O Pará possui duas das mais potentes hidrelétricas do mundo. A mais antiga, Tucuruí, no rio Tocantins, é a sétima maior. A 5ª, mais recente, é Belo Monte, no Xingu. São também as duas maiores usinas de energia 100% nacionais.
Desde 1985, Tucuruí fornece energia para a Albras, a maior fábrica de alumínio do país e do continente, e a maior consumidora individual de energia brasileira. Essa indústria absorve 3,3% de toda a produção firme de energia fornecida a consumidores livres do país. Ao seu lado, no distrito industrial de Barcarena, a 50 quilômetros de Belém, está a Alunorte, a maior refinadora de alumina (insumo usado para o metal), que é a 17ª maior consumidora nacional de energia.
As duas fábricas, que já foram controladas pela mineradora Vale e agora pertencem à multinacional norueguesa Hydro (na Albras, em sociedade com um consórcio japonês na proporção de 51% a 49% das ações), utilizam mil megawatts de energia. Se dependessem exclusivamente de Belo Monte, que custou 32 bilhões de reais, ficariam com 25% da energia firme dessa hidrelétrica.
A Albras só se instalou no Pará porque o governo brasileiro garantiu ao governo japonês, em acordo assinado em 1976, em Tóquio, pelo general Ernesto Geisel, que construiria a hidrelétrica de Tucuruí, a primeira de grande porte da Amazônia. Quase 40% anos depois, se mantém a relação de dependência e complementariedade entre a usina de fonte hídrica e a planta industrial mais eletrointensiva que existe.
Essa relação começou a ser rompida ontem (28), com a inauguração de um terminal portuário que será o centro de conexões voltadas para o estuário que banha Belém e o continente. Pelo Oceano Atlântico virão navios carregando gás natural líquido, que descarregarão o produto no terminal, onde já está instalada uma Unidade Flutuante de Armazenamento e Regaseificação, de reconversão do gás liquefeito para vapor.
Esse vapor abastecerá inicialmente uma termelétrica construída (ao custo de R$ 1,3 bilhão) pela Alunorte, ainda neste ano, e, em seguida, a Albras, a partir de 2025. O investimento nessa parcela do projeto global, é de R$ 300 milhões, já realizado.
As duas indústrias, através da sua controladora, a Hydro e a japonesa NAAC, se abastecerão em uma termelétrica a gás natural, a maior do país, e de uma usina solar, a Vista Alegre, o maior PPA solar da América Latina, ao custo de $ 447,8 milhões (quase 2,2 bilhões de reais, financiados pelo BNDES. tornando-se quase autossuficientes nesse insumo, que representa 30% do custo da produção de alumínio.
A Albras é dona da Vista Alegre Comercializadora de Energia, em sociedade com a Atlas Renewable Energy, multinacional americana que se declara líder em energia renovável. Ela implanta uma usina de energia solar em Minas Gerais, com financiamento de US$ 447,8 milhões (equivalentes a R$ 2,18 bi) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (o BNDES).
Será o maior financiamento concedido e pago em dólares, para o maior PPA solar da América Latina, capaz de atender o consumo de três milhões de pessoas. O contrato com a Albras é de 21 anos.
A pretexto da descarbonização e da substituição de óleo diesel por fontes mais limpas, a gás e a energia solar, o que se vê é a constituição de um sistema fechado de produção de alumina e alumínio. Atrás de si é a extração de bauxita e à frente a geração de energia, para a qual a Hydro tem o seu braço empresarial específico, com financiamento do BNDES para pagamento em dólar. Uma combinação de impacto no universo da produção e das finanças, acrescido de desnacionalização. Um projeto concebido fora do Brasil para atender estrangeiros.
Não parece melhor do que a era das gigantescas hidrelétricas amazônicas.
A imagem que abre este artigo é de autoria de Bruno Huberman (Agência Oboré), mostra a linha de transmissão de Tucuruí, no Pará.
Além de colaborar com a agência Amazônia Real, Lúcio Flávio Pinto mantém quatro blogs, que podem ser consultados gratuitamente nos seguintes endereços:
* lucioflaviopinto.wordpress.com – acompanhamento sintonizado no dia a dia.A
* valeqvale.wordpress.com – inteiramente dedicado à maior mineradora do país, dona de Carajás, a maior província mineral do mundo.
* amazoniahj.wordpress.com – uma enciclopédia da Amazônia contemporânea, já com centenas de verbetes, num banco de dados único, sem igual.
* cabanagem180.wordpress.com – documentos e análises sobre a maior rebelião popular da história do Brasil.
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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