Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
A Amazônia, conhecida mundialmente por sua vasta biodiversidade e relevância ambiental, é também o lar de milhões de pessoas que vivem em comunidades isoladas e enfrentam desafios que vão além da preservação da floresta. A ausência de uma conectividade significativa, especialmente em áreas remotas, não apenas limita o acesso dessas populações a serviços básicos como saúde, educação e comunicação, mas também restringe oportunidades de desenvolvimento econômico e inclusão social. Nos últimos anos, projetos de conectividade vêm sendo implementados com o objetivo de mudar essa realidade, trazendo avanços tecnológicos que prometem transformar a vida dos povos da Amazônia.
Especialistas debateram sobre esse acesso dos povos amazônidas na programação do ‘Amazon On‘, evento que discute temas críticos para a conexão entre tecnologia e preservação ambiental, que iniciou nesta quarta-feira (18) em Manaus (AM).
De acordo com Marina Villela , da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a conectividade significativa é a possibilidade de todos desfrutarem uma experiência online segura, satisfatória, enriquecedora e produtiva, a um custo acessível. “A conectividade significativa permite que o usuário realmente seja incluído digitalmente, dessa maneira, ele pode ser inserido social e economicamente na sociedade”, disse.
No Brasil, o cenário atual de conectividade mostra uma desigualdade de acesso ao SMP, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Os dados apontam que a média brasileira é de 106 acesso a cada 100 habitantes, sendo que a região Norte a média de 94 acessos a cada 100 habitantes. “O Amazonas, por exemplo, possui a menor cobertura da tecnologia 4G. Dos 62 municípios, apenas 24 dispõem do backhaul [responsável por fazer a ligação entre o núcleo da rede e as sub-redes periféricas] de fibra óptica”, explicou Marina.
A Amazônia ocupa mais de 6 milhões de quilômetros quadrados e abriga cerca de 28 milhões de pessoas, incluindo comunidades ribeirinhas, indígenas e povos tradicionais que, historicamente, foram deixados à margem do progresso digital. Em muitas dessas áreas, a infraestrutura de telecomunicações é quase inexistente ou precária. A instalação de redes de fibra óptica, comum em áreas urbanas, enfrenta grandes desafios na região amazônica devido ao difícil acesso, à presença de rios e florestas densas, além das longas distâncias entre comunidades.
Essa falta de conectividade não é apenas uma questão tecnológica, mas também um problema social. Sem acesso à internet, as comunidades locais ficam excluídas das oportunidades educacionais, serviços de saúde digitalizados, comércio online e das ferramentas necessárias para empreender e se integrar à economia global. Além disso, a ausência de comunicação dificulta o envolvimento político e a mobilização social dessas populações, que muitas vezes ficam invisíveis aos olhos do resto do país e do mundo.
“O maior empecilho de conexão na Amazônia é a geografia. Será necessário muito tempo e investimento, e claro, políticas públicas para mudar essa realidade. Os custos de implantar conexão de internet em comunidades ribeirinhas são altos. Porém, o governo tem lançado muitos projetos favorecendo que a conectividade chegue cada vez mais longe, cada vez mais dentro da Amazônia”, afirmou Marina.
Em abril deste ano, o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) lançou o livro ‘Conectividade Significativa: propostas para medição e o retrato da população no Brasil’. Na obra, os pesquisadores mostram alguns indicadores sobre o acesso de mais qualidade à conexão no Brasil. Com base em indicadores de conectividade significativa, o livro mostra que 57% dos usuários de internet com 10 anos ou mais têm um acesso de baixa qualidade à rede.
A obra trabalha com nove variáveis (custo da conexão domiciliar; plano de celular; dispositivos per capita; computador no domicílio; uso diversificado de dispositivos; tipo de conexão domiciliar; velocidade da conexão domiciliar; frequência de uso da internet; e locais de uso diversificado). A partir desses indicadores, os usuários recebem notas (score) de 0 (ausência de todas as características aferidas) a 9 (presença de todas).
Segundo o levantamento, um terço dos usuários de internet no País (33%) tem uma nota de até 2 pontos, o que índica níveis baixíssimos de conectividade significativa. O grupo com score 3 e 4 representa 24% da amostra. Desse modo, somando os dois grupos, mais da metade dos brasileiros (57%) estão em situação de baixa conectividade.
O estudo ainda aponta que apenas 22% das pessoas com acesso à rede têm condições de fazer uso da internet com qualidade (notas de 7 a 9). Outros 20% ficam em uma zona intermediária (scores 5 e 6).
“Infelizmente, alguns estados aqui da Amazônia são mais penalizados na questão do acesso de qualidade. É necessário estimular políticas de infraestrutura que consigam chegar nos territórios que ainda estão desabastecidos. Além de contar com os pequenos provedores que estão lá e estão conseguindo fazer essa distribuição”, disse a coordenadora de métodos quatitativos e estudos setoriais da NIC.br, Graziela Castelo.
O ‘Painel 5 – (Sessão especial) Conectividade significativa para os povos da Amazônia’ contou com a mediação de Tanara Lauschner e a participação dos convidados:
- Conselheiro Diretor Vicente Aquino – Representante ANATEL
- Graziela Castello – Coordenadora de Estudos Setoriais e Métodos Qualitativos do Cetic/NIC.br
- Janyel Leite – Líder do Conselho da ABRINT
- Adauto Cândido Soares – Coordenador de Comunicação e Informação da UNESCO
Para mais detalhes, acesse AQUI.
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