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Guia de leitura sobre a Amazônia

Guia de leitura sobre a Amazônia


Em 1973 voltei a São Paulo para concluir minha graduação em sociologia e política e iniciar minha inconclusa pós-graduação. De lá passei a enviar para Belém – primeiro para A Província do Pará, depois para O Liberal – uma página dominical, que já se chamava Jornal Pessoal. Nesse mesmo ano preparei uma bibliografia sobre a Amazônia. Não era exatamente excesso de pretensão para quem só tinha 24 anos. Era um esforço para partilhar minhas leituras com o público paraense. Com um pé numa redação jornalística e outra na academia, naquele momento fazia leituras intensas. A lista que apresente i traduz mais o nível do meu conhecimento amazônico naquele momento do que uma reconstituição exata do melhor acervo bibliográfico sobre a região. Ontem, como hoje, espero que as sugestões tenham utilidade. Por isso a reproduzo neste começo de férias, apesar da desatualização, desejando que nelas haja espaço para lituras amazônicas.
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Embora não pareça, a Amazônia é uma das regiões brasileiras com mais rica e vasta bibliografia. Num inventário que fez em 1963, o Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação constatou a existência de 7.688 títulos, abrangendo livros e artigos em publicações periódicas especializadas, sobre as Amazônias brasileira, colombiana, venezuelana, peruana, equatoriana e boliviana, com predominância do interesse pela nossa.

É claro que essa bibliografia tem mais volume quantitativo do que valor qualitativo. Predominam nos trabalhos o enfoque impressionista, as narrativas simplesmente descritivas, o emprego de métodos empíricos não científicos e a falta de uma visão global.

Além disso, o esforço de compreensão e interpretação da Amazônia tem sido assistemático e estanque: não há uma visão cumulativa do processo histórico da região. Quem esquece sobre os problemas atuais esquece a bibliografia existente ou, no caso de pesquisas de campo, tangencia os fatos anteriores do lugar que estuda.

Resta assim, quase sempre, uma visão parcelada desse processo e, em decorrência, o mundo amazônico não é conectado ao mundo nacional ou ao contexto universal, no qual se situa como fornecedor de matérias primas e consumidor de manufaturados (tanto nas relações interregionais quanto internacionais). A região caminha de acordo com um ritmo (pode-se ler modelo) que lhe tem sido imposto, que não decorre de uma vocação sua, particular, específica, amazônica. Se rvem-se mais da região do que a servem.

A bibliografia amazônica que publico não é, como gostaria que fosse, comentada, analítica e crítica. Ou só o será em parte, em alguns casos. Essa deficiência decorre de uma série de fatores: a contingência de um didatismo que permita em seguida a discussão das ideias; o desconhecimento quase absoluto que, em regra existe entre os próprios moradores da região; a necessidade de primeiro indicar a bibliografia necessário ao debate para só depois travá-lo; os aspectos incidentais da minha própria reflexão sobre a bibliografia amazônica, e as limitações pessoais e de contexto, que limitam a provocação da controvérsia.

De qualquer maneira, espero que as indicações que serão feitas tenham alguma utilidade, especialmente para os estudantes, aos quais é dedicado e dirigido este reduzido esforço de indicação.

Os mais importantes

É muito difícil, diante da vasta e irregular bibliografia sobre a Amazônia, escolher os livros mais importantes segundo um critério exclusivamente objetivo. Renego as listas, pela sua natural faciosidade e subjetivismo, mas concordo em que se deve selecionar as obras básicas à compreensão do universo como um tema coerente e global.

Pode-se dividir a bibliografia amazônica com a sua temática mais ou menos unificada: a ficção, os ensaios de interpretação, os trabalhos sobre folclore, as narrativas de viagem, os estudos históricos, geográficos, econômicos, sociológicos e antropológicos.

Ficção

A ficção, apesar de não bem servida, tem alguns trabalhos que, a partir de uma inspiração regionalista, ultrapassaram as barreiras que os limitam. Sem dúvida, dois dos mais importantes romances amazônicos são A Selva, de Ferreira de Castro, e La Voragine, de Eustáquio Rivera. Incrível: ele nunca foi traduzido do espanhol para o português [já foi], é pouco conhecido por aqui, mas sua popularidade é enorme na Colôm bia, Venezuela, Peru e Equador. O destaque a esses dois livros se deve não tanto aos seus valores literários (de qualquer maneira, muito expressivos), mas, sobretudo, ao pioneirismo das suas temáticas.

No mesmo nível, mas de maior importância literária, há todo o ciclo de Dalcídio Jurandir, especialmente Marajó e Belém do Grão-Pará. E mais: Dos ditos passados nos acercados do Cassianã e Chuva Branca, de Paulo Jacob; O Missionário e O coronel Sangrado, de Inglês de Sousa; Verde Vagomundo, de Benedicto Monteiro; e & ndash; apesar de já estilisticamente desinteressante – Inferno Verde, de Alberto Rangel.

Há ainda outros romances, como Beiradão, de Álvaro Maia; O mirante do Baixo-Amazonas, de Raimundo de Moraes, romance e contos de Gastão Cruls e Peregrino Júnior.

Na poesia, há um raquitismo maior. O mais importante livro de poesias sobre a Amazônia ainda é Cobra Norato, do gaúcho Raul Bopp. Há experimentações fragmentárias, embora algumas delas muito boas. Os que melhor se têm saído são Elson de Farias e Max Martins. Os outros poetas só incidentalmente trabalham na região ou sobre ela. Suas temáticas são mais universais.

Prosa

Segue-se uma lista de trabalhos em prosa úteis ou indispensáveis a uma melhor compreensão da questão amazônica atual: Amazônia (a terra e o homem), de Araújo Lima; A Amazônia e a cobiça internacional, de Arthur Cezar Ferreira Reis; O rio comanda a vida, de Leandro Tocantins; Problemática da Amazônia, de vários autores; A desnacionalização da Amazônia Transamazô nica: prós e contras, de Osny Duarte Pereira; A luta pela Amazônia, de Luís Osíris da Silva; A Amazônia e o petróleo, de Romeu Cabral; A borracha, de Sílvio Braga; Estrutura geo-social e econômica da Amazônia, de Samuel Benchimol; A Amazônia no ano 2000, de Armando Mendes; A Amazônia em novas dimensões, de Cosme Ferreira Filho; Desenvolvimento econômico da Amazônia, estudo preparado pelo Banco da Amazônia; Porque perdemos a batalha da borracha, de Cosme Ferreira Filho; Frentes de expansão e estrutura agrária, de Otávio Guilherme Velho; Colonização dirigida no Brasil: suas possibilidades na Amazônia, de vários autores do Ipea.

Obras históricasOs motins políticos, de Domingos Antônio Raiol; A política de Portugal no vale amazônico e A Amazônia que os portugueses revelaram, de Arthur Cezar Ferreira Reis; História do rio Amazonas, de Santa Rosa; Formação histórica do Acre Natureza, homem e tempo, de Leandro Tocantins; Plácido de Castro, de Cláudio de Araújo Lima; O negro no Pará, de Vicente Salles; História do Pará A Cabanagem, de Ernesto Cruz; O vale do Amazonas, de Tavares Bastos; A liberdade de navegação do Amazonas, de Fernando Saboia de Medeiros; A Amazônia para os negros americanos, de Nícia Vilela Luz; O Estado do Pará: seu comércio e suas indústrias, de Luís Cordeiro; Estudos amazônicos, de José Veríssimo; as obras completas de Manuel Barata; Alguns elementos para o estudo do negro na Amazônia, de Anaíza Vergolino; O tesouro descoberto do rio Amazonas, do padre João Daniel; Visitas pastorais, do frei João da Silva José Queiroz; Peru versus Bolívia e&n bsp;Contrastes e confrontos, de Euclides da Cunha; Compêndio das eras na província do Pará, de Antônio Ladislau Monteiro Baena; Pasión y crónicas del Amazonas, de E. Rodrigues Fabregat; Descobrimiento del Amazonas, do padre Cristobal de Acuña; A Cabanagem, de Jorge Hurley; A instrução e as províncias (1º volume), de Moacyr Primitivo, e A Amazônia na era pombalina, de Marcos Carneiro de Mendonça.

Estudos antropológicosRondônia, de Roquette Pinto; Uma comunidade amazônica, de Charles Wagley; Os Tapajó, de Curt Nimuendaju; Índios e castanheiros, de Roberto da Mata e Roque La Raia; Áreas de fricção interétnica na Amazônia, de Roberto Cardoso de Oliveira; Moronguêtá, de Nunes Pereira; Sa ntos e visagens, de Eduardo Galvão; Índios e brasileiros no vale do Tapajós, e Las Casas, e Cerâmica tapajó, de Helen Palmatary.

Estudos geográficos: Amazôniaconceito e paisagem, de Eidorfe Moreira; As regiões amazônicas, do barão de Marajó; A Amazônia brasileira O Pará, de Paul Le Cointe; Bacia amazônica, de Agnello Bittencourt; Amazônia brasileira, obra coletiva do Conselho Nacional de Geografia; Amazônia, de Lúcio de Castro Soares; Desenvolvimento florestal do vale do Amazonas, de vários autores; Belém – estudo de geografia humana, de Antônio da Rocha Penteado, e Colonização no Pará, de Ernesto Cruz.

Livros de viagemViagem ao Brasil, de Louis Agassiz; O naturalista do rio Amazonas, de Walter Bates; Viagens pelo rio Negro e Amazonas; de Alfred Wallace; Viagem pelo Brasil, de Spix e Martius; Viagem pelo Norte do brasil, de Avé Lallemant; Viagem ao Tapajós, de Henri Coudreau; A Amazônia que eu vi, de Gastão Cruls; Viagem filosófica, de Alexandre Rodrigues Ferreira; Reminiscências de viagens e permanências no Brasil, de Daniel P. Kidder, e Tesouro descoberto no máximo rio Amazonas, de João Daniel.

Não estão incluídos nesta bibliografia básica alguns artigos muito importantes publicados esparsamente, como os de Catharina Vergolino Dias, Orlando Valverde, Roberto Santos e outros. Mas serão fichados na bibliografia que começarei a publicar a partir da próxima semana. As muitas injustiças cometidas deverão ser corrigidas no desenvolvimento do próprio trabalho. Mas serão bem recebidos os reparos que puderem ser feitos.


A imagem que abre este artigo é de autoria de Alberto César Araújo e faz parte da série “As Selvas” e mostra um exemplar da primeira edição do livro “A Selva”, de Ferreira de Castro, na Biblioteca Estadual de Amazonas.


As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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