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O cientista Ennio lutou por uma ciência inclusiva

O cientista Ennio lutou por uma ciência inclusiva

O cientista Ennio Candotti, morto aos 81 anos, fundou o Museu da Amazônia (MUSA), presidiu a SBPC, lutou pela floresta e defendeu a democracia brasileira. A atuação dele foi fundamental para a Constituição Federal de 1988 (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real).


Como dizemos nessas ocasiões na Amazônia, o cientista, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e fundador do Museu da Amazônia (MUSA), Ennio Candotti, se encantou na floresta que tanto amou e pela qual lutou. Ele foi um defensor intransigente da democracia brasileira, da ciência inclusiva e do acesso dos povos indígenas, das mulheres, das crianças, dos quilombolas e dos ribeirinhos. 

A morte aos 81 anos foi confirmada nesta quarta-feira (6) pela família. O cientista deixou a esposa, a física Maria Elisa da Costa Magalhães, e o filho, o sociólogo Fabio Magalhães, além de vários filhos de coração, gerados ao longo da luta pela ciência e pela Amazônia. 

Físico ítalo-brasileiro e professor, ele presidiu a SBPC por quatro mandatos: de 1989 a 1991; de 1991 a 1993; de 2003 a 2005 e de 2005 a 2007. Teve atuação fundamental para a Constituição Federal de 1988. 

“A Constituição foi um divisor de águas no desenvolvimento do país. Estão presentes nessas páginas do livro os documentos preparados pela SBPC para a elaboração da Constituição. Inclusive, a SBPC esteve até mais presente do que os documentos entregues ao Ulysses Guimarães revelam”, disse ele na ocasião do lançamento do livro “A SBPC e a Constituição Brasileira”, em 2022.

Dr. Ennio participou da criação das revistas “Ciência Hoje”, “Ciência Hoje das Crianças” e “Ciência Hoy” da Argentina. Foi editor de “Ciência Hoje” de 1982 a 1996. Recebeu o Prêmio Kalinga, da Unesco, de popularização da ciência. Atualmente integrava o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), criado pelo atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Minha relação com o Dr. Ennio começou em 2009, quando se aposentou das atividades na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), mudou para Manaus (AM) e abraçou de vez as causas da floresta amazônica. Naquele ano, fiz uma reportagem com ele sobre a fundação do Museu da Amazônia (MUSA), “uma casa de cultura e ciência, de convivência e celebração da diversidade do ser no mundo. Um lugar onde os humanos e não humanos vivem juntos, felizes”, como costumava dizer sobre um dos seus maiores legados.

No capítulo “Encontros e compromissos na Amazônia”, que escrevi junto com a jornalista Izabel Santos, no livro “Ciência para o Brasil, 70 anos da SBPC”, ele contou como foi a inspiração para criar o MUSA. 

“Criei o Museu da Amazônia, um jardim botânico, para juntar ideias em torno dessa questão da valorização do patrimônio natural da região, pois essa floresta é ouro e nós a estamos tratando como cascalho. Temos um tesouro mais valioso do que petróleo. O MUSA é um exemplo de laboratório vivo, que tem muito a mostrar às pessoas”.

Para Izabel Santos, “o Ennio era uma figura inspiradora, carismática e sempre disposto ao diálogo. Um exemplo de luta e atuação pela ciência, pela Amazônia e pela democracia. A notícia de sua morte nos entristece, mas sei que ele vai permanecer entre nós pelo exemplo que deu em vida com dedicação a tudo aquilo que acreditava”.

Ainda no livro “Ciência para o Brasil”, ele disse que o que mais o marcou em suas experiências na Amazônia foi a baixa valorização do patrimônio que a região abriga. 

“Em uma lista de coisas importantes na Amazônia, talvez a reserva de carbono seja a vigésima. E a diversidade? E as variedades que aqui cresceram? E os produtos naturais que podem se transformar em medicamentos? Isso vale muito mais que o aquecimento global, mesmo considerando os seus danos! Quem ensinou às plantas como fabricar as substâncias que fazem bem à saúde das pessoas, como as hipertensivas, anticoagulantes e que ajudam a metabolizar o açúcar? Por que algumas delas produzem veneno? Há segredos aqui que, se forem desvendados, podem valer muito! E essas informações não são acessíveis senão através da ciência.”

O Dr. Ennio era um apoiador das causas das mulheres feministas. Em 2018, quando coordenei junto com as mulheres da partidAmazonas um coletivo criado na capital amazonense pela filósofa Marcia Tiburi e a bióloga Elisa Wandelli para apoiar a inclusão do gênero feminino na política institucional, ele abriu as portas do auditório do MUSA, no centro de Manaus. Lá, fizemos as rodas de conversas “Diálogos”, que resultou no primeiro debate com candidatas do campo progressista na história do Amazonas, Ele também participou do protesto #EleNão, em que as mulheres alertaram o Brasil para os anos sombrios que posteriormente vivemos nos quatro anos sob o comando da ultra-direita.

“Estou sem palavras, mas com o pensamento com muita energia positiva para sua transição em paz e grata por sua vida”, disse Elisa Wandelli sobre a morte do cientista.

O velório de Ennio Candotti será realizado nesta sexta-feira (8), das 9h às 15h (horário de Manaus; das 10h às 16h no horário de Brasília), no MUSA, na avenida Margarida, nº 6.305, no bairro Cidade de Deus, zona norte da cidade.

Leia o livro na íntegra: “Ciência para o Brasil”.

http://portal.sbpcnet.org.br/livro/cienciaparaobrasil.pdf


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