Foto: Thiago Arruda/CTI
O manejo sustentável do pirarucu transformou a realidade do povo indígena Paumari do rio Tapauá, no sul do Amazonas. A prática não apenas recuperou a população do peixe e de outras espécies, mas também trouxe diversos benefícios ambientais e socioeconômicos às comunidades.
Com mais de uma década de experiência, iniciada em um intercâmbio com manejadores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, os Paumari se tornaram pioneiros na implementação do manejo do pirarucu em Terras Indígenas, inspirando comunidades ribeirinhas e povos indígenas de outras regiões.
Desde 2020, os povos Kanamari e Mayuruna, da Terra Indígena Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, buscam o apoio dos Paumari para fortalecer suas próprias práticas de manejo. Para atender essa demanda, o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) iniciou um diálogo com a Operação Amazônia Nativa (OPAN) e a Associação Indígena do Povo das Águas (AIPA), com o objetivo de organizar um intercâmbio de saberes entre os povos.
A visita, prevista inicialmente para 2022, foi adiada em razão dos trágicos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Em 2024, as articulações foram retomadas e o encontro finalmente aconteceu. Entre junho e julho, três experientes manejadores Paumari — Germano, José Lino e Francisco — visitaram quatro aldeias no Vale do Javari.
O intercâmbio durou 14 dias e reuniu, além dos Paumari, cerca de 80 indígenas dos povos Mayuruna e Kanamari. A troca de conhecimentos foi intensa e promete fortalecer ainda mais o manejo sustentável do pirarucu na região.
“Nós ficamos muito felizes que deu tudo certo e acredito que novas parcerias estão por vir. Os intercâmbios entre os povos indígenas são sempre muito ricos”, afirmou Thiago Arruda, indigenista do CTI, que acompanha o processo.
O início das atividades aconteceu durante a programação do 4º Encontro de Manejadores e Manejadoras de Pirarucu do Vale do Javari, na Aldeia São Luís, Terra Indígena Vale do Javari. O evento reuniu indígenas dos povos Mayuruna e Kanamari para atualizar o acordo de pesca e debater questões de organização do trabalho.
Germano, José Lino e Francisco Paumari participaram do encontro como convidados e contribuíram nas discussões sobre a divisão dos recursos e organização de equipes, apresentando experiências práticas de seu povo.
“Nós aprendemos muito com eles sobre como fazer o trabalho, a venda e a divisão dos recursos a partir do sistema de pontuação, além de como se organizam para a vigilância e as trocas de equipe”, avaliou Gilmar Tavares Kanamari, presidente da contagem no Vale do Javari e membro da Coordenação Etnoambiental Autônoma dos Kanamari (Copeaka).
O intercâmbio aconteceu de forma itinerante e percorreu quatro aldeias ao longo da Terra Indígena Vale do Javari. Exercícios práticos de contagem e vigilância deram início às trocas de experiências entre os povos, momento em que também trabalharam juntos na elaboração dos planejamentos de contagem e pesca. Outra experiência compartilhada durante o encontro foi a etapa de evisceração do pirarucu.
“Mostramos as boas práticas que a gente faz, como o evisceramento do pirarucu, e também fizemos as mesas de evisceração para eles, que até então eles não tinham. O Zé Lino e o Chico, que trabalham nessa parte, fizeram a demonstração, ensinando como limpar, como fazer todo o processo para o peixe ficar bem limpo”, relembrou Germano Paumari, cacique da Aldeia Manissuã e integrante da Associação Indígena do Povo das Águas (AIPA).
Geovan Miguel Mayuruna, coordenador do manejo do Vale do Javari e membro da Organização Geral dos Povos Mayuruna (OGM), explica que a prática de evisceração compartilhada pelos Paumari foi especialmente importante, já que a maioria não tinha experiência nesta etapa do manejo.
“O povo Mayuruna gostou muito do povo Paumari. Para muitos foi a primeira vez que puderam aprender a fazer a limpeza do pirarucu. Ficou essa experiência do povo Paumari para o povo Mayruna e nós nunca vamos esquecer isso”, relata.
Mais intercâmbios previstos para 2025
Recentemente, o manejo pesqueiro do povo Paumari foi um dos vencedores da 12ª edição do Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social. Com o apoio financeiro recebido através da premiação, em 2025 será viabilizada a ida de manejadores e manejadoras dos povos indígenas do Vale do Javari até o território Paumari, no sul do Amazonas, para vivenciar na prática a pesca manejada do pirarucu realizada pelos Paumari no rio Tapauá.
Germano Paumari conta que os detalhes da ida dos povos do Vale do Javari serão planejados na próxima assembleia da AIPA.
“Estamos esperando chegar a hora para receber os parentes. Assim como a gente mostrou a nossa cultura, eles vão poder mostrar a cultura deles, para a gente caminhar junto. São pessoas que estão trabalhando, fazendo esforço assim como nós e nós temos que apoiar. Nós vamos fazer o que for possível para ajudar nossos amigos!”, finaliza.
*Com informações do Coletivo do Pirarucu
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