Considerado o maior desastre ambiental da história brasileira, o rompimento da barragem de Fundão, no interior do município de Mariana (MG), em novembro de 2015, causa prejuízos até hoje.
O colossal despejo de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério afetou 39 municípios, em Minas Gerais e no Espírito Santo, e matou 118 pessoas, aponta a Cáritas.
Além disso, a poluição que desceu por mais de 600 km do Rio Doce chegou ao Atlântico, ameaçando a biodiversidade costeiro-marinha. Chuvas fortes jogam mais contaminantes acumulados no manancial.
A lista inclui uma população isolada da toninha (Pontoporia blainvillei), no norte do Espírito Santo. Parente das baleias e golfinhos, a espécie é o cetáceo sob maior ameaça de extinção no Atlântico Sul.
Bancado pela Fundação Renova, o monitoramento executado por instituições públicas e particulares mostra ambientes e animais contaminados com arsênico, cromo e outros “metais pesados”.
A entidade foi criada em 2016, quando as empresas Samarco, Vale e BHP assinaram um acordo judicial para reparar os estragos socioambientais causados pela tragédia.
Absorvidas pelos organismos, essas substâncias provocam danos neurológicos, cardiovasculares, infecções, deformações e outros problemas de saúde.
“Isso afeta a fauna de maneira ampla e variada”, diz Eduardo Camargo, coordenador do projeto Baleia Jubarte. “E os cetáceos são os únicos mamíferos monitorados”, alerta. A iniciativa, contudo, estaria ameaçada.
Segundo Camargo, a Renova “quer retirar toda a parte de saúde dos cetáceos” do financiamento. “Pode ter um aditivo enquanto não é aprovado um novo plano de trabalho”, diz.
Professor e pesquisador na Universidade Estadual do Norte Fluminense, Leonardo Serafim da Silveira atua há duas décadas na região atingida pelo desastre de Mariana.
Para ele, manter o monitoramento é fundamental para que sejam identificados impactos contínuos à biodiversidade e meios de conservação. “A cada ano que passa a possibilidade de consequências aumenta”, reforça.
Silveira descreve que especialmente as toninhas apresentam lesões ósseas e sanguíneas, em órgãos internos como pulmões e rins. “Isso pode afetar a reprodução e extinguir aquela população local”, avisa.
Mas, os prejuízos podem ser ainda maiores. Espécies valiosas para a pesca e o turismo também são vítimas potenciais. “Pessoas podem estar comendo peixe contaminado. O risco é grande para todo o ecossistemas”, alerta o cientista.
Programa renovado
Consultada pela reportagem, a Fundação Renova afirma que um novo formato do Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática (PMBA) foi aprovado este ano e inclui estudos de cetáceos, com mudanças “da malha amostral, da frequência amostral e matrizes analisadas” para “o acompanhamento de tendências sobre as comunidades bióticas e seus ecossistemas na região dulcícola, foz e área costeira e marinha”.
Além disso, a empresa descreve que, para o monitoramento da biodiversidade no Espírito Santo, firmou um acordo de cooperação técnico-científica de R$ 696,5 milhões com a Fundação Espírito Santense de Tecnologia (Fest).
“Uma rede de pesquisadores gera uma ampla gama de resultados, fornecendo subsídios para o planejamento das ações de reparação da biodiversidade. Seus resultados devem ser interpretados com cautela e integrados a outros estudos para preencher lacunas de conhecimento”, diz a Renova.
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