A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Cristalino, em Alta Floresta, no norte de Mato Grosso, possui diversos atrativos. Um deles é encontrado entre a copa das árvores e desperta a atenção não apenas de turistas, mas de cientistas: o macaco-aranha-da-cara-branca. A espécie voltou a ser monitorada na reserva depois de um hiato de quase dez anos e está no centro de um programa de pesquisa que já revelou novas informações sobre a dieta e até sobre o comportamento do primata diante do turismo.
Com cerca de 60 centímetros de comprimento e outros 70 cm só de cauda, o macaco-aranha-da-cara-branca (Ateles marginatus) possui o corpo todo preto, exceto pelo rosto, caracterizado por uma faixa branca que se destaca na testa e em cima da boca. Com ocorrência restrita a uma porção do norte de Mato Grosso e a região central do Pará, o habitat deste primata 100% brasileiro se sobrepõe ao Arco do Desmatamento, zona com as maiores taxas de destruição da floresta. Essa coincidência infeliz, aliada à caça e aos impactos de empreendimentos como rodovias e hidrelétricas, faz com que o macaco esteja Em Perigo de extinção, conforme avalia o ICMBio.
É em áreas protegidas como a RPPN do Cristalino, que forma um contínuo florestal de cerca de 200 mil hectares junto ao Parque Estadual Cristalino, que a espécie encontra refúgio para prosperar.
A pesquisa, liderada pela bióloga Fabrícia Dias Santana, mestranda da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), acompanhou um grupo de 20 macacos-aranha que circula próximo ao Cristalino Lodge, pousada vizinha à RPPN, e ponto que concentra maior fluxo turístico.

Durante dez meses, a pesquisadora seguiu a pé os macacos na floresta, observando sua alimentação, descanso, locomoção, padrão de uso do território e suas interações sociais, enquanto investigava a relação dos animais com a presença humana, especialmente nas trilhas turísticas do Cristalino Lodge.
O primata, assim como outros macacos-aranhas, alimenta-se essencialmente de frutos, cumprindo um papel importante na manutenção da floresta. “Enquanto as antas fazem a dispersão de grandes sementes no chão, grupos de macaco-aranha fazem isso na copa das árvores. Eles são jardineiros da floresta e contribuem para a captura de carbono [já que as maiores árvores são as de madeira mais densa e que acumulam maior quantidade de carbono]”, conta o primatólogo Gustavo Canale, professor da UFMT e orientador da pesquisa.
Fabrícia Santana observou, entretanto, que esse comportamento alimentar é mais flexível do que se pensava. Em especial no período seco, quando há menos frutos disponíveis, os macacos adaptaram sua alimentação e incluíram no cardápio folhas, sementes, brotos, cascas de árvores e até pequenos invertebrados.
Entre 2010 e 2015, um estudo então inédito com o macaco-aranha-da-cara-branca levantou informações básicas sobre a espécie. A retomada das pesquisas busca se somar a este trabalho anterior para construir um banco de dados robustos sobre o primata, seu comportamento e ecologia.
O estudo integra o Programa de Pesquisa e Conservação do macaco-aranha-da-cara-branca, executado em parceria com a Fundação Ecológica Cristalino (FEC), Instituto Ecótono, Cristalino Lodge, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), e alinhado ao Plano de Ação Nacional (PAN) para Conservação dos Primatas Amazônicos.

Rota dos Primatas de Mato Grosso
A pesquisa também não identificou nenhuma alteração no comportamento dos macacos-aranha em função da presença de visitantes. Ao contrário, o grupo monitorado por Fabrícia usa frequentemente áreas próximas ao lodge e às trilhas. A bióloga acredita que essa relação aparentemente harmoniosa pode ser fruto de uma habituação do grupo aos humanos, já que o turismo é praticado na área há mais de três décadas, mas reforça a necessidade de estudos de longo prazo e análises complementares para entender melhor a real influência do turismo sobre a espécie.
A observação de primatas, tal qual a de aves, pode representar uma alternativa importante para geração de emprego e renda associada à conservação.
Em Mato Grosso, há 28 espécies conhecidas de primatas. Apenas na RPPN do Cristalino, estão 7 delas. Além do macaco-aranha-da-cara-branca, podem ser observados o cuxiú-de-nariz-branco (Chiropotes albinasus) e o zogue-zogue-de-barriga-vermelha (Plecturocebus moloch).
A reserva é um dos destaques da recém-elaborada Rota dos Primatas de Mato Grosso, um roteiro que percorre sete locais nos três biomas do estado – Pantanal, Cerrado e Amazônia – para observação de pelo menos 14 espécies. A iniciativa, em processo de implementação, tem como objetivo fortalecer o turismo, a ciência e a conservação, aliando observação de fauna, ciência-cidadã e geração de renda.

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