Anunciado em 2023, o Brasil assumiu a presidência do G20, posição que culminará na cúpula de líderes de estados no Rio de Janeiro em novembro de 2024. Dentre os temas prioritários definidos pela atual presidência estão as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental). Com isso no radar e preparando as articulações para o evento final, está ocorrendo nesta semana o F20 Climate Solution Forum. Sob o tema central de “construir pontes entre o Norte e Sul Global”, painéis, mesas-redondas e eventos paralelos destrincham debates sobre financiamento climático, segurança alimentar, adaptação e desigualdade climática.
Ao longo dos três dias de evento, representantes de diversos países e organizações estão dialogando nos corredores de um hotel no Rio de Janeiro para trocar experiências sobre o papel central da filantropia para o financiamento climático ganhar escala. Alice de Moraes Amorim Vogas, diretora de Parcerias e Comunicações do ICS, define como objetivo central do evento a integração dos grupos de filantropia atuando em espaços e temas diversos: “A filantropia hoje em dia tem um pouco essa característica da fragmentação. Esse evento cria um espaço de colaboração, compartilhando estratégias de atuação”, diz.
A diretora do ICS, um dos realizadores do evento, destaca o poder que a filantropia tem em fazer a diferença dos projetos que estão na ponta: “Encontros como esse ajudam a filantropia a se entender como ator importante. Ela não está na ponta, mas tem a capacidade de apoiar projetos invisíveis que está lá e podem ganhar escala, que é o que a gente precisa”, explica.
No painel de abertura, a pesquisadora e ex-vice-presidente do IPCC, Thelma Krug, destacou a necessária (e já existente) base científica para implementar a adaptação e mitigação das mudanças climáticas: “Quando eu comecei, era um momento em que nós não falávamos em adaptação, porque falar de adaptação significaria assumir que nós não estávamos fazendo o suficiente para limitar as mudanças climáticas. Agora, se a gente não falar de adaptação, estamos mortos”, afirma. A pesquisadora também destacou a dificuldade de medir as ações de adaptação e como isso esbarra nos interesses políticos: “É interessante que os capítulos do IPCC de investimento e financiamento e outro sobre cooperação internacional mostram que mais de 90% do investimento vai para mitigação. E isso porque nós sabemos e conseguimos acompanhar as métricas e resultados da mitigação. Nós conseguimos calcular, por exemplo, o quanto reduzimos de emissões se pararmos o desmatamento. A adaptação é muito mais complexa porque não conseguimos responder rapidamente: ‘será que fomos eficazes? Como vou fazer os indicadores? Eu vou me adaptar ao que?’ Essas são as questões que estão no ar”, explica.
Para Krug, existe uma lacuna entre a produção científica do Norte e do sul global. É fundamental que as próprias sociedades do Sul Global produzam dados e produções científicas que embasem as políticas de soluções e a filantropia pode desenvolver papel central. “Se excluirmos Índia, China e Brasil, vemos que há uma lacuna na produção científica do sul global. E por isso a filantropia deve entrar para financiar pesquisas nesses países que não tem dados. É estranho pensar que o norte global produzirá a literatura para nossos países. Sem terem acesso aos dados. Por isso a importância da cooperação Sul-Sul. Nós falávamos de parceria público-privada, mas temos que trazer um outro P para essa equação: a Philanthropy (filantropia em inglês)”, concluiu Krug para uma plateia de aproximadamente 300 pessoas.
Representando o C20, um dos 13 grupos de engajamento do G20 neste ano, Henrique Botelho Frota, diretor executivo da ABONG, destacou a enorme diferença entre o tempo da diplomacia e o tempo dos impactos das mudanças climáticas na ponta: “Talvez a mensagem mais importante da sociedade civil até hoje seja o ‘não temos mais tempo’. O tempo da diplomacia é um tempo muito estendido, mas o tempo das comunidades que já estão sendo afetadas é ontem”, destaca. “A principal expectativa para o G20 é que vivemos um tempo de urgência e não podemos esperar mais 20 anos para apresentar soluções concretas, não só do Sul mas que também afetam o Norte Global”. Henrique também destacou a necessidade de escalonar o financiamento no sul global, que já saiu da casa dos bilhões e necessita do investimento na casa dos trilhões de dólares.
A F20 é uma rede com mais de 80 fundações e organizações filantrópicas mundiais e tem representantes de todos os 20 países do G20. Por essa possibilidade de articular com os tomadores de decisão nas negociações, a organização compilou 10 recomendações para ação para o G20 sob a presidência do Brasil. Para Alice de Moraes, essa posição é privilegiada para amplificar as demandas: “O que o G20 pode mudar no dia-a-dia das pessoas? Ele sozinho não faz nada, mas as sinalizações políticas do G20 vão aterrissando até chegar lá no território”, afirma, acrescentando que o principal legado que o G20 poderá deixar em 2024 é o debate sobre modelo de desenvolvimento que incorpore a questão climática.
Para Henrique Botelho, há uma certa sinalização trocada por parte da presidência brasileira no G20: “Eu acho importante as prioridades definidas pelo governo brasileiro (Desenvolvimento Sustentável, Fome e Pobreza e Governança Global), mas dada essa linguagem suave da diplomacia, coloca essas prioridades mas não se compromete com qual a transformação desejada nesses temas. Eu posso falar de transição energética em um viés super capitalista e extrativista, por exemplo. O que nós da sociedade civil defendemos é que qualquer transformação seja justa, e isso não está posto nas prioridades do governo”.
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site O Eco e são de total responsabilidade do autor.
Ver post do Autor