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Não há espaço para mais petróleo na Amazônia

Não há espaço para mais petróleo na Amazônia

Há lugares no mundo que não deveriam ser tocados pela ganância. Lugares que guardam a chama da vida, a memória da Terra e o futuro de todos nós. O meu território, no centro da Amazônia, é um deles. Ainda assim, em nome de um suposto progresso que serve a poucos, o governo brasileiro abre caminho para perfurar o coração do maior bioma tropical do planeta — e chama isso de desenvolvimento.

A liberação da licença para perfuração de um poço de pesquisa exploratória no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, não é apenas um erro técnico ou ambiental. É uma contradição perigosa, um passo em direção a um abismo que será irreversível e desastroso para o clima e a biodiversidade. É a velha lógica de tratar a Amazônia como zona de sacrifício: um território de onde tudo se extrai e no qual nada se constrói.

A impressão que tenho é que voltamos a 1500, quando invadiram a nossa casa e usaram manobras para nos destruir. Passaram-se séculos, e, ainda assim, seguimos servindo apenas para estampar fotos quando convém. 

Meu pai me ensinou a ser uma mulher de palavra — e hoje vejo que muitos nem essa virtude têm. De nada adianta ir à COP30 fazer discursos bonitos se as ações concretas contradizem suas palavras. Como pode o Brasil, prestes a sediar a COP30 e buscando liderar o debate climático, defender a perfuração de poços que nos empurram mais fundo para a crise climática? Ao invés de propor novas fronteiras de exploração, o governo precisa apresentar um verdadeiro plano de transição energética.

Se houvesse uma barreira que separasse a poluição de nossas florestas, talvez eu dormisse em paz. Aqueles que defendem a exploração de petróleo na Amazônia poderiam beber o próprio petróleo, viver do seu “desenvolvimento econômico” e celebrar essa tal “soberania nacional” sozinhos. 

A nossa soberania é outra: é a vida — a vida da floresta, dos rios, dos Karuãnas. Os gananciosos perderam essa conexão há muito tempo e, com isso, perderam o privilégio de sentir o território como parte de si.

A Amazônia não é um vazio a ser explorado. É casa, é cultura, é território sagrado. A crise climática só pode ser enfrentada com soluções que respeitem os direitos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais. É hora de estabelecer zonas de exclusão de combustíveis fósseis — e a Amazônia deve ser a primeira delas.

Ninguém pode decidir o futuro de um território que não lhe pertence. Se o Amapá ainda guarda suas árvores e sua biodiversidade, é porque os povos indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas e as comunidades tradicionais as protegem com seu conhecimento e com suas próprias vidas. A floresta não está de pé por benevolência de governos ou empresas — está viva porque nós a defendemos todos os dias. E ainda assim, esses guardiões não foram escutados nem consultados.

Àqueles que defendem explorar petróleo na Amazônia, espero nunca saibam o que é perder tudo — aquilo que sustenta a alma: as lembranças de infância, o banho de rio, a paz dentro de casa. Espero que nunca sintam o desespero de não ter para onde correr, de ver o perigo se aproximar e não poder proteger a própria família. Espero, sinceramente, que nunca conheçam o medo que nós sentimos hoje.

Cada gota de petróleo retirada da foz do Amazonas é uma gota de futuro perdida. O que está em jogo não é apenas uma licença, mas o destino de um país e de um planeta.

Apesar de urgente, a escolha é simples: Amazônia ou petróleo.


Este artigo foi escrito com exclusividade para a Amazônia Real

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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