Foto: João Cunha/Instituto Mamirauá
O livro ‘Protocolo de Manejo de Abelhas Nativas Sem Ferrão (Meliponini): Reservas Amanã e Mamirauá, Floresta Nacional de Tefé e comunidade Missão, Amazonas, Brasil‘ foi lançado no dia 27 de maio na sede do Instituto Mamirauá. Fruto de mais de três décadas de pesquisa e atuação junto às comunidades ribeirinhas, a publicação representa um marco na promoção da meliponicultura na região do médio rio Solimões, Amazônia.
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O lançamento contou com a presença de pesquisadores, técnicos e representantes de comunidades locais, que participaram ativamente na construção do documento. A obra, realizada pelo Instituto Mamirauá em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e com a colaboração de instituições como Emazon, Rede Mel e IFAM, foi celebrada como um exemplo de integração entre ciência e saberes tradicionais.
“Esse protocolo significa muito para mim. Ele foi muito mais do que fazer ciência. Foi uma forma de honrar tudo aquilo que a floresta amazônica, os rios e as comunidades tradicionais me ensinaram”, destacou, emocionado, Bruce Dickinson dos Santos, biólogo e coautor da obra, natural de uma comunidade da Reserva Mamirauá.
O protocolo está disponível gratuitamente em formato digital no site do Instituto Mamirauá.
O livro reúne informações detalhadas sobre a criação e o manejo sustentável de abelhas nativas sem ferrão — conhecidas como meliponíneos — espécies abundantes na Amazônia que não apenas produzem mel de alto valor, mas também desempenham papel fundamental na polinização de espécies florestais e agrícolas. Elas garantem a fertilidade dos ecossistemas e o equilíbrio da biodiversidade, serviços ecossistêmicos cruciais em uma região onde floresta, comunidade e vida estão profundamente entrelaçadas.
A região do médio Solimões, cenário central do protocolo, é um dos maiores celeiros de biodiversidade do planeta. Ali estão as Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, a Floresta Nacional de Tefé e a comunidade Missão — territórios onde a natureza pulsa em ciclos de cheia e vazante, e onde povos ribeirinhos, indígenas e tradicionais vivem em profunda relação com o ambiente. É nesse mosaico de vida e resistência que a meliponicultura ganha força como prática ancestral e contemporânea, que une cuidado, conhecimento e autonomia.

Fernanda Viana, coordenadora do Programa de Manejo de Agroecossistemas do Instituto Mamirauá, explicou que a publicação é o resultado de um longo percurso iniciado ainda nos anos 1990:
“A obra traduz o resultado de um trabalho iniciado nos anos 1990 e tem como finalidade documentar, guiar e orientar os passos para criação e manejo de abelhas nativas sem ferrão na região do médio Solimões, por meio da integração do conhecimento científico e tradicional.”
“A publicação deste protocolo é uma importante contribuição não somente para a região do médio Solimões, mas que também poderá ser utilizado como referência para o manejo de abelhas nativas sem ferrão no estado do Amazonas. O protocolo, além de todas as orientações sobre todos os passos que devem ser seguidos desde o início da criação, manejo até a regularização da atividade na região, traz uma discussão sobre o contexto da meliponicultura no Amazonas trazendo visibilidade para as discussões, desafios e lacunas com o objetivo de dar mais clareza as discussões, fluidez e estruturação à cadeia da meliponicultura e apoiar a adequação da legislação de meliponicultura do Amazonas para que seja mais inclusa aos meliponicultores”, acrescenta Fernanda Viana.
A região do médio Solimões — onde se localizam a Reserva Mamirauá, a Reserva Amanã e a Floresta Nacional de Tefé — é considerada uma das áreas mais ricas do mundo em biodiversidade. Com um mosaico de ecossistemas de várzea e terra firme, abriga dezenas de espécies de abelhas sem ferrão. O protocolo se baseia em experiências reais de comunidades locais que há décadas praticam o manejo dessas abelhas.
“O protocolo foi produzido justamente para dar suporte, ser uma fonte de apoio técnico, com informações técnicas a respeito da criação de abelhas e da legalização dos criatórios”, afirmou Rinaldo Sena Fernandes, professor do Instituto Federal do Amazonas (IFAM). Além de fornecer instruções práticas para a criação e manejo das abelhas, o protocolo aborda aspectos legais, sanitários e de comercialização, contribuindo para a geração de renda de forma sustentável.

A qualidade do conteúdo técnico do livro foi ressalta por especialistas e coautores da publicação. Segundo Sidney Dantas, técnico agrícola e coordenador da Rede de Meliponicultura do Amazonas, a publicação oferece ferramentas valiosas para os criadores da região. “Esse é um trabalho muito importante porque vem dar tecnologias e tecnificar o meliponicultor para que possa executar as atividades com mais precisão, com maior higienização e colocar um produto futuramente no mercado que é de suma importância e alta qualidade”, aponta.
Diego Ken Osoegawa, da Amazônia Bee, enfatizou o valor científico da publicação. “O protocolo traz muitos avanços para o Médio Solimões. Em parceria com o IFAM e o Instituto Mamirauá, conseguimos inclusive identificar espécies de abelhas que nunca haviam sido registradas no Amazonas.”, afirma.
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Mais do que um manual técnico, o protocolo foi descrito por seus autores como um símbolo de pertencimento e resistência cultural. Ao dar visibilidade à sabedoria de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas, o documento também valoriza os produtos da sociobiodiversidade amazônica.
“O mel que as abelhas nativas produzem carrega a essência de uma floresta em uma colher”, disse Bruce Dickinson. “Ele carrega a cultura de uma comunidade.”
Reinaldo Bozelli, pesquisador Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Comissão de Avaliação do MCTI, reforçou o valor social e ambiental da obra. “Se a gente pensa num futuro que não tem apenas o lucro em vista, mas também a proteção da biodiversidade, esse tipo de atividade — o manejo das abelhas — aponta o caminho”, considera.
*Com informações do Instituto Mamirauá
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