Por Olimpio Guarany
Era um desses dias em que a Amazônia se estendia imponente, um mar de águas cuja cor não sabemos, cobrindo a vastidão do Norte do Brasil. O mar interior amazônico se estendia por pouco mais de 2.000 milhas com uma largura de 800, publicou Alfred Wallace em Londres, 1853. Ali ele confirmava a tese de Orville Derby e Frederico Hartt (1870) que descobriram um grande fossário no rio Maicuru, que corre perto da serra do Ererê em Monte Alegre (PA), testemunho que lhes deu segurança sobre o afloramento e a evolução geográfica do vale Amazônico. Hoje a hileia de Humboldt, verde, exuberante, rica em biodiversidade, vive a expectativa de uma seca nos rios, o que nos leva a preocupação de uma possível mudança de cenário. Em vez da habitual umidade sufocante e do som dos rios caudalosos, surge um cenário árido e silencioso.
Não pretendo celebrar este 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, desenhando um cenário com contornos dramáticos, mas é preciso refletirmos.
A realidade é que as previsões para 2024 são sombrias. Os cientistas alertam que os rios amazônicos, veias pulsantes da maior floresta tropical do planeta, estão a caminho de secar ainda mais do que em 2023.
A mudança climática, essa inimiga invisível, tem desferido golpes cada vez mais duros na Amazônia. As chuvas, que outrora eram pontuais e abundantes, vêm sendo reduzidas. O ciclo de vida da floresta, que depende de um delicado equilíbrio entre sol e chuva, se vê ameaçado por um calor sufocante e pela ausência de umidade. O México já experimentou isso neste semestre. A evaporação das águas e a diminuição dos níveis dos rios comprometem não apenas a biodiversidade, mas também a vida das comunidades ribeirinhas que dependem desses cursos d’água para sua subsistência.
As cenas que vimos no ano passado nos entristeceram. Ribeirinhos caminhando longas distâncias com latas na cabeça para buscar água num fio que passava longe do seu lugar. Lembrei das imagens de Tumbira (AM), uma comunidade às margens do rio Negro, cujo volume de água do igarapé que banha a localidade era tão grande que ancoramos o veleiro a menos de três metros de sua margem, tanto era o volume de água naquele outubro de 2021.
Os impactos são inúmeros e profundos. Não é um cenário de fim do mundo, mas com a seca, o solo resseca, tornando-se menos fértil, e as árvores, antes robustas, ficam mais suscetíveis a queimadas. A fauna, desorientada, vê seus habitats naturais destruídos e suas fontes de alimento escassearem. Peixes morrem em rios que se transformam em meros filetes de água, e a floresta, que antes parecia indomável, mostra-se frágil diante das forças da destruição ambiental.
Este Dia Mundial do Meio Ambiente surge como um apelo urgente à humanidade. Não é apenas uma questão de conservar uma paisagem ou proteger uma coleção de espécies exóticas. A Amazônia é um baluarte crucial no combate às mudanças climáticas globais. É um regulador do clima planetário, uma gigante verde que captura carbono e produz oxigênio, essenciais para a nossa sobrevivência.
Cuidar da Amazônia é, em última análise, cuidar de nós mesmos. É garantir que as futuras e atuais gerações possam desfrutar de um planeta saudável, onde a qualidade de vida não seja um luxo, mas um direito. É indispensável que sejam adotadas políticas coerentes, de ação coletiva e de uma consciência ambiental que permeie todas as esferas da sociedade. A preservação da floresta amazônica não é apenas uma responsabilidade brasileira, mas um imperativo global.
Neste dia, mais do que nunca, somos chamados a refletir sobre nosso papel como guardiões do meio ambiente. Que possamos ouvir o clamor silencioso da floresta, perceber a urgência em suas folhas caídas e rios secos, e agir com determinação e respeito. A Amazônia, nossa majestosa floresta, depende de nós para continuar a cumprir o seu papel. E, em retribuição, garante a nossa sobrevivência e a de incontáveis formas de vida que compartilham este belo e frágil planeta.
Sobre o autor
Olimpio Guarany é jornalista, documentarista e professor universitário. Navegou o rio Amazonas desde a sua foz, alguns afluentes, subiu o rio Napo (Peru e Euqador) e chegou ao sopé da cordilheira dos Andes depois a Quito/Equador (2020-2022), refazendo os caminhos de Pedro Teixeira, o conquistador da Amazônia (1637-1638), numa jornada histórica.
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