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Princípio da precaução no jornalismo: cobertura sobre crise climática deve antecipar riscos

Princípio da precaução no jornalismo: cobertura sobre crise climática deve antecipar riscos

Prognósticos climáticos, como os do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), indicam recordes históricos de temperatura no durante o verão de 2023/2024. A previsão é que todas as regiões do país enfrentem ondas de calor excepcionais, com precipitação abaixo da média no Norte e no Nordeste e fortes chuvas no Sul. Diante de alertas para um cenário meteorológico fora do habitual que ainda está por vir, as dúvidas que surgem são: Quais os riscos potenciais que essa alteração do clima pode ocasionar para a saúde humana e para o planeta? E como enfrentá-los? 

No Direito Ambiental, a preparação para danos futuros, quando há incerteza de sua ocorrência e alcance de impacto, está associada ao princípio da precaução. Estabelecido na Conferência das Nações Unidas sobre o e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, o princípio da precaução sugere que a falta de certeza científica não deve ser usada como justificativa para postergar medidas de enfrentamento às mudanças climáticas e aos efeitos negativos que podem advir deste fenômeno.

Lidar com a antecipação de possíveis danos, porém, não é possível sem uma percepção pública sobre os riscos iminentes da crise climática. Tendo em vista a sua potencialidade mobilizadora, o Jornalismo exerce papel fundamental como propulsor do debate acerca das vulnerabilidades às quais as pessoas estão submetidas. Nesse sentido, a incorporação do princípio da precaução na prática jornalística está essencialmente relacionada com o seu compromisso de informar aquilo que é de interesse público, na medida em que pode proporcionar compreensão individual e coletiva sobre a magnitude de cada risco e das soluções cabíveis.

No estudo “A contribuição do princípio da precaução para a epistemologia do Jornalismo Ambiental”, pesquisadores do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) constataram a partir de revisão bibliográfica que veículos de comunicação pautam pouco a antecipação de riscos e danos – mesmo em meio ao avanço da ciência em termos de previsões e evidências. Isso porque a lógica de produção de é baseada em acontecimentos já vividos, ou seja, em fatos concretos e não em hipóteses, o que limita a abordagem da precaução. Nessa lógica, aquilo que ainda não aconteceu não é percebido como urgente. Se pensarmos nas mudanças climáticas, efeitos como quebra de recordes de temperatura e o consequente sofrimento da população afetada são mais apelativos por serem mais fáceis de serem visualizados. Os efeitos são, portanto, mais relatados nos meios de comunicação pelo potencial impacto narrativo, resultando assim em mais atenção do público.

Segundo o artigo, o princípio da precaução também é pouco acionado em investigações acadêmicas sobre jornalismo e meio ambiente. Quando citado, o conceito aparece nas análises de coberturas jornalísticas sobre mudanças climáticas, mas consta ainda em discussões sobre os riscos relacionados à liberação de alimentos transgênicos e ao surgimento de novas epidemias associadas à devastação dos ecossistemas, por exemplo. Esses fenômenos têm em comum a escassez de políticas públicas e medidas institucionais para mitigar ou mesmo evitar os potenciais prejuízos que podem trazer à saúde e ao bem-estar das pessoas humanas e dos demais seres que habitam o planeta. Isso porque o posicionamento padrão de governos e corporações é pensar nos benefícios – sobretudo financeiros – de atividades produtivas que degradam os bens ambientais.

Mas acreditamos que, se o Jornalismo rever suas prioridades, a abordagem a partir do princípio da precaução pode sensibilizar os cidadãos tanto quanto a repercussão das consequências da crise ambiental e climática. Levar a sério os alertas de cientistas e das comunidades vulnerabilizadas, questionar as iniciativas de gestores públicos e privados diante do cenário de emergências e abordar soluções propostas pela sociedade civil são algumas das contribuições que podem vir da cobertura jornalística. Assim, o campo do Jornalismo pode estimular o engajamento da população e contribuir para que instâncias coletivas assumam suas responsabilidades e ajam para promover desde a redução de emissões dos gases de efeito estufa até o fortalecimento de uma cultura de plena.

O clima global do nosso tempo traz impactos ainda não totalmente identificados, mas que podem representar ameaças ao futuro. Quando existe incerteza em relação aos eventos extremos, é crucial pensar medidas de adaptação e mitigação. Por isso, o Jornalismo deve assumir um papel condizente com a sua relevância social: o de auxiliar na circulação de informações sobre os riscos intrínsecos à sociedade atual. E mais. É preciso que a cobertura deste tema seja contínua e que adote o princípio da precaução, estimulando, assim, uma ação preventiva.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site O Eco e são de total responsabilidade do autor.
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