Por Cássio Cardoso Pereira, Geraldo Wilson Fernandes, Daniel Negreiros, Walisson Kenedy Siqueira, Stephannie Fernandes e Philip M. Fearnside
A necessidade de aumentar em muito o financiamento relacionado à biodiversidade, e a relação disto com os esforços relacionados à mudança climática, foram argumentadas em uma carta publicada em 27 de outubro na prestigiada revista científica Science, disponível aqui. Segue a tradução em português do texto original [1].
Embora a crise climática e a biodiversidade estejam interligadas, existe atualmente uma grande disparidade entre os recursos destinados à mitigação das mudanças climáticas e os destinados à conservação da biodiversidade. Os países da União Europeia gastaram mais de 220 bilhões de euros nas alterações climáticas nos últimos oito anos, o que excede largamente o montante total gasto na biodiversidade pela comunidade internacional, estimado entre 4 e 10 bilhões de dólares por ano [2, 3].
O Fundo Ambiental Global (GEF) é a principal entidade financeira que recebe e distribui verbas para ajudar os países a cumprir as metas estabelecidas pelas convenções da ONU. Durante a Assembleia do GEF de 2023, o Canadá anunciou um investimento de 200 milhões de dólares canadenses e o Reino Unido de 10 milhões de libras para o novo Fundo Quadro Global para a Biodiversidade (GBFF), que foi criado para aumentar o investimento na restauração e renovação da natureza [4]. O novo fundo é apoiado por 186 países e promete mobilizar recursos novos e adicionais de fontes públicas, privadas e filantrópicas, com foco na biodiversidade e na sustentabilidade dos ecossistemas [4].
Nas vésperas da COP16 da Convenção sobre a Biodiversidade, este é um sinal positivo para a implementação do Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal e para o cumprimento dos objetivos globais a serem alcançados até 2030 para salvaguardar a biodiversidade. Para reconhecer verdadeiramente as ameaças interligadas colocadas pelas crises da biodiversidade e do clima, as discussões sobre a atribuição de recursos devem ter lugar durante as próximas reuniões da COP. Isto é imperativo para garantir uma distribuição equilibrada dos recursos económicos entre estas duas questões críticas, refletindo a sua importância e impacto comparáveis na humanidade.
A imagem que ilustra este artigo é de autoria de Marcos Amend, foi cedida para a Amazônia Real, e mostra uma grande área de queimada nas proximidades da rodovia BR-319, no Amazonas.
Notas
[1] Pereira, C.C., G.W. Fernandes, D. Negreiros, W. Kenedy-Siqueira, S. Fernandes & P.M. Fearnside 2023. Hope for funding biodiversity efforts. Science 382: 383-384.
[2]. Barbier, E.B., Burgess, J.C. & Dean, T.J. 2018. How to pay for saving biodiversity. Science 360 : 486–488.
[3] Pettorelli, N., N.A.J. Graham, N. Seddon, M.M.C. Bustamante, M.J. Lowton, W.J. Sutherland, H.J. Koldewey, H.C. Prentice & J. Barlow. 2021. Time to integrate global climate change and biodiversity science-policy agendas. Journal of Applied Ecology 58(11): 2384–2393.
[4] GEF (Global Environment Facility) 2023. New global biodiversity fund launched in Vancouver. GEF, 24 de agosto de 2023.
Sobre os autores
Cássio Cardoso Pereira é doutorando em ecologia, conservação e manejo da vida silvestre na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É mestre em ecologia pela Universidade Federal de São João del-Rei e graduado em Ciências Biológicas (Ênfase em Conservação da Biodiversidade) pela Universidade Federal de Viçosa. Atualmente é editor de área das revistas científicas Biotropica, Nature Conservation, e Neotropical Biology and Conservation. Para mais informações, acesse: https://cassiocardosopereira.com
Geraldo Wilson Fernandes é professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em Belo Horizonte, MG e integrante do Centro de Conhecimento sobre Biodiversidade-Brasil. Ele possui graduação em ciências biológicas pela UFMG e mestrado e doutorado em ecologia pela Northern Arizona University, E.U.A. Foi professor visitante na Stanford University, a University of Alberta e a Universidad de Sevilla. É pesquisador 1A do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências. Investiga o desaparecimento de abelhas e seu reflexo na polinização, produção de mel e própolis, e ele trabalha sobre vários temas na área de ecologia e meio ambiente.
Daniel Negreiros possui graduação em ciências biológicas e mestrado e doutorado em ecologia conservação e manejo da vida silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG. Atualmente é pesquisador associado com bolsa de pós-doutorado na mesma universidade no Departamento de Genética, Ecologia e Evolução, Ecologia Evolutiva & Biodiversidade. Trabalha principalmente nas vegetações de campo rupestre, cerrado e mata atlântica.
Walisson Kenedy Siqueira possui graduação e mestrado ciências biológicas pela Universidade Estadual de Montes Claros em doutor em ecologia, manejo e conservação da vida silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É integrante do Laboratório de Ecologia, Evolução e Biodiversidade da UFMG. Tem experiência na área ecologia de comunidades, interação inseto-planta e ecologia de sementes.
Stephannie Fernandes é aluna de doutorado na Florida International University, Miami, FL, E.U.A. As suas pesquisas estão na área de ecologia política, visando descobrir como os arranjos institucionais e as diferentes partes interessadas se relacionam com o desenvolvimento e a conservação dos recursos hídricos.
Philip Martin Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É pesquisador 1A de CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 750 publicações científicas e mais de 700 textos de divulgação de sua autoria que estão disponíveis aqui.
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