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PF prende quinto homicida de Bruno e Dom

PF prende quinto homicida de Bruno e Dom

O pescador Jânio Souza foi apontado como informante de Rubem Dário da Silva Villar, o “Colômbia, acusado de ser mandante dos assassinatos do indigenista e do jornalista (Foto de Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real/2022)


Manaus (AM) – A Polícia Federal (PF) prendeu nesta quinta-feira (18) em Tabatinga (AM), o pescador Jânio Freitas de Souza por acusação do duplo homicídio e ocultação dos cadáveres do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Ele foi a última pessoa que conversou com Bruno e Dom antes deles serem vítimas de uma emboscada e assassinados a tiros, no dia 5 de junho de 2022, no entorno da Terra Indígena Vale do Javari, município de Atalaia do Norte, na fronteira entre Peru e Colômbia. 

Jânio Souza, quinta pessoa presa pelos assassinatos, é apontado pela PF como “o informante e aliado do mandante dos homicídios de Bruno Pereira e Dom Phillips”, Rubem Dário da Silva Villar, o “Colômbia”, que está preso em Manaus por “falsificação de documentos de identidade, bem como também por ser chefe de uma organização criminosa transnacional armada, em outro inquérito que apurou pesca ilegal e contrabando”, diz a polícia. 

Após um ano e sete meses de investigações das mortes de Bruno e Dom, a PF constata que o crime foi premeditado. Souza e “Colômbia” foram indiciados pelos crimes em 31 de maio de 2023. Uma quebra de sigilo telefônico revelou que entre os dias 1º de junho de 2021 e 6 de junho de 2022 – um dia após o assassinato de Bruno e Dom – , que “Colômbia” e Jânio trocaram 419 ligações telefônicas. A conversa está em sigilo. Nos depoimentos anteriores, Jânio havia dito em mais de uma ocasião que conhecia “Colômbia” apenas de vista.

Também no dia seguinte aos desaparecimentos de Bruno e Dom, Jânio Souza foi detido por suspeitas de envolvimento no caso, mas foi solto pela Polícia Civil do Amazonas, junto com o pescador Manoel Vitor Sabino da Costa, o “Churrasco”. Ele, que continua em liberdade, é tio de Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, réu confesso e um dos executores do indigenista e do jornalista, que está preso aguardando o julgamento.

Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, executor dos assassinatos (Foto: Reprodução TV Globo)

Os outros réus presos são os também pescadores: Oseney da Costa Oliveira, o ‘dos Santos’ (irmão de Pelado), e Jefferson da Silva Lima, o ‘Pelado da Dinha’ – ele também confessou sua participação nos crimes. Oliveira nega a autoria nos homicídios, mas testemunhas revelaram o envolvimento dele no caso. 

No dia 15 de junho de 2022, Amarildo Oliveira, o “Pelado”, confessou os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips, segundo informações da Polícia Federal. Segundo o testemunho, os pescadores mataram o indigenista e o jornalista com munição de caça, esquartejaram, incendiaram e ocultaram os corpos em uma área de floresta, próxima a comunidade Cachoeira. “Pelado” apontou onde enterrou os corpos.

A frieza dos assassinatos e o requinte de crueldade chamou a atenção dos delegados para o envolvimento de uma organização criminosa ligada ao narcotráfico. De acordo com a PF, o indigenista Bruno Pereira, servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) e ex-coordenador da Coordenação de Indígenas Isolados e de Recente Contato, que combatia a pesca ilegal na terra indígena, vinha sofrendo ameaças de morte e era monitorado pela organização criminosa comandada por “Colômbia”. Já o jornalista britânico Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, estava entrevistando os indígenas para produzir um livro.

Durante as investigações, a Polícia Federal apontou o grupo “Colômbia” como o responsável também pelo assassinato do indigenista Maxciel Santos, então servidor da Funai, morto a tiros em 2019, em Tabatinga (AM). 

Acusado brincou com Bruno 

Comunidade São Rafael, última parada de Bruno Pereira e Dom Phillips, antes de sofrerem a emboscada que os vitimou. (Foto: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real/2022)

Jânio Freitas Souza e Manoel Vitor Sabino da Costa, o “Churrasco”, foram as últimas pessoas a terem contato com Bruno e Dom, na comunidade São Rafael, localidade fica às margens do rio Itacoaí, em Atalaia do Norte, fora dos limites da Terra Indígena Vale do Javari. 

Em entrevista à Amazônia Real à época das investigações em Atalaia do Norte, Souza falou friamente sobre o encontro com as vítimas. “Ele passou uns oito minutos lá na casa do ‘Churrasco’. Passou aí na frente e não me viu. Eu até brinquei com ele, dizendo que ele não me viu porque eu sou pequeno”, narrou o acusado de duplo homicídio, dizendo ainda que o indigenista e jornalistas passaram pela comunidade por volta das 7h20 no domingo 5 de junho de 2022.

Na ocasião, Souza se identificou como presidente da Associação dos Produtores Rurais da Comunidade São Rafael, e disse que só foi apresentado ao jornalista inglês naquele dia. “O Bruno me disse que o repórter estava fazendo um livro e aí queria saber se o manejo dava resultado aqui”, falou à época.

Na entrevista, ele disse ter falado com Bruno e Dom abertamente sobre a pesca clandestina. “A gente mata peixe ilegal, não vou mentir, a gente pesca aí na frente. Mas tem gente que passa também para a área indígena e quem pega a culpa somos nós aqui da comunidade. Foi o que eu disse pra ele”.

O território, do qual ele se referiu, é a TI Vale do Javari, a segunda maior do do , atrás apenas da TI Yanomami, em Roraima. Na região vivem mais de 6.317 indígenas de sete povos contatados (Kanamari, Kulina, Marubo, Matís, Matsés e Tsohom-Dyapá, este de recente contato, e um grupo de Korubo) e ao menos 16 referências a grupos isolados e não contatados. Outro grupo de indígenas Korubo permanece em isolamento voluntário.

Leia como foram as investigações indiciais do caso Bruno e Dom.


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