONU, os países-membros vão se debruçar sobre o tema que talvez seja o mais espinhoso das convenções e que tem sido empurrado com a barriga há muitas edições: o financiamento climático. 

Nas próximas duas semanas, negociadores vão tentar responder perguntas cruciais para o enfrentamento da crise: de quanto dinheiro estamos falando para que as metas do Acordo de Paris – o tratado internacional mais importante sobre mudanças climáticas – sejam de fato cumpridas, e quem vai pagar esta conta. Uma negociação difícil, num contexto mais difícil ainda.

Não fosse suficiente a escalada de violência nos conflitos envolvendo as nações vizinhas à sede da COP29, em especial a guerra entre Irã e Israel e o conflito da Rússia versus Ucrânia, e o fortalecimento do negacionismo no mundo, com destaque para a recente eleição de Donald Trump nos EUA; a presidência da COP29 vai precisar desfazer a má impressão causada por sua passada e presente.

O Azerbaijão é um dos exemplos mais notáveis de nações fortemente dependentes do petróleo no mundo. De acordo com dados do Instituto de Pesquisas de Baku, o setor de petróleo e gás é responsável por 48% do total do PIB do país, com 52,7% dos recursos do orçamento provenientes das receitas do petróleo e com produtos petrolíferos representando 92,5% de suas exportações totais. 

Ainda que o governo se diga comprometido com a transição energética, os projetos hoje existentes são pífios ou ainda estão só no campo das ideias. Uma caminhada pela cidade mostra que não é só o governo que tem preterido o assunto. “O tema das mudanças climáticas não é algo que faz parte da nossa agenda”, disse a ((o))eco Gani Nasirov, guia turístico em Baku.

Apesar de todos estes desafios, o presidente da COP29, Mukhtar Babayev, está otimista. “A COP29 é um momento imperdível para traçar um novo caminho para todos. Trabalhamos incansavelmente para construir as bases do sucesso”, disse Babayev, atual ministro da Ecologia e dos Recursos Naturais do Azerbaijão. 

“Esta é uma oportunidade, devemos investir hoje para salvar o amanhã”, completou Babayev, que também já foi vice-presidente da Companhia Estatal de Petróleo da República do Azerbaijão. Qualquer semelhança com o presidente da Conferência realizada em 2023 nos Emirados Árabes pode não ser coincidência. 

O presidente da COP29, Mukhtar Babayev, discursa na abertura da Conferência. Foto: UN Climate Change/Kamran Guliyev

Show me the money

Em seu discurso na abertura da Conferência, Mukhtar Babayev disse que a estratégia para conseguir alcançar o sucesso é baseada em dois pilares: “aumentar a ambição e permitir a ação”. Isso significa, segundo ele, que os países devem estabelecer planos climáticos claros – por meio de suas metas nacionais, chamadas de NDC – e garantir o financiamento.

O primeiro item está acontecendo, mas a passos de tartaruga. Os países signatários têm até fevereiro de 2025 para apresentar suas metas climáticas, porém era esperado que os números aparecessem nas vésperas e durante a COP29. Até o momento, apenas e Emirados Árabes Unidos o fizeram, e com metas que deixaram a desejar. 

O segundo ponto – dinheiro – só depende mesmo de vontade política. Apenas os gastos militares globais já ultrapassam 2 trilhões de dólares e os subsídios atuais para combustíveis fósseis são sete vezes maiores do que a meta acordada em 2010 – 100 bilhões de dólares anuais – para o combate à crise climática.

A nova meta quantificada para o financiamento climático ainda é uma incógnita. Diferentes países – ou blocos de países – já anunciaram a quantia que acham ser necessária e os valores variam bastante. O que se tem de consenso até o momento é que o “quantum”, como foi chamado, deve ser bem maior do que os 100 bilhões de dólares/ano acordados há mais de uma década e que nunca foi de fato cumprido.

“Precisamos urgentemente resolver as nossas diferenças sobre contribuidores e quantidade e definir o novo objetivo. Estas negociações são complexas e difíceis. Compreendemos as restrições políticas e financeiras. Esses números podem parecer grandes, mas não são nada comparados ao custo da inação. Estamos todos juntos nisso”, disse Mukhtar Babayev.

O Brasil na COP29

O Brasil chega à 29ª Conferência do Clima cercado por um descontentamento de parte da sociedade civil brasileira. Sua nova meta climática – que era aguardada há vários meses – foi anunciada sem aviso prévio, na sexta-feira (8) à noite, em um momento em que muitos dos que acompanham a agenda estavam em trânsito para a distante Baku.

O desagrado principal, no entanto, está na ambição. Segundo análises feitas por organizações brasileiras, os números apresentados pelo governo Lula não são suficientes para que o Brasil cumpra sua parte na missão de manter a média global de aquecimento em 1,5ºC.

O vice-presidente Geraldo Alckmin e a ministra do e Mudança do Clima, Marina Silva, estão ainda a caminho da Conferência. A primeira agenda só acontecerá nesta terça-feira (12). Esta é a data em que a meta climática brasileira será oficialmente apresentada ao mundo e o momento em que os representantes do governo brasileiro se colocarão sob o escrutínio de jornalistas e da sociedade civil para explicar porquê não foram mais ambiciosos.

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site O Eco e são de total responsabilidade do autor.
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