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O crime da Confeitaria Glória: o assassinato que mudou o Brasil

O crime que mudou a história do Brasil: o assassinato de João Pessoa na Confeitaria Glória

Você já ouviu falar do crime da Confeitaria Glória? Esse foi o nome dado ao assassinato do presidente da Paraíba, João Pessoa, em 26 de julho de 1930, em Recife. O autor do crime foi o advogado e jornalista João Duarte Dantas, que tinha uma rixa política e pessoal com João Pessoa.

Esse crime teve uma grande repercussão na época e foi considerado o estopim da Revolução de 1930, que depôs o presidente Washington Luís, impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e levou Getúlio Vargas ao poder. Mas por que esse crime foi tão importante? Quais foram as motivações e as consequências desse ato violento? Neste artigo, vamos contar os detalhes dessa história que mudou o rumo da política brasileira.

O contexto político da época

Em 1930, o Brasil vivia sob a República Velha, um regime político dominado pelas oligarquias agrárias de São Paulo e Minas Gerais, que se revezavam na presidência da República. Essa política ficou conhecida como política do café com leite, pois esses eram os principais produtos de exportação desses estados.

A política do café com leite favorecia os interesses dos grandes fazendeiros e excluía as demais classes sociais e regiões do país. Além disso, as eleições eram fraudadas e controladas pelos coronéis, que mandavam nos votos dos seus subordinados.

Essa situação gerou insatisfação e oposição em vários setores da sociedade, como os militares, os tenentes, os trabalhadores urbanos, os intelectuais e os políticos de outros estados. Esses grupos se uniram na chamada Aliança Liberal, que lançou a candidatura de Getúlio Vargas à presidência da República e de João Pessoa à vice-presidência nas eleições de 1930.

Getúlio Vargas era o governador do Rio Grande do Sul e representava os interesses dos estados do Sul e do Nordeste. João Pessoa era o governador da Paraíba e representava os interesses dos estados do Norte e do Nordeste. A Aliança Liberal defendia um programa de reformas políticas, sociais e econômicas, como o voto secreto, a justiça eleitoral, a anistia aos revoltosos de 1924 e 1926, a regulamentação do trabalho e a diversificação da produção agrícola.

Do outro lado, estava a candidatura oficialista de Júlio Prestes, que era o governador de São Paulo e representava a continuidade da política do café com leite. Júlio Prestes contava com o apoio do presidente Washington Luís e dos governadores de Pernambuco, Estácio Coimbra, e da Bahia, Vital Soares.

As eleições ocorreram em 1º de março de 1930 e deram a vitória a Júlio Prestes, com cerca de um milhão de votos contra 742 mil votos de Getúlio Vargas. Porém, houve denúncias de fraudes e violências contra os candidatos da Aliança Liberal em vários estados. A oposição não aceitou o resultado e começou a conspirar para impedir a posse de Júlio Prestes, marcada para novembro de 1930.

A rixa entre João Pessoa e João Dantas

Enquanto isso, na Paraíba, havia uma forte disputa política entre o governo de João Pessoa e a oposição liderada por João Suassuna, ex-governador do estado e pai de José Américo de Almeida. João Suassuna era aliado de Washington Luís e Júlio Prestes e contava com o apoio dos governadores de Pernambuco e da Bahia.

Um dos principais colaboradores de João Suassuna era João Duarte Dantas, que era advogado, jornalista, fazendeiro e líder político na região do Brejo. João Dantas era casado com Maria de Lourdes Dantas, mas mantinha um romance secreto com Anayde Beiriz, que era uma poetisa e professora, também casada com o médico João Dantas de Araújo.

João Pessoa e João Dantas tinham uma rixa antiga, que se agravou durante a campanha eleitoral de 1930. João Pessoa acusava João Dantas de ser o responsável por vários atentados contra seus aliados, como o assassinato do deputado federal João Batista de Oliveira e o ataque ao jornal A União. João Dantas negava as acusações e criticava a gestão de João Pessoa, que ele considerava autoritária e corrupta.

Em junho de 1930, João Pessoa mandou invadir e revistar o escritório de João Dantas, em busca de documentos comprometedores. Na ocasião, foram apreendidos objetos pessoais de João Dantas, como cartas íntimas, fotografias e um lenço bordado com as iniciais A.G., que seriam de sua amante Anayde Beiriz.

Esses objetos foram expostos à execração pública, causando grande humilhação a João Dantas e Anayde Beiriz, que eram ambos casados. João Dantas escreveu uma carta a João Pessoa, protestando contra a violação de sua intimidade e exigindo a devolução de seus pertences. A carta foi publicada no jornal do Comércio, do Recife, mas não teve resposta.

Decidido a vingar-se, João Dantas foi à Confeitaria Glória, onde sabia que João Pessoa costumava ir. Lá, ele se aproximou do presidente da Paraíba e disparou três tiros à queima-roupa, matando-o na hora. Em seguida, ele tentou fugir, mas foi baleado por um chofer de João Pessoa e preso por Agamenon Magalhães, que estava com a vítima.

O crime da Confeitaria Glória causou grande comoção na Paraíba e no Brasil, e foi considerado o estopim da Revolução de 1930, que depôs Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes. Getúlio Vargas assumiu o poder como chefe do governo provisório e iniciou uma nova era na política brasileira.

As consequências do crime

O assassinato de João Pessoa teve várias consequências políticas, sociais e culturais. Vejamos algumas delas:

– A Paraíba mudou o nome da sua capital de Parahyba para João Pessoa, em homenagem ao presidente morto. A bandeira do estado também foi alterada, adotando as cores preta e vermelha, que simbolizavam o luto e a revolução.

– O corpo de João Pessoa foi levado para o Rio de Janeiro, onde foi velado no Palácio do Catete. Depois, foi transportado para a Paraíba em um navio escoltado por aviões da Força Aérea Brasileira. Milhares de pessoas acompanharam o cortejo fúnebre nas ruas das cidades por onde passou.

– O crime provocou uma onda de protestos e revoltas contra o governo federal em vários estados. Os militares da Aliança Liberal se organizaram para derrubar Washington Luís e impedir a posse de Júlio Prestes. Em 3 de outubro de 1930, os rebeldes tomaram o poder em Minas Gerais, no Rio Grande do Sul e na Paraíba. Em 24 de outubro, Washington Luís foi deposto por um golpe militar liderado pelo general Tasso Fragoso. Em 3 de novembro, Getúlio Vargas chegou ao Rio de Janeiro e assumiu o governo provisório.

– O crime também teve um impacto na cultura brasileira. Vários escritores, poetas e músicos se inspiraram no episódio para criar obras literárias e musicais. Por exemplo, o poeta paraibano Augusto dos Anjos escreveu um soneto intitulado “A João Pessoa”, em que lamenta a morte do presidente. O compositor carioca Lamartine Babo compôs uma marchinha carnavalesca chamada “Linda Morena”, em que faz referência ao lenço bordado com as iniciais A.G., que teria sido a causa do crime. O escritor paraibano José Lins do Rego escreveu um romance histórico chamado “Água-Mãe”, em que narra os acontecimentos da Revolução de 1930 na Paraíba.

– O crime também gerou polêmica e controvérsia sobre as suas verdadeiras motivações e circunstâncias. Alguns historiadores e pesquisadores questionam a versão oficial, que atribui o crime a uma vingança pessoal de João Dantas contra João Pessoa. Eles apontam que o crime teria sido planejado por uma conspiração política, que envolveria os governadores de Pernambuco e da Bahia, os coronéis da Paraíba e até mesmo Getúlio Vargas. Essa tese defende que o objetivo do crime seria criar um clima de comoção nacional que justificasse a revolução e a tomada do poder pelos aliados de Vargas.

O crime da Confeitaria Glória foi um dos episódios mais marcantes da história do Brasil, pois desencadeou uma revolução que mudou o regime político do país. O assassinato de João Pessoa revelou as tensões e os conflitos entre as diferentes forças políticas e sociais que disputavam o poder na República Velha. O crime também mostrou as paixões e os dramas humanos que envolviam os personagens dessa história.

O crime da Confeitaria Glória ainda desperta interesse e curiosidade nos estudiosos e no público em geral, pois envolve mistério, intriga, romance e tragédia. O crime da Confeitaria Glória é um exemplo de como a história é feita por pessoas reais, com seus sonhos, ideais, amores e ódios.

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