Desde o último mês de novembro, um grupo de rebeldes vem fazendo ataques a navios no Mar Vermelho. O motivo tem relação com a grave crise militar e geopolítica no Oriente Médio: são protestos contra a guerra entre Israel e Hamas, em uma forma de pressionar o governo de Benjamin Netanyahu a parar com os ataques na Faixa de Gaza.
Esse grupo se chama huthis, uma organização de origem muçulmana xiita surgida no norte do Iêmen na década de 1990, que, ao longo dos anos, ganhou força como barreira de oposição aos judeus e aos Estados Unidos na região. O grupo conta com o apoio do Irã.
Na noite da última quinta-feira 11, os EUA e o Reino Unido promoveram ataques a rebeldes huthis no Iêmen. Pelo menos cinco pessoas morreram e seis ficaram feridas na ofensiva que envolveu caças e mísseis Tomahawk.
Segundo o presidente norte-americano, Joe Biden, a operação atingiu “com sucesso” os alvos huthis e contou com o apoio da Austrália, do Bahrein, do Canadá e dos Países Baixos.
Na visão de Biden, se as ações do grupo no Mar Vermelho seguirem, ele “não hesitará” em “ordenar outras medidas” para proteger os EUA e o comércio internacional.
Nesse contexto, os ataques dos huthis na região têm alvo certo: navios que passam pelo Mar Vermelho, uma importante rota do comércio global.
Em novembro, por exemplo, uma embarcação da Noruega foi atacada por um míssil, na costa do Iêmen. No mesmo mês, o grupo sequestrou um cargueiro conhecido como “Galaxy Leader”, de uma empresa israelense. Os huthis dizem que qualquer navio a caminho de Israel deve ser atacado, até que se autorize que mais alimentos e medicamentos sejam levados para a Faixa de Gaza.
Já na última terça-feira 10, EUA e Reino Unido confirmaram que abateram 21 drones e mísseis dos huthis, que tinham como destino as rotas marítimas internacionais do sul do Mar Vermelho. Esse seria, segundo o Reino Unido, o maior ataque dos huthis na região até o momento.
Quem são os huthis e qual o papel do grupo na disputa geopolítica?
O surgimento do grupo, como mencionado, remonta aos anos 1990. À época, o objetivo do grupo era derrubar o presidente Ali Abdullah Saleh no Iêmen, que se mantinha no poder desde 1978 (no fim, Saleh governou a região até 2012). Naquele período, a região era divida e o processo de unificação só aconteceria tempos depois.
Os fundamentos do grupo não são apenas políticos, mas religiosos. Os huthis foram formados por uma grupos adeptos ao zaidismo, uma linha xiita do islamismo, que vivia no norte do Iêmen.
Significa dizer que as palavras de ordem do grupo obedecem a uma orientação radical a respeito dos problemas na região. “Deus é o maior, morte à América, morte a Israel, maldição aos judeus, vitória do Islã” são algumas das expressões que compõem os ditames do grupo. Outra maneira de se referir aos huthis é por meio da expressão Ansar Allah (Partidários de Deus)
A postura anti-Ocidente e anti-Israel foi sendo mantida ao longo dos anos. Não à toa, os huthis ganharam popularidade ao se apresentar como eixo de resistência à postura norte-americana depois que os EUA invadiram o Iraque, em 2003.
Um capítulo importante da história dos huthis, entretanto, tem relação com um fato histórico recente: a guerra do Iêmen. O conflito teve início, justamente, quando os huthis saíram do norte com destino à capital, Sanaa, em 2014. A ideia era derrubar o governo.
Os protagonistas, por outro lado, foram ganhando força à medida que a guerra avançava. Em 2015, por exemplo, a Arábia Saudita (com apoio dos Emirados Árabes Unidos e dos EUA) entrou no conflito, apoiando o governo, que tinha ido para o sul do território do Iêmen.
Do ponto de vista geopolítico, a guerra no Iêmen – que ainda segue -, passou a ser, na prática, uma disputa entre Arábia Saudita e Irã (este, como mencionado, tem ligação com os huthis).
Já sob o ângulo humanitário, a Organização das Nações Unidas (ONU) considera que, atualmente, a guerra no Iêmen é o desastre humanitário mais grave em curso. Estima-se que o conflito, que está prestes a completar uma década, foi responsável pelo deslocamento forçado de 4,5 milhões de pessoas. Cerca de 80% da população vive na pobreza.
Apesar de tudo, um cessar-fogo chegou a ser acertado em abril de 2022, devendo valer por seis meses. De fato, a medida foi cumprida e, a despeito da passagem do período de trégua, os combates armados são praticamente inexistentes, hoje em dia.
O que não significa dizer que os conflitos – olhando o termo sob um sentido amplo – pararam, principalmente por conta da guerra entre Israel e Hamas. A disputa recente deu fôlego às ações do huthis, que passou a agir no Mar Vermelho.
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Carta Capital e são de total responsabilidade do autor.
Ver post do Autor