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Gosto de quero mais - Amazônia Real

Gosto de quero mais – Amazônia Real

Eu tinha 17 anos quando “cobri” o Seminário sobre a Biota Amazônica, realizado em 1966, em Belém, para comemorar o centenário do Museu Goeldi. A expressão biota se refere “ao conjunto de todos os seres vivos de um determinado local ou período, abrangendo microrganismos, plantas e animais”, segundo o Google. O uso dessa expressão indicava a intenção dos organizadores do encontro de delimitar a abrangência do evento. Ele asseguraria o caráter acadêmico, sem concessões, com rigor. Belém quase não soube do que acontecia.

Várias das palestras e conferências eram dadas em língua estrangeira, principalmente em inglês. Não havia tradução simultânea. Boa parte dos convidados era também de
estrangeiros. Claro que havia um certo colonialismo no que eles disseram. Mas havia também um conhecimento aprofundado sobre cada um dos temas abordados. Em certos casos, nem mesmo se poderia exigir a versão para a língua brasileira.

Muitas das pesquisas eram realizadas por estrangeiros. No contato com os palestrantes, podia-se descobrir o quanto sabiam os integrantes de instituições de outros países, mais do que os nacionais. Felizmente, foi editado para os participantes um livro de Lúcio de Castro Soares, que abarcava todos os ramos da biota. Podia-se perceber pesquisas feitas com propósito geopolítico, colonial, comercial, de apropriação do saber e das informações. Essas circunstâncias sempre estiveram presentes da definição do objetivo dessas pesquisas.

Meio século depois, um novo simpósio sobre o Museu Goeldi reunia uma maioria de cientistas nacionais e mesmo regionais. O fato era produto de uma preocupação com os interesses dos países mais avançados na produção do saber, dispostos a investir numa região pioneira e tirar proveitos vários. Na linguagem geopolítica e da doutrina de segurança nacional dos militares devia-se “integrar para não entregar”. Sempre que uma nova linha de pesquisa se apresentava, era preciso submetê-la à prova da verdade. Só assim se poderia imprimir o carimbo do Nihil Obstat. Não havia mais obstáculo ao prosseguimento do conhecimento, uma vez realizada a verificação pelo censor, com latim e tudo mais.

A mudança nos caminhos da COP até chegar, novamente em Belém, à sua 30ª edição, é profunda. Os participantes se contam por milhares, de todos os quadrantes, de todas as posições políticas, ideológicas ou culturais. As portas foram abertas a um espectro de representantes de todos os grupos sociais. Os nativos puderam se manifestar, questionando um vastíssimo conjunto de teses e propostas.

O curso do encontro poderia ser extraordinariamente democrático, sem destoar ou gerar choques e ranhuras, se no segundo dia da programação não tivesse acontecido a tentativa de manifestantes de invadir uma dependência nobre do local. Pode-se considerar excessiva a violência e destituídos de razão os manifestantes que gritavam palavras de ordem.

Se realmente as audiências públicas e os discursos dos detentores do poder decisório, no curso da aprovação dos empreendimentos econômicos de grande monta, estivessem realmente dispostos a partilhar o conhecimento e permitir que o aprendizado sobre os assuntos amazônicos de maior importância. Mas sem chegar a esse nível de detalhamento, capaz de bem informar a sociedade, atendendo todo o seu questionamento, a COP deixa um gosto d e “quero mais”, e melhor.

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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