O que acontece quando tiramos de um sistema natural uma peça que foi ali colocada muito tempo depois que plantas e aves nativas vinham interagindo? Ou melhor, o que acontece quando essa parte introduzida é uma árvore invasora que oferece frutos com alto potencial de estabelecer interações com aves nativas desse sistema? Felizmente, e para a surpresa de muitas pessoas, após a eliminação da árvore exótica invasora goiabeira (Psidium guajava), as interações entre aves frugívoras e plantas nativas se diversificaram, e a riqueza de espécies tanto de plantas quanto de aves, aumentou em redes de interações ecológicas. Essa reorganização mostra que o controle de plantas exóticas invasoras pode fortalecer relações ecológicas entre plantas e aves nativas. Ao diversificar as interações entre aves e plantas, a paisagem se torna mais resiliente e capaz de manter sua biodiversidade.
As aves prestam um serviço muito importante na natureza, que é o de dispersar sementes de plantas nativas na paisagem. Nessa interação, as aves conseguem seu alimento e como consequência dispersam as sementes de plantas nativas, possibilitando que novas plantas se estabeleçam. A presença de uma árvore exótica que oferece frutos super atrativos pode alterar essa dinâmica entre as plantas nativas e seus dispersores.
O estudo, recentemente publicado na revista científica Ecological Applications, foi desenvolvido em Joinville, Santa Catarina, em um parque municipal. Antes da intervenção, as aves dependiam quase exclusivamente dos frutos da goiabeira, o que limitava a visita das aves aos frutos das plantas nativas. Com a eliminação da árvore invasora, as aves passaram a consumir uma variedade muito maior de frutos, potencialmente dispersando sementes de diversas plantas nativas e promovendo a diversidade biológica na paisagem.
Mas por que isso é importante?
Embora, à primeira vista, possa parecer vantajoso para as aves ter uma fonte abundante de frutos como os da goiabeira, essa relação gera um efeito cascata que prejudica a vegetação nativa a longo prazo. Esse estudo serve de alerta para evitarmos o uso de espécies exóticas frutíferas em nossos jardins.
Frutos atraentes de espécies exóticas, como a amoreira (Morus sp.) e a nêspera (Eriobotrya japonica), acabam monopolizando a atenção dos frugívoros, que deixam de consumir frutos de plantas nativas. Como consequência, acaba aumentando cada vez mais a população da espécie exótica. Essa mudança enfraquece a capacidade do ecossistema de se regenerar e, a longo prazo, pode reduzir a biodiversidade.
Ao contrário do que muitos imaginam, remover essas árvores invasoras não prejudica a fauna local. Pelo contrário, estimula as interações naturais entre plantas e animais, criando um ambiente mais saudável e equilibrado. Mesmo em um cenário de escassez de alimentos para a fauna nativa, é essencial garantir que os frutos disponíveis sejam de espécies nativas locais.
Compreender o impacto das espécies exóticas invasoras nos ecossistemas é essencial para direcionar ações de manejo que realmente ajudem a conservar a biodiversidade. Essa é uma responsabilidade coletiva, que envolve desde as escolhas que fazemos em nossos jardins e na arborização urbana até o manejo em áreas rurais, naturais e em unidades de conservação, onde órgãos públicos têm papel fundamental.
Está na dúvida se alguma espécie é invasora ou não? Você pode buscar essa informação na Base de dados nacional de espécies exóticas invasoras, gerenciada pelo Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental.
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