O Greenpeace Brasil realizou sobrevoo no sul do Amazonas e no norte de Rondônia para monitorar o desmatamento e queimadas em julho de 2024. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace Brasil
Os municípios de Canutama, Humaitá, Lábrea e Manicoré, situados na área de influência da rodovia BR-319, concentraram 57% de toda a madeira extraída ilegalmente no estado do Amazonas, entre agosto de 2022 e julho de 2023. Foram 22.212 hectares (ha) de florestas exploradas de forma não autorizada ou sem a devida identificação de ilegalidade durante o período nesses quatro municípios, uma área equivalente a mais de 22 mil campos de futebol.
Os dados são do estudo “Monitoramento da degradação florestal no Interflúvio Madeira-Purus: análise da exploração madeireira”, produzido pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), organização que integra o Observatório BR-319. O foco do estudo foi a exploração madeireira, um dos principais agentes da degradação florestal na Amazônia, que resulta na perda de qualidade ambiental e/ou biodiversidade das florestas.
O levantamento analisou a área compreendida por 13 municípios do interflúvio Madeira-Purus, a partir de dados do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex) e da plataforma Timberflow, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), com aquisição e processamento digital de imagens de satélite executados no Google Earth Engine.
Conforme o mapeamento, entre agosto de 2022 e julho de 2023, um total de 50.037 ha de floresta foi explorado para extração de madeira no Amazonas. Destes, 36,8 mil ha (77%) foi explorado de forma ilegal, com os municípios de Lábrea, Manicoré e Boca do Acre liderando a exploração não autorizada.
Entre os municípios da área de influência da BR-319, Lábrea concentra 32% da extração ilegal de madeira de todo o Amazonas, o equivalente a 12.377,22 ha de floresta. Manicoré vem em segundo, com 7.239,31 ha (19%), seguido de Humaitá, com 1.387,37 ha explorados (4%) e Canutama, com 1.208,39 ha (3%).
“Os dados apresentados revelam que em todos os municípios mencionados, a extração ilegal de madeira é significativamente maior do que a extração legal. Isso indica um problema crítico de fiscalização e controle das atividades florestais no estado do Amazonas. Os dados apresentados reforçam a necessidade de políticas públicas mais eficazes para combater a extração ilegal de madeira. Isso inclui a intensificação das ações de fiscalização, a promoção de alternativas econômicas sustentáveis para as comunidades locais e o fortalecimento das leis ambientais. É importante ressaltar que a degradação florestal contribui para a liberação de carbono armazenado nas árvores, exacerbando as mudanças climáticas”, diz trecho da nota técnica.
O estudo também mostrou que a degradação florestal não atinge somente as Florestas Públicas Não Destinadas e propriedades privadas, mas também áreas protegidas como Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs). As TIs Jacareúba-Katawixi, Kaxarari e Tenharim-Marmelos, por exemplo, somaram cerca de 8.170 ha de degradação no período analisado. Os Parques Nacionais (Parnas) Mapinguari e Campos Amazônicos – unidades de conservação integral onde a exploração madeireira é ilegal – apresentaram 1.736 ha de área florestal degradada.
Segundo a publicação, as informações da extração madeireira em áreas protegidas demonstram “a influência direta das estradas e ramais, na facilitação de acesso às áreas e a movimentação de maquinários e pessoas para auxiliar o processo de corte, separação e transporte de madeira oriunda das áreas identificadas”.
“É um cenário preocupante, principalmente pela exploração em Unidades de Conservação de proteção integral como os Parques Nacionais, além da grande quantidade de degradação em terras indígenas, isso reflete a falta de fiscalização na região Amazônica, aliada a falta de transparência dos processos de licenciamento que corroboram para o aumento da ilegalidade no estado”, afirma um dos autores da nota, Heitor Pinheiro, especialista em geoprocessamento e analista do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam).
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Observatório BR-319
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