A história do Guia é vinculada à história do professor Otavio Marques, do Laboratório de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan, que fez o levantamento da fauna local de serpentes da Estação Ecológica Jureia-Itatins e produziu um manual para os guardas do parque.
A ideia se expandiu para um livro comercial com a sugestão de André Eterovic, do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC, e participação do orientador Ivan Sazima, do Museu de Diversidade Biológica da Unicamp. Desde então, a série de guias cobriu a diversidade das cobras do Cerrado, do Pantanal, da Mata Atlântica, da Caatinga e, agora, da Amazônia.
Imagens de serpentes. Da esquerda para a direita, na primeira linha, serpentes coral-falsa (Oxyrhopus formosus), coral-verdadeira (Micrurus averyi) e periquitamboia (Corallus caninus). Na segunda linha, as serpentes boipeva, jararaca-falsa, papa-sapo (Xenodon severus), bicuda, cobra-cipó (Oxybelis fulgidus) e jararaca (Bothrocophias hyoprora) – Imagens: Cedidas pelos pesquisadores
A pesquisa base que deu origem ao Guia se iniciou na década de 1990, durante o doutorado do professor Márcio Martins, do Instituto de Biociências (IB) da USP.
“Eu fiquei cinco anos [na Amazônia] trabalhando com serpentes e encontrei mais de 700 indivíduos na natureza de lá. Todas as cobras que pego na mão, eu já começo a anotar, então esse foi o grosso do conhecimento da biologia das cobras da Amazônia”,
conta.
Além da experiência de Martins, os autores também utilizaram uma extensa bibliografia para complementar a pesquisa durante os anos.
O livro é organizado entre características gerais do bioma e das serpentes, padrões dos animais e informações complementares, como distribuição geográfica de cada uma delas. Os perfis desses répteis apresentam nome popular, nome científico, família, foto, se são peçonhentas e atributos específicos.
Todas as características das cobras são descritas através de desenhos intuitivos que contam aos leitores sobre habitat, alimentação, tamanho, reprodução, defesa e dentição das serpentes. Esse tipo de descrição é um elemento observado pelos autores que deu muito certo nos guias anteriores.
“Os ícones fizeram a mágica para que até crianças possam ler o livro e consigam saber tudo o que a cobra faz só olhando os desenhos”.
Márcio Martins
André Eterovic complementa: “O que é extremamente satisfatório nesse trabalho são as crianças que ainda não sabem ler e conseguem extrair informações tão robustas quanto aquelas que os pesquisadores que estão se formando também conseguem.”
Os autores pretendem atingir um público variado: de pesquisadores a crianças, de populações locais da Amazônia a moradores do restante do País.
“O guia chega não só para os profissionais, mas para o cidadão que trabalha e tem contato com essas espécies, já que parte delas pode oferecer um risco considerável”,
destaca Eterovic.
Apesar do uso de muitos elementos visuais utilizados no guia, os autores destacam que por trás de cada imagem e desenho há um esforço absurdo para encontrar as espécies, estudar os comportamentos e catalogá-las para chegar ao resultado descritivo e imagético do livro. “O nosso livro não se torna obsoleto diante da realidade virtual em que vivemos porque ele é supervisual”, explica Martins.
“Eu gosto da frase ‘Só conservamos aquilo que amamos. Só amamos aquilo que entendemos. Só entendemos aquilo que nos foi ensinado’, do naturalista Baba Dioum”, diz Otavio Marques.
Ele explica que o conhecimento gera afetividade e é isso que o guia procura, de forma a preservar as espécies descritas no livro. Sensibilizar as pessoas nesse sentido já é uma atividade feita no Instituto Butantan, onde Otavio trabalha com o “mão na cobra e outros bichos”, em que as pessoas podem segurar serpentes nas mãos.
“Nesse livro, estamos estabelecendo a ligação das pessoas com a natureza”, diz.
Além do conhecimento, Serpentes da Amazônia também mostra toda a beleza desses animais, o que pode ajudar na tarefa da conservação dessas espécies.
“O guia é um registro pictórico da biodiversidade. Nós estamos retratando a beleza e essa beleza pode sumir se nós não cuidarmos dos nossos ecossistemas”, aponta Eterovic.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por Julia Custodio, estagiária sob orientação de Fabiana Mariz
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