Foto: Hannah Lydia/Comitê Chico Mendes e Movimento Jovens do Futuro
Desde o início de setembro, as fumaças têm aumentado os risco à saúde do povo brasileiro, especialmente na Amazônia. No Acre, terra do ativista Chico Mendes, todas as cidades estão em alerta, variando entre níveis “muito insalubres” e “perigosos” de qualidade do ar. Neste momento, Rio Branco é a capital do país com o pior índice de poluição.
“A crise climática é evidente em Rio Branco. Muitas pessoas acham que já faz parte da normalidade, que todo ano tem seca, todo ano tem enchente. Mas esses eventos extremos estão ficando cada vez piores, é desesperador, ainda mais com a força da narrativa do agronegócio”, comenta Anaís Cordeiro, 31 anos, voluntária do Comitê Chico Mendes.
“Mesmo sofrendo até para respirar, tem gente que não entende que o problema é um sistema que impacta a nossa vida em busca de lucro. Já existem soluções e alternativas, o que falta são investimentos”.
No início do ano, o Acre registrou a maior enchente da história, com inundações de rios e igarapés que deixou 19 dos 22 municípios em situação de emergência. Agora, o estado inteiro enfrenta uma seca severa e queimadas persistentes, alimentadas pelo avanço da agropecuária, responsável por 74% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa, principalmente pelo desmatamento.
Para enfrentar essa emergência climática e promover soluções, surge o Movimento Jovens do Futuro, com apoio do Comitê Chico Mendes, que promove a formação socioambiental de jovens acreanos nas cidades e nas florestas, fortalecendo sua atuação política e valorizando a cultura amazônica.
O Movimento Jovens do Futuro nasceu de uma carta para juventude escrita por Chico Mendes, assassinado há 35 anos, e que virou seu testamento, deixando a sua luta de herança para os mais jovens. Todo ano, em setembro, o Festival Jovens do Futuro celebra esse legado, com atrações culturais que perpetuam sua memória.
Este ano, o lema “Futuro é Agora” chamou atenção para urgência da crise no clima. O Greenpeace Brasil foi convidado a fazer parte da programação, exibindo o filme ‘Antes do Prato’ no histórico Cine Teatro Recreio, em Rio Branco. Devido à fumaça, as atividades ao ar livre foram canceladas, com exceção do “Empate pela Amazônia”, no Dia da Amazônia (5/9), para denunciar a gravidade em curso.
“Essas iniciativas são muito importantes para as pessoas se conscientizarem do problema. O agronegócio está destruindo a Amazônia, é um projeto de destruição”, explica Beatriz Tayna, 28 anos, professora do estado do Acre, cujas aulas foram suspensas devido às fumaças.
Há poucos dias, quando as escolas ainda estavam abertas e ela ia trabalhar de bicicleta, relata que sentia dificuldade para pedalar e respirar; atividades comuns se tornaram cansativas. “Temos que acabar com esse modelo que visa o lucro e priorizar o senso de comunidade, a consciência das nossas ações e escolhas.”
O agronegócio que avança sobre a maior floresta tropical do mundo agrava as mudanças climáticas, reduz a produção dos alimentos e aumenta os preços. Carne, feijão, laranja, por exemplo, estão mais caros devido à seca, a pior em 44 anos.
Os povos da floresta estão entre os prejudicados. “Não temos assistência do poder público. O desmatamento cresceu e os extrativistas estão muito vulneráveis, vendendo as terras, porque não tem como ficar por lá”, relata Marta Jane, 20 anos, filha e neta de seringueiros da Reserva Extrativista Chico Mendes. “Pessoas de fora que têm dinheiro, compram e fazem fazenda, desmatam e criam gado.” No Acre, tem 5 vezes mais gado do que pessoas.
Graças às desigualdades sociais, as tragédias climáticas causam mais impactos às populações do campo, indígenas, quilombolas e periféricas. Transformar essa realidade, portanto, requer assegurar qualidade de vida a essas pessoas, estimulando uma agricultura e uma economia mais sustentável, que gera saúde, renda e conservação ambiental.
“Nossa luta pela vida é igual. Nos diferenciar é separar e enfraquecer, dá poder à oposição. Temos que focar no que nos une e cuidar da cabeça e da alma, buscando equilíbrio espiritual e psicológico“, frisa Laiane Santos, 32 anos, do Coletivo Varadouro, que reúne jovens de reservas extrativistas.
Outro desafio é a falta de escolas nas áreas rurais, mesmo sendo direito de toda criança e adolescente, forçando a juventude a sair de seus territórios para estudar.
Imagina o Brasil se os bilhões de verba pública que vão para o agronegócio fossem para a agroecologia. Como viveríamos se o Plano Safra, principal política agrícola do país, priorizasse a agricultura familiar e ecológica? E se a sociobioeconomia fosse fortalecida e a educação ambiental fosse estimulada em todas as regiões?
A juventude da Resex Chico Mendes conta que suas famílias, assim como muitas outras espalhadas Brasil afora, não têm incentivos públicos ou privados para sobreviver e se sustentar da floresta, através da seringa, castanha, açaí e demais cultivos – ao contrário da soja, que recebe subsídio do governo para sua produção.
Mesmo com pouco apoio, a agricultura familiar é a maior responsável pela diversidade alimentar no Brasil e já ajudou a tirar o país do Mapa da Fome em 2014. “Hoje, basicamente, não tem essa valorização, essa visibilidade para o setor”, diz Marta Jane. “De alguma forma, o benefício tem que chegar para o produtor da floresta, porque não chega”.
O Comitê Chico Mendes defende que sonhos coletivos viram realidade e que, com investimento e educação, a transformação ecológica é possível na Amazônia e no mundo.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Greenpeace, escrito por Andressa Santa Cruz
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Portal Amazônia e são de total responsabilidade do autor.
Ver post do Autor