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Juventude amazônida: 50% do fundo climático deve ir para comunidades

Juventude amazônida: 50% do fundo climático deve ir para comunidades


Belém (PA) – Em volta da samaúma solitária no Parque da Cidade de Belém (PA), a juventude amazônida protagonizou um ritual sagrado de cânticos e defumação em demanda pelo financiamento climático direto para os povos que protegem a floresta. Mais de 200 pessoas, entre indígenas, ribeirinhos, quilombolas, periféricos e ativistas pelo clima, realizaram o ato “Ritual Gira” na manhã de quinta-feira (6),  momentos antes da chegada dos chefes de Estado para a Cúpula dos Líderes.

O ato, conduzido pelo Coletivo Jovem Tapajônico, foi uma forma de conexão dos saberes dos mais velhos em contato com crianças e jovens para cantar, dançar e apelar por um futuro possível nos territórios amazônicos diante da crise climática. O grupo, que faz parte da Aliança dos Povos pelo Clima, trabalha pela conscientização política, social e cultural de jovens da Reserva Tapajós-Arapiuns, da Floresta Nacional do Tapajós, do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande e dos quilombolas de Oriximiná.

Aliança dos Povos pelo Clima realizou uma manifestação com o lema “A gente cobra”, pedindo financiamento para os povos que preservam a floresta (Foto: Abner Pamareg Suruí/Coletivo Jovem Tapajônico/2025).

A ideia central, segundo Walter Kumaruara, coordenador do coletivo e jovem liderança indígena do Baixo Tapajós, é colocar os povos que vivem na floresta como protagonistas do debate sobre o clima, sem intermediários para que os recursos sejam acessados. 

“É importante que as comunidades possam gerir o recurso do financiamento climático para proteger seus territórios, avançar com demarcações, proteger com as autodemarcações, já que o processo de demarcação é muito lento hoje no nosso País”, disse Walter Kumaruara em entrevista à Amazônia Real. “O monitoramento territorial é muito importante para a preservação desses territórios, e o financiamento iria suprir essa necessidade. A gente sabe que tem esse financiamento, mas até chegar na ponta  para quem realmente cuida da floresta é muito difícil.”

A demanda por 50% do TFFF

Lema “A gente cobra”, pedindo financiamento para os povos que preservam a floresta (Foto:@oruebrasileiro/Mídia Ninja/2025).

A demanda da juventude amazônida está ligada ao lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu discurso na abertura da Cúpula dos Líderes. A iniciativa irá funcionar como uma ferramenta de financiamento para auxiliar cerca de 70 países na conservação de florestas tropicais. 

O fundo prevê que um quinto dos recursos seja destinado aos povos indígenas e comunidades locais. Mas a juventude quer mais e reivindica 50% do financiamento climático do TFFF. “Esse recurso precisa ser destinado para essas comunidades. Ele só vai funcionar se as comunidades receberem isso”, pontuou Walter.

A Cúpula de Líderes se estenderá até o dia 8 (sábado) e terá reuniões gerais e sessões temáticas comandadas pelo presidente Lula. Durante o encontro será realizado um balanço do Acordo de Paris, de 2015, e uma avaliação do cumprimento das metas nacionais e o que deve ser incorporado nas novas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) para 2035.

A meta global de adaptação

Juventude amazônida realizou uma manifestação com o lema “A gente cobra”, pedindo financiamento para os povos que preservam a floresta (Foto: Abner Pamareg Suruí/Coletivo Jovem Tapajônico/2025).

Do lado de fora dos portões onde as discussões oficiais acontecem, a simbologia da cobra foi levantada em protesto pela falta de ação na proteção das florestas e rios. Para Walter Kumaruara, ainda há incerteza sobre a participação efetiva dos povos tradicionais nas negociações da Cúpula dos Líderes e da própria COP30, que se inicia na segunda-feira.

“A gente ainda não sabe se vai estar lá dentro, se vão realmente ouvir as demandas das comunidades. Espero que discutam a questão dos fundos de florestas, mas que também os líderes possam se atentar às pessoas que estão dentro desses territórios. É preciso fortalecer políticas públicas para manter esses territórios de pé. A floresta, por si só, pode ser muito mais, mas isso só é possível com as populações que estão dentro dela”, afirmou.

Outra forte demanda da juventude tem a ver com a questão da adaptação climática. Esse é um dos temas centrais da COP30, e nos bastidores diplomáticos serão os líderes dos países envolvidos que deverão discutir o avanço do Acordo de Paris e se é possível (e vão) cumprir com a Meta Global de Adaptação (Global Goal on Adaptation, ou GGA, na sigla em inglês), estabelecida para impulsionar ações e financiamento para a resiliência climática. Mas a população mais vulnerável da Amazônia já sente os impactos de uma crise que não espera por grandes acordos.

O custo da inação frente à crise climática

Um sobrevoo realizado pelo Greenpeace em setembro de 2025 detectou extensas áreas de fazendas de gado, regiões desmatadas e outros sinais de destruição ambiental na Amazônia (Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace/2025).

Um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), intitulado “Acelerando estratégias de adaptação equitativa na Amazônia em meio às mudanças climáticas”, divulgado em abril, apontou o custo da inação em relação à crise climática. Entre 1991 e 2023, a Amazônia já perdeu 10,6 bilhões de reais devido a desastres climáticos. 

No relatório Lacuna de Adaptação 2024: Faça chuva ou faça sol, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o alerta é de que as necessidades em países em desenvolvimento, como Brasil, Burkina Faso, Chile e África do Sul, superam de forma significativa o financiamento disponível. A falha não é só de dinheiro, mas de planejamento. Sob os impactos que os territórios sofrem com queimadas, secas extremas, desmatamento e poluição, os jovens cobram uma ação rápida dos governantes. 

“Nossos territórios estão sofrendo muito com a questão da crise climática. Então, precisa ser criada de forma rápida essa resposta sobre a adaptação climática, mas que elas consigam suprir a necessidade de cada território, porque quando se fala em Amazônia, se fala numa diversidade de comunidades onde as realidades são muito diferentes umas das outras”, destacou a liderança indígena.

Em relação a um futuro possível para a juventude amazônida, Walter Kumaruara destacou que a juventude é protagonista e luta por seus espaços, contando sua própria. “É uma juventude onde suas lutas, as lutas dos seus avós, podem reverberar cada vez mais dentro dos territórios. E para isso, a gente tem os nossos influenciadores territoriais que não tem diploma, mas tem o essencial, que é o conhecimento tradicional”, arrematou.

Na manhã de 6 de novembro, a Aliança dos Povos pelo Clima realizou uma manifestação com o lema “A gente cobra”, pedindo financiamento para os povos que preservam a floresta (Foto: Abner Pamareg Suruí/Coletivo Jovem Tapajônico/2025).

A Cobertura da Crise Climática e COP30 da Amazônia Real é exclusiva para amplificar as vozes dos povos indígenas e tradicionais da região região amazônica. Republique nossos conteúdos: Os textos, fotografias e vídeos produzidos pela equipe da agência Amazônia Real estão licenciados com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional (CC BY ND 4.0), e podem ser republicados na mídia: jornais impressos, revistas, sites, blogs, livros didáticos e de literatura; com o crédito do autor e da agência Amazônia Real. Fotografias cedidas ou produzidas por outros veículos e organizações não atendem a essa licença e precisam de autorização dos autores.


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