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Guardião da Floresta da TI Arariboia é assassinado

Guardião da Floresta da TI Arariboia é assassinado
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A violência contra os povos indígenas no Maranhão se agravou com o assassinato, no sábado (3), do indígena Janildo Oliveira Guajajara, que atuava como guardião desde 2018. É a sexta morte violenta de um guardião (Foto: Reprodução redes sociais).


Porto Velho (RO) – O guardião da Terra Indígena (TI) Arariboia Janildo Oliveira Guajajara foi assassinado com tiros nas costas na madrugada de sábado (3). O crime, no município de Amarante do Maranhão (MA), é o sexto assassinato desde o início das atividades do grupo Guardiões da Floresta. Até a noite desta segunda-feira (5), a polícia não divulgou se tem pistas da autoria dos disparos ou ainda quais teriam sido os motivos dos crimes. Lideranças indígenas levantaram a suspeita de que a morte de Jael Carlos Miranda Guajajara, de 34 anos, vítima de um atropelamento na mesma madrugada, no município de Arame, tenha sido intencional e não um acidente.

Janildo atuava como Guardião da Floresta desde 2018, na região do Barreiro, em uma aldeia nas proximidades de uma estrada aberta por madeireiros. Por ser ilegal, os guardiões fecharam a via, o que iniciou o ciclo de ameaças aos Guajarara. “Por todos esses anos fizemos e continuaremos a fazer a proteção territorial mesmo sendo ameaçados e mortos. Somos contrários a violência que mata e destrói, por isso lutamos pela vida”, informou, em nota, a Associação Ka’a Iwar dos Guardiões da Floresta da Terra Indígena Arariboia.

Em nota, o Conselho Missionário Indigenista do Maranhão (Cimi) denuncia as mortes dos Guajajaras e destaca o contexto de vulnerabilidade dos indígenas. “O povo Guajajara teme pela sua vida, pois a insegurança é constante e as ameaças seguem dia após dia”, afirma. Dados do Cimi apontam que entre 2006 e 2022, 26 indígenas foram assassinados na TI Arariboia. “Reforçamos a necessidade de mais segurança nos Territórios Indígenas e mais ações do poder público que venham cobrir o derramamento de sangue nas comunidades indígenas.”

Criado em 2012 pelos próprios indígenas, o Guardiões da Floresta faz a proteção e a vigilância das TIs, tentando conter e combater o desmatamento, os incêndios criminosos e os invasores. Essa função caberia ao Estado brasileiro, definida na Constituição Federal. Mas diante da insegurança em que vivem, os indígenas decidiram patrulhar as áreas demarcadas por conta própria. Por esse motivo, eles se tornaram alvo de represálias dos invasores.

Na mesma TI Arariboia, o guardião da floresta e liderança Paulo Paulino Guajajara, de 26 anos, foi assassinado em novembro de 2019. Em uma emboscada de madeireiros ilegais, ele levou um tiro no pescoço. Naquele mês e no seguinte, outros três indígenas Guajajara foram assassinados, inclusive dois caciques: Firmino Prexede Guajajara, de 45 anos, da aldeia Silvino (TI Cana Brava), e Raimundo Benício Guajajara, 38, da aldeia Descendência Severino (TI Lagoa Comprida).

O guardião Paulo Paulino Guajajara foi assassinado aos 26 anos (Foto Patrick Raynaud/APIB)

Uma liderança indígena que preferiu manter o anonimato por receio de retaliações, desabafou à Amazônia Real: “A realidade é que ninguém faz a segurança do nosso Estado. Então eles decidiram fazer por conta própria com ajuda de algumas ONGs internacionais e o resultado é esse. Só eles acabam morrendo sem nenhuma intervenção ou ação direta do Estado brasileiro”.

A fonte disse que as mortes de indígenas não são aprofundadas a contento e os casos continuam sem solução. “Nunca foi prioridade. Estamos vendo acontecendo sempre e nenhuma justiça é feita. Na maioria das vezes são citados como quem estava alcoolizado e fica por isso mesmo”, afirmou. A nota da Associação Ka’a Iwar conclui informando que, apesar da violência de que são alvo, “nosso povo clama por justiça e exigimos a devida investigação desse e de outros assassinatos contra o povo Tentehara e queremos resposta da justiça de mais esse crime bárbaro”.

Aumento das invasões

Terra Indígena Arariboia sofreu incêndio criminoso em 2018 (Foto reprodução)

Em 2021, um relatório do Cimi apontou que houve aumento nas invasões de terras indígenas no Brasil. Também houve agravamento da violência, violações dos direitos constitucionais dos povos originários e desmonte dos órgãos de fiscalização e assistência no governo de Jair Bolsonaro. Nesse governo, os casos de “invasões possessórias, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio” só cresceram. “Em 2021, o Cimi registrou a ocorrência de 305 casos do tipo, que atingiram pelo menos 226 TIs em 22 Estados.”

Segundo o documento, em 2020, foram registrados 263 casos de invasão, que afetaram 201 terras em 19 Estados. A quantidade de casos em 2021 é quase três vezes maior do que a registrada em 2018, quando foram contabilizados 109 casos do tipo. O relatório ainda aponta elevação da ação ilegal de garimpeiros, madeireiros, caçadores, pescadores e grileiros em territórios indígenas, além de ataques criminosos recorrentes, com armamento pesado.

A violência sistematizada aumentou em 15 das 19 categorias descritas pela publicação, em relação ao ano anterior.  “Foram registrados 176 assassinatos de indígenas – apenas seis a menos do que em 2020, que registrou o maior número de homicídios desde que o Cimi passou a contabilizar este dado com base em fontes públicas, em 2014”, informa o relatório.

Violência na Bahia

Sepultamento do indígena pataxó Gustavo Silva (Reprodução redes sociais)

A violência contra indígenas se espalha por todo o País. No sul da Bahia, o adolescente indígena pataxó Gustavo Conceição da Silva, de 14 anos, da TI Comexatiba, também foi morto com um tiro de fuzil na nuca, na madrugada deste domingo (4). O ataque ao grupo da Aldeia Alegria Nova teria partido de pistoleiros. Lideranças indígenas relataram que homens fortemente armados dispararam contra jovens, crianças e mulheres indígenas. No local, a Polícia encontrou cartuchos de armas de grosso calibre e bombas de gás lacrimogêneo.

O centro do conflito é uma área de 28.600 hectares onde vivem 3 mil indígenas. O povo Pataxó, como em outras áreas do Brasil, luta há décadas pela demarcação da terra. “Apesar de ‘esperarmos’ o aumento da violência contra os povos indígenas no apagar das luzes deste desgoverno, não é concebível o descaso com a vida humana, com cidadãos que estão lutando pelos seus direitos, invertendo o sentido de cidadania. Vamos continuar lutando para que a justiça e a vida prevaleçam diante da violência institucional incentivada em nosso país”, afirma nota do Cimi local.

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