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Fogo na COP30 afeta negociações, mas não abala imagem do Brasil

Fogo na COP30 afeta negociações, mas não abala imagem do Brasil


Belém (PA)-  O incêndio de grandes proporções que atingiu, na tarde de quinta-feira (20), o Pavilhão dos Países na Zona Azul da COP30, forçou uma paralisação de mais de seis horas nos trabalhos oficiais, justamente na reta final das negociações. O pavilhão só foi reaberto às 20h40, com algumas reuniões seguintes atravessando a madrugada. As plenárias só foram retomadas hoje pela manhã, com as negociações visivelmente afetadas, inclusive no prazo – poucos acreditam que a conferência deva acabar ainda hoje, conforme previsto na programação.

Ontem, somente 55 dos 113 eventos previstos para a Zona Azul puderam acontecer, antes da interdição do local. Ao todo, foram canceladas seis reuniões de coordenação, onze coletivas de imprensa, seis eventos especiais, cinco eventos da presidência da COP, uma reunião de negociação informal, além de vinte e nove eventos paralelos.

À Amazônia Real, o jornalista Francis Atayure Abirigo, de Gana, afirma que foi “um problema ter que sair agora no último dia de negociações”. Já o jornalista Francis Atayure Abirigo, também de Gana, afirma que o fogo afetou as negociações, já que muitas organizações cancelaram seus eventos, não podendo apresentar suas propostas. “Ontem não houve reuniões em lugar algum”.

Mapa do Caminho X Decisão Mutirão

Mobilização de Mutirão para o Pacote de Belém. André Corrêa do Lago durante a sessão (Foto: Kiara Worth).

Durante a abertura da plenária desta sexta-feira (21), o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, pediu que os negociadores encontrem espaço para superar o impasse atual entre os países, sobretudo em relação à transição energética. Ele reconheceu que algumas das pautas consideradas essenciais pelo Brasil não evoluíram no ritmo esperado, mas ressaltou que a condução brasileira não busca atender interesses específicos do país-sede. Segundo ele, a presidência “prioriza o fortalecimento de algo que será bom para todos nós”.

O diplomata voltou ao tema após a sessão da manhã, quando reconheceu aos jornalistas as dificuldades em torno do debate sobre um roteiro de transição para o abandono dos combustíveis fósseis. Este é o ponto que acentua as maiores divisões entre as delegações. “Como em toda COP, a questão de ambição é central e muito difícil. É natural que haja alguma frustração, mas acho que é o momento do realismo”, afirmou. 

Os documentos-base divulgados pela presidência deixaram de mencionar qualquer referência explícita aos fósseis — ponto tratado como essencial para a conferência — e desencadearam críticas de especialistas, cientistas e blocos como a União Europeia. Como ainda se tratam de rascunhos, versões provisórias que acompanham o ritmo das negociações, os textos ainda podem ser alterados. As maiores resistências vem dos países árabes, maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo; de países africanos, que não querem se comprometer com mais uma obrigação; e da China, que não concorda que este seja o melhor momento para firmar o pacto. Os Estados Unidos, principais produtores globais de petróleo e gás natural, não estão presentes na conferência.

“COP paralela” é anunciada

Na coletiva de imprensa desta sexta-feira (21), a ministra colombiana do Meio Ambiente, Irene Vélez — porta-voz de um grupo de mais de 30 países — afirmou que a COP30 não pode encerrar seus trabalhos sem apresentar “um roteiro claro, justo e equitativo para abandonar os combustíveis fósseis no mundo”. Ao lado de delegações aliadas, reforçou que o grupo “não pede um documento vazio, um anúncio vazio”, em reação direta ao rascunho divulgado na madrugada.

Esses países contestam a versão intermediária do texto final apresentada ontem, considerada “tímida” por retirar do documento o Mapa do Caminho proposto pelo governo brasileiro para a transição dos combustíveis fósseis. No lugar, é mencionada uma “Decisão Mutirão”. 

Irene também anunciou uma nova conferência para criar uma “plataforma complementar” à COP30  novo Tratado de Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis, com apoio de mais de 80 países, incluindo Chile, Austrália, Áustria e Dinamarca, entre outros. O evento deve ocorrer em Santa Marta, no litoral colombiano, em 28 e 29 de abril de 2026, e terá ajuda da Holanda na organização.

Imagem do Brasil não deve ser maculada

Nagaraju Siddabathula, cientista indiano (Foto: Alberto César Araújo/ Amazônia Real).

A repercussão sobre os impactos do incêndio na imagem do Brasil como país-sede marcou o dia de ontem e segue mobilizando delegações. Para representantes de diversos países ouvidos pelo Amazônia Real, porém, o episódio não deve comprometer a credibilidade do Brasil na organização da COP30. Eles destacam que a Organização das Nações Unidas (ONU) também é corresponsável pela infraestrutura do evento. Eles elogiaram a rápida e efetiva ação do Corpo de Bombeiros do Pará e da segurança do evento durante o incidente. 

Nagaraju Siddabathula, cientista da delegação da Índia, relembrou o momento da evacuação: “Deveríamos ter uma reunião bilateral às 14h30, quando de repente ouvi um alerta de incêndio e todos entraram em pânico e saíram correndo”. Apesar do susto, avaliou que a reação das autoridades foi adequada e minimizou o impacto sobre o país-sede: “É uma situação ruim, mas tudo bem. É um problema que talvez aconteça em outros lugares também. Não é um problema exclusivo do Brasil”. Na manhã desta sexta-feira, ele aguardava em uma fila diante dos pavilhões fechados para recuperar pertences deixados para trás.

Outros participantes que estavam próximos ao local confirmam o pânico inicial, mas elogiam a evacuação bem conduzida. Julia Fan, representante comercial que atuava no estande da China, relatou que não viu o fogo, apenas as pessoas correndo e gritando “fogo, fogo”. Segundo ela, a saída foi “relativamente tranquila e calma com a ajuda de muitas pessoas — militares, civis — que organizaram a evacuação”.

Júlia Fan, da China e Emani Kumar, da Índia (Fotos: Alberto César Araújo/ Amazônia Real).

O indiano Imani Kumar, vice-secretário do ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade, também destacou a sensação de risco ao ver a fumaça se espalhar próximo a uma área de tendas. “Poderia pegar fogo e tudo ser consumido pelas chamas”, disse. Ele afirmou que a chegada rápida dos seguranças e a indicação das rotas de emergência evitaram maiores danos.

Já o jornalista ganês Abirigo, que estava a cerca de 50 metros do ponto inicial das chamas, relatou que “quase houve uma debandada indo para a Zona Verde”, temendo que o incêndio se agravasse. “O fogo se alastra como eletricidade, é muito rápido.” Mesmo assim, elogiou o trabalho das equipes de emergência: “Os bombeiros fizeram um ótimo trabalho ontem, contendo o fogo. Caso contrário, teria sido desastroso.” Kumar reforçou: “O governo brasileiro fez um bom trabalho. Eles assumiram o controle imediatamente após o incidente. 100 pontos para o Brasil”.

Os jornalistas de Gana Abirigo e Benedicta Abekah ( Fotos: Alberto César Araújo/ Amazônia Real).

O episódio, no entanto, motivou críticas à infraestrutura. A jornalista Benedicta Abekah, também de Gana, afirmou que a responsabilidade pelo incidente é compartilhada entre Brasil e ONU e apontou problemas estruturais: “Vi fios expostos. Esses fios deveriam estar em um tubo, para evitar qualquer problema. Acho que não foi uma boa ideia deixá-los assim”. (Colaborou Renata D’Elia)


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