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Poluição química de plásticos alcançou os mais antigos animais da Terra

Poluição química de plásticos alcançou os mais antigos animais da Terra

Encontradas em ambientes de águas salgadas e doces mundiais, as esponjas são os animais mais antigos do planeta. Estão aqui há estimados 600 milhões de anos, muito antes, por exemplo, dos primeiros registros de dinossauros, datados de 230 milhões de anos.

Esses multicoloridos seres compõem os recifes de corais e ajudam no equilíbrio ecológico global. Dependendo do tamanho, filtram de 2 mil a 20 mil litros diários de água de onde tiram alimentos, devolvendo nutrientes aproveitados por vários outros organismos. 

Contudo, essas potentes “bombas naturais” podem “engasgar” com grãos de areia e outros detritos. Para se livrar deles, as esponjas se contraem, como uma pessoa inspirando e expirando com mais força. 

São justamente esses movimentos vitais que microplásticos e seus poluentes estão prejudicando. As esponjas são mais expostas e vulneráveis a isso por viverem fixas nos ambientes aquáticos, de rasos a muito profundos.

Contrações de uma esponja em ambiente controlado de laboratório. Vídeo: Liv G. Ascer

Os alertas estão em artigos de cientistas como Liv Goldstein Ascer, doutora em Fisiologia pelo Instituto de Biologia da Universidade de São Paulo (USP), nas revistas “Marine Pollution Bulletin” e “Aquatic Toxicology”.

As pesquisas indicam que as capacidades naturais da espécie Hymeniacidon heliophila, a esponja-sol, foram alteradas pela exposição dos animais ao DEHP, sigla em Inglês do Bis (2-etilhexil) Ftalato. 

A substância torna plásticos mais maleáveis e hoje é o ftalato mais encontrado nos oceanos. “Quanto mais flexível o plástico, mas DEHP ele têm”, avisa Liv Ascer. Ele também interfere no sistema hormonal de seres vivos. 

A esponja-sol vive da Carolina do Norte (Estados Unidos) a Santa Catarina. Os animais usados nos experimentos de laboratório vieram do litoral dos municípios de São Sebastião e São Vicente, no estado de São Paulo.

“As esponjas são sentinelas da contaminação oceânica, pois acumulam microplásticos e químicos”, diz Ítalo Braga de Castro, professor no Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Esponjas no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, na Bahia. Foto: Roberto Costa Pinto / Creative Commons

Resistência natural

As investigações científicas indicam igualmente que a esponja-sol conseguiu lidar com os efeitos do DEHP. Proteínas geradas pelos microrganismos que nela vivem eliminaram o ftalato. 

Isso fez o animal recuperar suas contrações naturais e evidencia que ele pode desenvolver meios para resistir nos ambientes poluídos. 

“Ele alterou sua microbiota, os microrganismos associados, para enfrentar o problema. Mas, isso pode não ser positivo para a esponja. É importante para começarmos a entender se ela sobreviverá no longo prazo”, explica Liv Ascer.

Bactérias somam até 40% do peso corporal de esponjas. Elas mantêm funcionando o organismo dos animais. Muitas foram usadas na criação de medicamentos antivirais e antibacterianos usados mundialmente.

A esponja-sol (laranja) numa rocha exposta durante a maré baixa. Foto: Liv G. Ascer

Tsunami plástico

Análises da ong Oceana contam que o despeja anualmente 1,3 milhão de toneladas de plástico no Atlântico. Há lixo em todas as praias nacionais. Tamanho desleixo torna o país um dos dez maiores sujões globais. 

Plásticos são encontrados no corpo, intestino e brânquias de aves, tartarugas, mamíferos e peixes, até de riachos na Amazônia. Capitais como Manaus (AM) despejam quase todo o esgoto e o lixo nos rios.

De baleias a diminutos seres marinhos que comem ou acumulam plástico ficam desnutridos, vulneráveis a doenças e podem morrer. Cada grama do material ingerida por tartarugas-verdes (Chelonia mydas) aumenta em 450% seu risco de definhar. 

Pessoas também são vítimas. Nove dos dez peixes mais consumidos no mundo têm microplásticos, como atum, tilápia e salmão. Há desses resíduos do sangue a fetos humanos e até no ar que respiramos.

“Hoje, não encontraram microplásticos só onde não se procurou”, sentencia Ítalo de Castro, do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Microplásticos na praia de Famara, na ilha espanhola de Lanzarote. Foto: Gaibruphoto / Creative Commons

Todavia, o grande elenco de problemas causados pela poluição plástica ainda não provocou reações políticas mundiais à altura.

Buscando aumentar a reciclagem e reduzir a produção brasileira de plásticos, sobretudo dos usados uma só vez, como copos, canudos e garrafas, o Projeto de Lei 2524/2022 está parado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

Também fracassou a reunião em Busan (Coreia do Sul), de 25 de novembro a 1º de dezembro, que deveria apresentar um tratado global de plásticos. As desavenças incluíram países querendo conter a produção de plásticos e químicos, e nações e lobistas petroquímicos apostando em reciclar resíduos.

“Sempre há resistências de políticos, países, corporações, indústrias e outros setores que muito lucram com os plásticos”, diz o professor e pesquisador Ítalo de Castro (Unifesp).

Apesar disso, mais de uma centena de países exigiram a redução mundial da produção de plásticos no encontro da Coreia do Sul, na última reunião prevista pelas Nações Unidas para construir um tratado global do setor. 

“O resultado de Busan também mostrou a união e a força da ciência, da sociedade civil e de países que se recusaram a sair da reunião com um tratado que não focasse na cadeia produtiva dos plásticos”, diz a gerente de Advocacy da Oceana Brasil, Lara Iwanicki.

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site O Eco e são de total responsabilidade do autor.
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