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Jornalistas destacam em congresso a crise climática e cobertura comprometida

Jornalistas destacam em congresso a crise climática e cobertura comprometida

Realizado entre 19 e 21 de setembro, em Fortaleza (CE), o 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental reuniu profissionais e estudantes para debater grandes temas dessa cobertura nos biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa (Foto de Isabelli Fernandes).


Por Redação dos Estudantes de Jornalismo Newslink *

Fortaleza (CE) – Realizado em um contexto de crise climática sem precedentes no , o 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (CBJA) trouxe à tona questões cruciais sobre os impactos ao dos biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. O encontro, que se destacou como um espaço essencial para debater o futuro da cobertura jornalística, enfatizou a importância de uma abordagem contínua e comprometida com a realidade dos biomas brasileiros.

Um dos tópicos mais marcantes do CBJA foi a devastação de ecossistemas como a Amazônia e Pantanal, que sofreram perdas significativas em sua vegetação com os desmatamentos e as queimadas nos últimos anos. O congresso foi realizado de 19 a 21 de setembro, no Teatro Celina Queiroz, da Universidade de Fortaleza (Unifor), sendo o primeiro evento da Rede Brasileiro de Jornalismo Ambiental (RBJA) no Nordeste.

Na abertura do congresso, os jornalistas Dal Marcondes, presidente da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA), Maristela Crispim, coordenadora do Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (CBJA), Wagner Borges, coordenador do Curso de Jornalismo da Unifor), e Samira de Castro, presidenta da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), enfatizaram a importância da conexão entre jornalismo, meio ambiente e ciência. O impacto desta destruição para as futuras gerações, foi evidenciado na urgência de uma cobertura que não se restrinja a eventos de tragédia, mas que inclua uma narrativa mais abrangente e inclusiva.

O congresso contou com as participações dos jornalistas jornalistas Kátia Brasil, co-fundadora e diretora executiva da agência Amazônia Real, André Trigueiro, repórter da TV Globo, Juliana Arini, secretária da Câmara Setorial Temática Climática do Estado de Mato Grosso, Márcio Isensee, diretor do site ((o))eco, Mariana Fontenele, professora da Unifor, Afra Balazina e Marina Vieira, da Fundação SOS Mata Atlântica, Sérgio Xavier, coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), Stefano Wrobleski, diretor do InfoAmazonia, e Felipe Lima, assessor de comunicação da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), entre outros. 

Os participantes do congresso concordaram que é fundamental incorporar as vozes dos povos tradicionais e destacar histórias frequentemente invisibilizadas pela grande mídia. Esta mudança de abordagem é vital para promover uma compreensão mais profunda dos complexos processos ambientais, sociais e econômicos que moldam a realidade do Brasil.

Os desafios enfrentados por jornalistas ambientais também foram amplamente debatidos, incluindo questões de censura e assédio judicial. Casos emblemáticos, como o conflito na Amazônia, foram citados para ilustrar como a omissão ou subestimação de conflitos ambientais históricos prejudica a compreensão pública destes problemas. Como destacou Dal Marcondes, “o Brasil está em chamas”, referindo-se não apenas aos incêndios na Amazônia, mas à urgência de uma cobertura jornalística comprometida.

No último dia do CBJA, antes da palestra de encerramento, foi exibido um pequeno vídeo em homenagem aos jornalistas ambientais que abriram caminhos na área e que nos deixaram nos últimos anos.

O jornalismo ambiental na era dos extremos

André Trigueiro encerrou o 8º CBJA com uma fala contundente sobre as responsabilidades dos jornalistas ambientais diante aos extremos que vivemos (Foto: mariah Salvarore/ Newslink).

O jornalista e professor André Trigueiro, da TV Globo do Rio de Janeiro, encerrou as apresentações do 8º CBJA com uma reflexão sobre a cobertura ambiental na era dos extremos. Ele destacou sobre a importância de entendermos o quão grave é o momento que estamos vivendo, e o papel que cada um de nós tem nessa luta.

Um dos pontos enfatizados pelo jornalista foi sobre como nós não devemos generalizar falando que “a mídia” fez isso ou aquilo. Segundo ele, é exatamente isso que quem faz algo de errado quer. É preciso, entretanto, dar nome aos bois e escancarar os fatos, pois só assim é possível tocar na ferida e expor o problema.

Trigueiro concedeu ainda uma entrevista exclusiva para a NewsLink TV. Em conversa com o repórter Leonardo Piccinini, opinou sobre o papel do jornalista no Brasil de hoje e como o negacionismo afeta a cobertura climática, além de criticar aqueles que tentam pegar carona em um desastre para aparecer e inflar o ego.

Veja as palestras de Dal Marcondes de André Trigueiro.

Censura e assédio judicial

As jornalistas Kátia Brasil (Amazônia Real) e Juliana Arini, falando de Cuiabá online, e o mediador Márcio Isensee, diretor de conteúdo do site O Eco (Foto: Yasmin Boyadjian / Newslink).

Durante o segundo dia do Congresso de Jornalismo Ambiental, as jornalistas Kátia Brasil, da Amazônia Real, e Juliana Arini, secretária da Câmara Setorial Temática Climática do Estado de Mato Grosso, refletiram sobre “Os grandes temas da cobertura ambiental no Brasil” e a importância de tratar as questões climáticas como prioridade, mediadas pelo fotógrafo e videomaker Márcio Isensee, diretor de conteúdo do site ((o)) eco.

Juliana compartilhou um relato pessoal sobre sua infância no Pantanal, expressou a tristeza de saber que os filhos não poderão ter a mesma relação com o bioma. “Estima-se que, nos últimos cinco anos, os incêndios tenham degradado cerca de 9% da vegetação do Pantanal”, informou e evidenciou a urgência da situação.

Kátia Brasil destacou que pratica na cobertura ambiental na Amazônia “um jornalismo além da conservação da fauna e flora, com vozes dos povos tradicionais, descolonizando o olhar e compartilhando histórias invisibilizadas”. Ela fez um panorama político e econômico sobre como a região amazônica foi alvo de megaempreendimentos – como rodovias, hidrelétricas, instalação das mineradoras -, gerando genocídios dos povos indígenas e conflitos com as comunidades tradicionais, corrida do ouro em garimpos, massacres e mortes de defensores, impulsionando a destruição da floresta do período da ditadura militar (1864-1985) até os dias atuais, quando os órgãos ambientais foram desmontados pelo governo de Jair Bolsonaro (2019-2022). “Na dos povos indígenas brasileiros há muito dor, muito sofrimento para manter essa floresta viva. Nós estamos indo para o colapso total com a destruição da Amazônia”.

A jornalista, que fez a coberturas de grande fôlego, como o massacre dos Yanomami, em 1993, o assassinato da missionária Dorothy Stang, em 2005, secas e enchentes dos últimos 26 anos, sendo a primeira em 1998, diz que a cobertura da grande mídia nacional e internacional Amazônia é sazonal. “A grande mídia vai quando acontece as desgraças. Dom e Bruno foram brutalmente assassinados e todos foram para Amazônia. Na Amazônia os grandes crimes ficam na impunidade, a imprensa tem que cobrar com o seu trabalho a responsabilização dos culpados”.

Kátia abordou os desafios que a cobertura ambiental enfrenta, o que inclui a censura por parte de políticos e grandes corporações. “Estamos enfrentando assédio judicial e censura. Para se ter ideia, uma reportagem nossa está barrada há mais de dois anos”, confessou a jornalista, que destacou a necessidade de um jornalismo mais livre e crítico.

Veja as palestras de Juliana Arini e Kátia Brasil

Ferramentas digitais para ampliar impactos das ameaças ao meio ambiente

Mesa “O jornalismo ambiental nos meios digitais” (Foto ivulgação Newslink Curso de Jornalismo da Unifor)

A mesa “O jornalismo ambiental nos meios digitais” reuniu Dal Marcondes, Stefano Wrobleski, Paulo André Vieira e Maristela Crispim, que abordaram a necessidade de uma cobertura ambiental comprometida e inovadora.

Marcondes enfatizou a urgência de compreender os processos complexos que ocorrem na Amazônia, indo além dos dados de desmatamento e incêndios, com destaque ao impacto sobre as comunidades locais. Wrobleski ressaltou o uso de dados em tempo real para narrativas humanas no InfoAmazonia, enquanto Paulo André destacou o caráter investigativo que o jornalismo ambiental precisa assumir em face dos retrocessos nas políticas ambientais do Brasil. Maristela Crispim finalizou lembrando o papel dos jornalistas em trazer à tona histórias silenciadas, especialmente no contexto digital.

A pauta ESG e o impacto no jornalismo

Muito tem se falado de ESG e em meio a tantos problemas ambientais, o assunto é ainda mais urgente (Foto: Giulia Tessmann/ Newslink).

Muito tem se falado de ESG e, em meio a questões ambientais, o tema é ainda mais do que necessário. Por isto, uma mesa discutiu a pauta ESG (Environmental, Social, and Governance), com a participação de Dal Marcondes e Magda Maya.

Marcondes ressaltou que o conceito de ESG tem suas raízes fincadas nos anos 1970, mas alertou para o crescente problema do “ESGwashing”, por meio do qual empresas usam a sigla para marketing, sem promover mudanças reais. “Devemos estar atentos às empresas que adotam práticas superficiais para melhorar sua imagem, sem comprometimento real”, ressaltou o jornalista.

Magda Maya, por sua vez, apresentou uma perspectiva filosófica ao debate. Enfatizou que a exploração desenfreada dos recursos naturais não pode mais ser vista como um simples resultado do desenvolvimento, mas como uma crise iminente. “A natureza não tem senso moral, ela tem consequências”, declarou. Destacou, ainda, a importância de repensar nosso ordenamento jurídico.

Papel do jornalismo na fiscalização

A mediadora Mariana Fontenele, jornalista e professora da Unifor, sublinhou o papel fundamental do jornalismo como agente fiscalizador. Afirmou que “o jornalismo ambiental precisa estar mais do que atento; ele deve ser incansável em suas investigações e questionamentos.” Esta vigilância contínua é essencial para garantir que a discussão sobre ESG se mantenha relevante e não se transforme em uma mera ferramenta de marketing.

O 8º CBJA reafirma a responsabilidade de os jornalistas em irem além dos números e explorarem as causas subjacentes e os impactos nas comunidades afetadas. Este evento é um passo importante para fortalecer o jornalismo ambiental e promover uma narrativa que verdadeiramente reflita a complexidade da crise climática no Brasil.

Vozes da juventude

A estudante Gabriella Lourenço, descendente dos povos indígenas Tupis e Tamoquim, ressaltou que, embora os jovens sejam considerados o futuro, é crucial que sejam incluídos nas decisões e debates atuais (Foto: Kelly Sampaio/Newslink).

A estudante Gabriella Lourenço, de 15 anos, descendente dos povos indígenas Tupis e Tamoquim, fez uma apresentação inspiradora sobre “Comunicação Ambiental para a Juventude”. Ela se destacou como a pessoa mais jovem a falar para um público de mais de 900 jornalistas.

Participante do projeto VERUS, Gabriella enfatizou a preocupação com o distanciamento dos jovens das discussões ambientais e ressaltou que, embora sejam considerados o futuro, é crucial que sejam incluídos nas decisões e debates atuais.

Veja a palestra de Gabriella Lourenço.

Singularidade do bioma Caatinga

A oficina sobre cobertura da Caatinga destacou estereótipos sobre o bioma | Foto: Lucas Caracas / Newslink.

No primeiro dia, a coordenadora do 8º CBJA, Maristela Crispim, professora do curso de Jornalismo da Unifor e diretora executiva do Instituto Eco Nordeste, ministrou uma oficina focada na singularidade do bioma Caatinga. Ela ressaltou que a Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, pois faz fronteira apenas com o oceano.

Maristela enfatizou a importância de compreender suas características únicas, como o regime climático de duas estações (seca e chuvosa), para promover sua preservação e desenvolver políticas públicas que garantam a desse ecossistema.

A reportagem do desastre no Rio Grande do Sul

A cobertura da tragédia no Rio Grande do Sul revelou histórias de pessoas afetadas, mas os jornalistas Moreno Osório, Eloisa Loose e Silvia Marcuzzo, durante o 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, ressaltaram a importância de contextualizar os problemas, em vez de focar apenas em narrativas individuais.

Sílvia criticou a mídia por não abordar o desmonte da política ambiental, que contribuiu para o colapso do abastecimento de água. Osório lembrou que a falta de manutenção em sistemas anti-cheias teve graves consequências. Eles defenderam uma cobertura mais preventiva e abrangente, e destacaram que a tragédia persiste, com muitos gaúchos lidando com luto e desemprego.

Reinvenção do jornalismo científico

O jornalista Felipe Lima abordou a sua experiência digital na assessoria de imprensa da Funceme (Foto: Lucas Caracas/Newslink).

A importância da área de jornalismo científico foi destacada pelo assessor de comunicação da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Felipe Lima. Para ele, esta parte do jornalismo é, antes de tudo, educação. “A ciência está presente no nosso dia a dia desde que a gente é pequenininho. Só que a ciência que às vezes chega às pessoas ainda é muito robusta e mal compreendida”. Felipe explica que o jornalismo tem o papel de tradutor, para que a informação seja repassada, para que faça um elo entre os cientistas e as pessoas.

Modelagem de negócios no Jornalismo Ambiental

Dal Marcondes, diretor executivo do Instituto Envolverde, teve uma conversa descontraída com os congressistas sobre a modelagem de negócios no Jornalismo Ambiental (Foto: Kelly Sampaio / Newslink).

O tema da oficina ministrada por Dal Marcondes, diretor executivo do Instituto Envolverde, no CBJA foi a modelagem de negócios no Jornalismo Ambiental. Durante a apresentação, Dal destacou que as redes sociais são um instrumento poderoso para a comunicação, mas tem o problema de não estar sob o controle dos jornalistas, já que mudam as regras de acordo com os seus interesses.

Desafios do jornalismo independente, investigativo e sem fins lucrativos

A jornalista Kátia Brasil compartilhou suas experiências e destacou os desafios financeiros enfrentados por essa área do jornalismo, que é crucial para a democracia no Brasil (Foto: João Vitor Saraiva / Newslink).

Outra oficina do congresso, conduzida por Kátia Brasil, da Amazônia Real, abordou o tema do jornalismo independente e investigativo. Kátia compartilhou suas experiências e destacou os desafios financeiros enfrentados por essa área do jornalismo, que é crucial para a democracia no Brasil, especialmente quando a mídia tradicional não alcança certas comunidades. Ela enfatizou a importância de encontrar formas de financiar esse trabalho vital.

O projeto Amazônia Real realiza, ainda, oficinas para jovens indígenas e estudantes de jornalismo, visando promover a educomunicação e sensibilidades com os temas da região amazônica. Kátia mencionou que estas oficinas foram criadas para também estimular a troca de conhecimentos e a conscientização sobre a importância da Amazônia e seus povos, preparando as novas gerações para compreenderem melhor seu papel na sociedade.

Preservação da Mata Atlântica

A oficina sobre a Mata Atlântica, liderada por Afra Balazina e Marina Vieira, da Fundação SOS Mata Atlântica, abordou os desafios de preservação do bioma (Foto: João Vitor Saraiva / Newslink).

A oficina sobre a Mata Atlântica, liderada por Afra Balazina e Marina Vieira, da Fundação SOS Mata Atlântica, abordou os desafios de preservação do bioma, que atualmente possui apenas 24% de sua cobertura original.

As palestrantes debateram os impactos do desmatamento e das queimadas, a importância do monitoramento contínuo e as iniciativas de restauração ecológica. Também foi destacada a necessidade de maior conscientização pública e a interseção da Mata Atlântica com outros biomas, como a Caatinga e o Cerrado, o que exige uma abordagem de conservação específica.

Economia regenerativa e governança climática inclusiva

O jornalista Sérgio Xavier, coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), e Ricardo Coimbra, economista e professor da Unifor (Foto: Kelly Sampaio / Newslink).

O jornalista Sérgio Xavier, coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), e Ricardo Coimbra, economista e professor da Unifor, trouxeram à tona questões cruciais sobre como o setor privado pode se adaptar e prosperar num cenário onde eventos climáticos extremos ameaçam a sustentabilidade dos negócios.

“Estamos em um momento em que muitos negócios estão em risco, seja pela ação da natureza ou pela carência de um mercado que valorize práticas sustentáveis”, afirmou Xavier.


* Os alunos do Newslink foram orientados pelos professores Kátia Patrocínio e Miguel Macedo, ambos da Unifor.


Links para assistir as mesas dos três dias de Evento:

Dia 19

https://www.youtube.com/watch?v=RofQbbBz0Qs&t=4503s&ab_channel=TVUnifor (manhã)

https://www.youtube.com/watch?v=5ER30aXAlLY&t=1114s&ab_channel=TVUnifor (Tarde)

Dia 20

Dia 21



As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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